Como Arena Corinthians superou até estádio do Real para receber jogo da NFL
O estádio do Corinthians superou uma forte concorrência para ser escolhido como palco de um jogo internacional da próxima temporada da NFL, em setembro -o duelo entre Philadelphia Eagles e Green Bay Packers. O UOL conversou com duas pessoas que estiveram envolvidas nos bastidores desse processo.
A ESCOLHA DA ‘CASA’ EM SÃO PAULO
A Neo Química Arena precisou primeiro passar por um crivo com outros estádios paulistanos para ser a representante da candidatura de São Paulo. Assim como o MorumBIS, do São Paulo, e o Allianz Parque, do Palmeiras, a arena foi submetida a uma vistoria pela organização norte-americana. Os três locais atendiam às exigências mínimas de capacidade.
A casa corintiana agradou pela infraestrutura e foi escolhida pela NFL para ser a representante da capital paulista. Inaugurada há quase dez anos, em 2014, a arena foi sede do jogo de abertura da Copa do Mundo no Brasil e já recebeu diversos eventos ao longo da década.
Pesou na decisão não só a área construída do estádio, como também o entorno e a proximidade do metrô. A estação Corinthians-Itaquera fica a menos de um quilômetro das entradas do estádio. Além disso, a operação de logística e de segurança em dias de jogos, principalmente nos clássicos paulistas, teve influência no “pacote”.
“A NFL visitou outros estádios, o do Corinthians é o que tem o maior tamanho de campo, estrutura de estádio, entorno, área disponível para ativações. Atendia aos requisitos. O pessoal da Arena foi para Inglaterra e Alemanha ao longo do processo, demonstrou que o estádio podia receber jogos da Copa do Mundo, grandes eventos, jogos do Corinthians. Esse conjunto de fatores passou confiança para a Liga”, disse Pedro Monteiro, CEO da Effect Sport, agência de marketing da NFL no Brasil.
“A NFL fez vistoria no Allianz, Morumbi e Neo Química Arena. Acompanhamos todas as visitas. Não significa que o Allianz e o Morumbi não tenham condições, em momento algum isso foi sinalizado, só que a Neo Química Arena foi o estádio que a NFL escolheu. O poder público não tinha preferência. Nós tivemos reuniões sobre segurança, acesso e logística. A Neo Química tem metrô perto, algo raríssimo”, disse Gustavo Pires, presidente da SPTuris.
DISPUTA DE CANDIDATURAS
Depois, veio a concorrência fora de São Paulo diante de Rio de Janeiro, Madri e Barcelona. Como as candidaturas não são feitas por país, e sim por cidade, o Brasil tinha dois possíveis destinos para a partida, mas também competia com uma dobradinha pesada da Espanha.
Foram mais de sete meses de reuniões para convencer a cúpula da NFL que a capital paulista, e consequentemente a Arena Corinthians, deveria sediar o jogo internacional em 2024. A “defesa” da candidatura foi feita em Londres no início de outubro, e no final de novembro as conversas avançaram para a discussão dos termos de contrato. No entanto, o martelo ainda não havia sido batido, já que tudo dependia da aprovação do comissário da Liga e dos 32 donos das franquias.
O anúncio veio na segunda semana de dezembro, em Dallas, nos EUA, e terminou em “pizza” à paulistana -a delegação de São Paulo já viajou com o acordo assinado. Com isso, a capital paulista será o primeiro palco de uma partida da NFL no Hemisfério Sul.
A disputa contra a Espanha e o famoso Santiago Bernabéu chegaram a dar “frio na barriga”, mas o Brasil acabou levando a melhor. A decisão foi mais um movimento de aproximação da liga norte-americana com o seu segundo maior mercado internacional -que fica atrás apenas do México. A NFL também acenou com os espanhóis, e o estádio do Real ficou de receber um jogo no ano que vem.
“Eu achava que poderia ser qualquer uma das quatro cidades, porque davam condições. O novo Bernabéu deu um friozinho na barriga, não tem como (risos). O que acho que foi um diferencial para a gente são os mega eventos. Marcas grandes como a F1, artistas como Taylor Swift, festivais… Se quer ir para América do Sul, é natural que o 1º lugar seja São Paulo. Maior rede hoteleira da América Latina, quase 12 milhões de pessoas só na cidade, três dos aeroportos mais movimentados do país… Além de que, dos 38 milhões de fãs da NFL no Brasil, quase 30% são daqui”, disse Gustavo Pires, presidente da SPTuris
“A decisão mostra que a NFL está de verdade buscando essa expansão. A Espanha é diferente, mas a Liga já tem jogos na Inglaterra e na Alemanha, não é tão distante, é outro país europeu. O Brasil era um passo muito mais assertivo, em outro continente, 1ª vez na América do Sul. A Liga se sentiu muito segura. Se São Paulo não tivesse demonstrado capacidade para investir e trazer o jogo, com histórico de eventos e cobrando um ingresso que não é barato, a Liga não viria”, disse Pedro Monteiro, CEO da Effect Sport
POR ANDRÉ MARTINS