Leite apresenta alta e o litro já custa mais que a gasolina em Marília
Comprar leite em Marília está mais caro do que abastecer o veículo com gasolina. O preço do litro do produto, indispensável em muitos lares, já é maior que o do combustível que abastece o maior número de veículos na cidade.
Com ausência das chuvas, o custo da produção do leite encarece e fica mais difícil para as famílias adquirirem o laticínio. A tendência de alta do leite chega em um momento de queda no preço dos combustíveis.
De acordo com os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço do leite captado em maio deste ano e pago aos produtores em junho, registrou aumento de 5,3% frente ao mês anterior, chegando a R$ 2,6801/litro na média Brasil. Esta é a quinta alta mensal consecutiva, de modo que – desde janeiro – o leite no campo acumula valorização real de 20,6% (valores deflacionados pelo IPCA de maio/22).
Os preços do leite no campo seguem em alta, devido à menor produção. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume do leite cru industrializado pelos laticínios brasileiros diminuiu 10,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2021. Com isso, as indústrias seguem em disputa pela compra do produto, matéria-prima para a confecção de lácteos.
A gerente Juliana Fidélis contou que levou um susto ao ir até o mercado na tarde desta segunda (11). Ela compra leite praticamente toda a semana, e viu um aumento expressivo em pouquíssimo tempo. A consumidora afirma que até pensou que estava vendo errado, mas o preço era aquele mesmo.
“Na semana passada, eu paguei R$ 5,89 e hoje levei um susto. O mesmo leite que não é nem de caixinha. Compro o de saquinho, tipo A, que hoje estava custando R$ 6,45. Eu compro praticamente toda a semana para o consumo da família em casa. Também costumo fazer iogurte, mas me assustei com o aumento de uma semana para a outra. Fiquei em dúvida se era mesmo aquele preço”, conta a gerente.
A reportagem do Marília Notícia apurou que o litro do leite varia de acordo com a marca. O mais barato, desnatado de caixinha, foi encontrado por R$ 5,98. Já o litro do leite de saquinho, pasteurizado e integral, está sendo vendido por R$ 6,45. Enquanto isso, o preço da gasolina – desde a redução do ICMS – é encontrado em Marília entre R$ 5,56 e R$ 5,95.
Segundo o Cepea, a restrição de oferta do leite – e, consequentemente, dos lácteos – é explicada pela entressafra da produção. Com o inverno e clima mais seco, a qualidade e disponibilidade das pastagens cai e, por isso, a alimentação do rebanho é afetada, levando à queda na produção. E é preciso destacar que, neste ano, o fenômeno climático La Ninã também intensificou os efeitos sazonais de diminuição da oferta.
Ainda que o componente climático seja importante para explicar este cenário, não seria exagero dizer que o principal fator que explica essa alta substancial dos preços é, de fato, o aumento dos custos de produção. Segundo pesquisas do Cepea, o Custo Operacional Efetivo (COE) da atividade esteve em alta nos últimos três anos – de janeiro de 2019 a maio de 2022. O avanço foi de 56%.
A estrutura de produção encareceu nos últimos anos, espremendo as margens dos produtores. Diante desse cenário, muitos pecuaristas enxugaram investimentos ou saíram da atividade. Para assegurar alguma rentabilidade, produtores também recorreram ao abate de animais, atraídos pelos elevados preços da arroba. De acordo com dados do IBGE, o número de vacas e novilhas abatidas no primeiro trimestre de 2022 aumentou 11,4% e 17,2%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.
Levando em conta que a produção de leite é uma atividade de ciclo operacional longo, pode-se dizer, portanto, que esse cenário observado atualmente é resultado de um longo período de aumentos consistentes nas cotações dos insumos agropecuários, que corroeu margens de produtores e de laticínios por muitos meses.
De acordo com a pesquisa do Cepea/OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), na negociação entre laticínios e canais de distribuição do Estado de São Paulo, os preços médios mensais do leite UHT e da muçarela avançaram quase que 18% de maio para junho.