Como é o smartphone da marca chinesa Huawei que promete desbancar o iPhone
A consultoria canadense TechInsights, referência para produtos de consumo de alta tecnologia, desmontou o novo celular da Huawei e concluiu que ele vai provocar um “boom” de vendas – e firmar a empresa no topo do mercado chinês deste ano, deixando para trás Apple, Honor e Vivo.
O correspondente da Folha de S.Paulo está testando o aparelho no dia a dia, como usuário comum. Após cinco horas na loja central da Huawei em Pequim, um dia depois do lançamento em 18 de abril, vem usando um modelo Pura 70 Pro com 1 TB de memória interna, que era o que havia disponível àquela altura.
O aparelho anterior era um velho Huawei P30 adquirido em São Paulo no início da pandemia, ainda com Android. Entre outras restrições à empresa chinesa ao longo dos últimos anos, o governo americano proibiu o acesso ao sistema operacional desenvolvido pelo Google.
O novo celular usa o HarmonyOS, sistema desenvolvido pela própria Huawei e cujo aprimoramento é sua meta principal para 2024, anunciada pelo CEO Eric Xu junto com o lançamento. Ele conclamou os desenvolvedores chineses a alcançar, junto com a empresa, os 5.000 aplicativos básicos até o final do ano.
“No mercado chinês, os usuários gastam 99% de seu tempo em cerca de 5.000 aplicativos, então nós vamos ocupar o ano aportando esses aplicativos no HarmonyOS, para unificar o ecossistema”, disse ele, acrescentando que mais de 4.000 já estavam no processo de mudança.
Alguns mais simbólicos entraram no ar, como o da rede de fast food KFC, em beta. Reúne encomenda, localização de lojas e pagamento digital, entre outras funções. O McDonald’s também anunciou o seu e deve disponibilizar antes da conferência anual de desenvolvedores da Huawei, em junho.
Mas a empresa precisa antes de mais nada convencer as chinesas Tencent e ByteDance, cujos aplicativos WeChat e Douyin só estão na linha Pura 70 porque esta ainda aceita aplicativos desenvolvidos para Android. Para os usuários dos dois apps, no momento, isso não faz diferença.
No fim do ano será lançada a linha Mate 70, atualização daquela que assombrou o mundo oito meses atrás, a partir do Mate 60 Pro. Deve usar o HarmonyOS NEXT, nova versão, sem os aplicativos de Android.
Até lá a Huawei terá que dobrar Tencent e ByteDane, o que não é fácil dada a competição feroz, estimulada pelo estado, entre as gigantes chinesas.
Os recursos mais chamativos da linha Pura 70 são voltados à fotografia, como já acontecia na linha P, que ela substituiu. Um deles, especialmente útil para não profissionais, permite estabilizar imagens tremidas, tiradas de objetos em movimento de até 300 quilômetros por hora ou com o próprio celular se mexendo.
Outro elimina parte da imagem, uma pessoa, por exemplo. Acabou sendo o mais controverso, não por desaparecer com indivíduos, mas porque em poucos dias se espalharam por mídia social vídeos mostrando como o recurso permitia aos usuários tirar a roupa de mulheres.
É uma ferramenta de inteligência artificial que preenche o trecho apagado, no caso, completando o que haveria por trás da roupa removida. Um porta-voz da Huawei afirmou ao Dahe Bao, jornal de Zhengzhou, que a falha no algoritmo está sendo corrigida e vai chegar logo.
Os dois recursos para edição de fotografia são exemplos do que a linha Pura 70 oferece de IA. Tem também comando de voz e tradução da página online para diversas línguas, inclusive português, além de eventuais documentos fotografados.
No caso de aplicativos supostamente inacessíveis na China, como WhatsApp e Instagram, ambos ligados ao Facebook, eles são facilmente instalados, mas exigem a assinatura de uma VPN (sigla em inglês para rede virtual privada), para o uso regular. O custo mensal é de cerca de US$ 15 ou R$ 76.
A desmontagem da TechInsights se aprofunda nas características técnicas do Pura 70, como o chip Kirin 9010, dado como “um pouco melhor” do que o Kirin 9000s, do Mate 60. Também a tecnologia de satélite, que permite agora não só ligações e mensagens escritas, mas fotos e vídeos enviados de onde quer que o usuário esteja, na Terra.
Uma outra consultoria, esta americana, Canalys, concluiu que a Huawei já voltou ao topo do mercado chinês neste início de 2024, antes mesmo do Pura 70, graças aos celulares dobráveis – que a Apple não tem, assim como ficou para trás em IA. O iPhone, segundo a Canalys, teria caído para o quinto lugar na China.
POR NELSON DE SÁ