Maior eleição da história é marcada por polarização e embates
Em uma das eleições mais polarizadas e turbulentas já realizadas no País, 156,4 milhões de eleitores estão aptos para escolher nas urnas, neste domingo, 2 de outubro, seus representantes no Senado Federal, Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e distrital, governos estaduais e presidência da República.
O número recorde de pessoas aptas a votar, um contingente de 9,1 milhões a mais se comparado a 2018, quando eram 147,3 milhões de eleitores inscritos na Justiça Eleitoral, torna essa eleição a maior da história do Brasil. Como em pleitos anteriores, as mulheres representam a maioria do eleitorado, totalizando 53%. O aumento do eleitorado foi particularmente expressivo nas faixas etárias nas quais o voto é facultativo, jovens entre 16 e 17 anos e idosos acima dos 70 anos. Cerca de 2,1 milhão de jovens nessa faixa etária garantiram o direito de ir às urnas, enquanto na faixa dos idosos, o total de eleitores chega a 14,8 milhões.
Uma novidade nas eleições deste ano é a uniformização do horário de votação em todo o País, por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As seções eleitorais serão abertas às 8h e os trabalhos serão encerrados às 17h, no horário de Brasília.
Com o horário unificado, seções eleitorais de Rondônia, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul e de Roraima, por conta do fuso horário, abriram neste domingo uma hora antes, às 7h, no horário local. Boa parte das seções do Amazonas também iniciou a votação às 7h, mas como algumas localidades seguem o fuso horário do Acre, as seções abriram às 6h. Em Fernando de Noronha (PE), a votação será iniciada às 9h do horário local, a fim de coincidir com o horário de Brasília. A divulgação dos resultados será iniciada às 17h.
Na maior eleição já realizada no País, a lisura do processo eleitoral brasileiro e a segurança das urnas eletrônicas foram colocadas em xeque, sem provas, pelo atual mandatário e candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro. Nos confrontos com seu maior oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto e, matematicamente tem a probabilidade de conquistar o Palácio do Planalto neste primeiro turno, o presidente da República diz que se não for reeleito, é porque tem algo errado com as urnas.
Com esse discurso contra um sistema que o colocou no Palácio do Planalto em 2018, Bolsonaro levantou muitos questionamentos sobre a maneira como vai receber o resultado das urnas. Ele já disse que passará a faixa presidencial ao sucessor, se não for eleito, mas sempre que tem uma brecha, discursa em tom contrário ao que prega a democracia.
“Estamos vivendo uma das eleições mais disputadas e violentas da história, já tivemos assassinatos e tentativas, agressões em locais públicos, por questões partidárias, e tudo isso está criando um clima de mal estar enorme e evitando a expressão do maior legado da democracia, que é a discussão das percepções e a busca para a tomada de decisões publicamente.
É um momento difícil para a sociedade brasileira”, avalia o cientista político e professor da FGV-SP Marco Antonio Carvalho Teixeira, em entrevista ao Broadcast Político. Com toda essa polarização, com foco na corrida presidencial, ele lamenta a falta de discussão para as eleições que irão definir a composição do poder legislativo no País. “A agenda do executivo tomou conta”, destacou.
Sobre as eleições para o legislativo, Carvalho Teixeira não aposta que o PL, partido do presidente Bolsonaro, irá fazer uma grande bancada no Congresso Nacional, como prevê alguns analistas. Segundo ele, em 2018 o presidente puxou uma grande bancada na esteira de sua então popularidade e no discurso do “candidato antissistema”, que o alçou ao Palácio do Planalto. Em contrapartida, nessas eleições o mandatário vive um grande desgaste, incluindo a perda de antigos aliados. Outra incógnita sobre o pleito legislativo passa pela novidade das federações, que aproximou legendas com afinidades.
Com relação às eleições para os governos estaduais, o professor da FGV-SP diz que elas podem trazer algumas surpresas, pela competitividade e força dos padrinhos políticos. E em alguns Estados, a disputa segue dividida basicamente entre apoiadores do atual presidente e de Lula, os dois presidenciáveis que polarizam a atual corrida ao Palácio do Planalto. Com este cenário, Carvalho Teixeira destaca que só o abrir das urnas vai mostrar quais colorações estarão em pauta no novo desenho político do País, tanto nos cargos majoritários quanto no poder legislativo.
Segurança. A preocupação com o clima de tensão, violência, embates e questionamentos que tomou conta dessas eleições levou o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, a fazer um apelo para que todos votem com “paz, segurança, harmonia, respeito, liberdade, consciência e responsabilidade”.
Em suas redes sociais, o ministro pediu que, juntos, todas as brasileiras e brasileiros celebrem a grande festa da democracia, ou seja, as eleições gerais de 2022. A mesma preocupação fez com que a segurança dessas eleições fosse reforçada, com drones e com a participação maior das Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Abin e um contingente de quase 200 mil policiais. O Estado que vai contar com o maior contingente é o Rio de Janeiro, onde as Forças Armadas devem estar presentes em 167 localidades de várias zonas eleitorais.
Exterior. O crescimento do eleitorado também se fez presente no exterior. Nessas eleições, 697 mil brasileiros residentes fora do País estão aptos a votar, um contingente de quase 40% a mais do que nas eleições gerais de 2018. No exterior, pode-se votar apenas para presidente da República.
O Tribunal Superior Eleitoral autorizou para as eleições 2022, a pedido do Ministério das Relações Exteriores, postos de votação fora da sede das embaixadas e repartições consulares em 21 países e em mais de 180 cidades estrangeiras. Lisboa é a cidade com maior quantidade de eleitores brasileiros: 45,2 mil. Miami e Boston, cidades norte-americanas, contam com 40,1 mil e 37,1 mil eleitores, respectivamente. Nagoia, no Japão, tem 35,6 mil e Londres, na Inglaterra, 34,4 mil. Como no Brasil, as mulheres também são maioria do eleitorado no exterior, totalizando 58,54%
Votação. O número de seções eleitorais também cresceu, passando de 454.499 em 2018 para 496.512 neste ano, mais de 42 mil novos locais de votação. As urnas eletrônicas foram ligadas às 7h, pelo horário de Brasília, em cada uma das 496,5 mil seções eleitorais espalhadas pelos 5.570 municípios do País.
Pela unificação do horário, no Acre as urnas foram ligadas às 5h, pois a votação começou às 6h e segue até 15h (17h horário de Brasília). A ordem de votação neste 2 de outubro é a seguinte: deputado federal, com quatro dígitos, deputado estadual ou distrital, com cinco dígitos, senador, com três dígitos, governador e presidente, ambos com dois dígitos. O eleitor pode levar uma cola com o número de seus candidatos, só não pode entrar com celular na cabine de votação.
Armas. Nessas eleições, o TSE endureceu as regras com o porte de armas. Com base nisso, está proibido que pessoas portando armas de fogo – sejam elas civis, mesmo que tenham porte de arma, ou integrantes das forças de segurança que não estejam em serviço junto à Justiça Eleitoral – se aproximem a menos de 100 metros das seções de votação.
A exceção é apenas para agentes de segurança, que em atividade geral de policiamento no dia das eleições, forem votar. Também estão proibidos o transporte e a posse de armas pelos Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) na véspera, no dia e no pós-eleição.
Com um cenário polarizado, o clima de tensão no ar e a indefinição se a corrida presidencial terminará ou não neste domingo, os eleitores brasileiros vão às urnas sem saber quais forças políticas estarão comandando o destino do nosso País pelos próximos quatro anos.
Essa é uma eleição que tem fatos inusitados também, como por exemplo, a primeira no período pós-redemocratização do País na qual um mandatário que concorre à reeleição ao Palácio do Planalto não está na liderança das pesquisas de intenção de voto e tem a probabilidade de perder o pleito, inclusive no primeiro turno. Mesmo com várias incógnitas, uma coisa é certa, na avaliação de analistas e cientistas políticos: independentemente do resultado das urnas, o Brasil deve continuar polarizado entre esquerda e direita, centrado nas lideranças que dominaram a corrida presidencial até este momento: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).