PSDB e MDB dividem palanques com Lula ou Bolsonaro
O MDB de Simone está com o PT de Lula em Alagoas, Ceará, Paraíba, Pará, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e Amazonas. Emedebistas se aliaram a pré-candidatos ligados ao presidente em Roraima, Acre, Rio, Paraná e Distrito Federal.
Embora nenhum pré-candidato tucano declare apoio a Lula, o PSDB está no mesmo grupo do PT ou caminha para isso em Alagoas, Maranhão, Pará e Rio. Em Mato Grosso do Sul, terra de Simone, o candidato do PSDB, Eduardo Riedel, disse estar “fechado com Bolsonaro”. Os tucanos ainda apoiam pré-candidatos bolsonaristas no Acre e em Santa Catarina.
Fazer parte do mesmo grupo político nos Estados não significa que os diretórios do PSDB e do MDB apoiam o atual ou o ex-presidente formalmente, mas dificulta a penetração regional da chapa Simone-Tasso. A mais recente pesquisa nacional FSB/BTG aponta que a senadora tem 2% das intenções de voto, atrás de Ciro Gomes (PDT), com 9%, Bolsonaro, com 32%, e Lula, com 44%.
De acordo com o analista político Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral, a demora da chamada terceira via em definir uma chapa para o Planalto antecipou um movimento de voto útil nos quadros das próprias legendas. “De um lado, levou a uma definição precoce de boa parte do eleitorado entre Lula e Bolsonaro”, afirmou. “De outro, (a demora) precipitou um movimento da própria classe política em se posicionar entre esses dois polos, principalmente nos Estados.”
Novidade
O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, afirmou que “Simone vai crescer e será a grande novidade da eleição”. Segundo ele, as alianças nos Estados não têm relação com a eleição presidencial. “Essa não é a realidade do partido. Estão confundindo alianças regionais com apoio para presidente. Só ajuda e alimenta essa polarização que atrapalha a população brasileira.”
Adversário tradicional do PT, o PSDB estará com a sigla nos palanques de Helder Barbalho (MDB) no Pará e de Carlos Brandão (PSB) no Maranhão. Tucanos ainda negociam apoio a lulistas no Rio, com Marcelo Freixo (PSB), e em Alagoas, com Paulo Dantas (MDB).
Freixo confirmou ter convidado o ex-prefeito do Rio César Maia (PSDB) para ser seu vice. Presidente da sigla no Rio, Rodrigo Maia, filho de César, já foi adversário do PT e se aproximou de Lula no último ano.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), aliado da família Maia, não rejeita aproximação com Lula, mas quer os tucanos com Felipe Santa Cruz (PSD), seu pré-candidato a governador. Ainda que estejam avançadas as negociações, Paes disse acreditar que Santa Cruz pode ter o PSDB. “Convenção é só em julho. Especulações são normais”, disse. Ele se reúne com Lula na próxima semana.
Para o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, as desconexões entre as eleições para governador e presidente não são inéditas. “A leitura não é tão simples. As realidades locais são mais poderosas do que alianças nacionais, e respeito os fatos. Não é exclusividade desse pleito, muito menos do PSDB”, disse o dirigente. “Infelizmente, até atingirmos uma maturidade do nosso sistema político-partidário, vamos continuar assistindo a desconexões.”
Já em Alagoas, o PSDB caminhava para apoiar a pré-candidatura a governador do senador Rodrigo Cunha (União Brasil), que saiu da legenda em abril. A ideia era que a deputada estadual Jó Pereira (PSDB), prima do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), fosse a candidata a vice. Apesar disso, uma articulação do senador Renan Calheiros (MDB-AL), rival de Lira e apoiador de Lula, pode levar os tucanos alagoanos para o mesmo palanque do PT no Estado.
Traição
“O cara traiu o PSDB. Esse Rodrigo Cunha desfez o partido no Estado: foi para o União Brasil por dinheiro e filiou a prima do Arthur Lira ao PSDB para levar o tempo de televisão. Isso deixou o PSDB muito mal”, disse Renan. Cunha respondeu via redes sociais. “Os Calheiros estão incomodados com o time que estamos formando para destroná-los do poder em Alagoas.”
Liderada pelo deputado Pedro Vilela, presidente do PSDB-AL, a legenda foi convidada para compor chapa com o pré-candidato do MDB, Paulo Dantas, o que segue em aberto.
De acordo com a direção nacional do MDB, a pré-candidatura de Simone tem o apoio de 22 diretórios da legenda. Em Estados como Pernambuco, Pará e Piauí há a defesa do nome dela mesmo que, localmente, o partido opte por apoiar postulantes lulistas a governador. Em Roraima, o PL de Bolsonaro vai indicar o deputado Édio Lopes para vice de Teresa Surita (MDB).
“Meu entendimento com o MDB é que o palanque será pró-Bolsonaro aqui”, disse Lopes. Ainda assim, Romero Jucá, presidente do MDB no Estado, afirma que o diretório está com Simone Tebet.
No Acre, o MDB lançou a deputada bolsonarista Mara Rocha para o governo. Os emedebistas também apoiam a reeleição de Ratinho Júnior (PSD) no Paraná e de Cláudio Castro (PL) no Rio de Janeiro, ambos aliados do presidente.
Tendência
“Há uma tendência clara de apoio do MDB a chapas de Lula no Nordeste, assim como vários diretórios do PSDB declararam estar ao lado de pré-candidatos bolsonaristas em Estados do Sul e do Centro-Oeste”, afirmou Bruno Carazza. “Isso fragiliza bastante Tebet, que entra na disputa tardiamente e com os palanques rachados em muitos Estados.”
Pré-candidato à reeleição no Pará, Helder, do MDB, tem o apoio do PSDB e do PT. Ainda que diga que estará com Simone, o governador também afirmou que não vai fechar seu palanque a Lula: “Temos outras agremiações que devem colaborar conosco e que têm opções nacionais distintas”.
Já o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), trabalha para que o PL de Bolsonaro seja seu aliado. A deputada Flávia Arruda (PL) deve disputar o Senado na mesma chapa. “É natural (abrir palanque para Simone e Bolsonaro) pelas composições que estamos fazendo em Brasília”, disse Ibaneis.
Em Santa Catarina, o senador Esperidião Amin (Progressistas) negocia o apoio do PSDB na disputa pelo governo. “Apoiamos Bolsonaro. Tenho posição já firmada e anunciada de acordo com meu partido”, afirmou o senador. Bolsonaro tem no Estado um palanque fragmentado: além de Amin, Jorginho Melo (PL) e Gean Loureiro (União Brasil) também tentam representá-lo.
Hoje, o MDB tem Antídio Lunelli, defensor de Bolsonaro, como pré-candidato a governador. Mas a legenda ainda negocia apoiar a reeleição do governador Carlos Moisés (Republicanos), que tem se mantido neutro na disputa presidencial.
No Ceará e no Amazonas, onde o MDB tem tendências lulistas, o palanque presidencial ainda está indefinido. Lula chegou a pedir diretamente para que o PT abrisse mão da pré-candidatura do ex-senador petista João Pedro ao governo amazonense. A ideia é que os petistas apoiem o senador Eduardo Braga (MDB-AM) para o governo, mas ainda não há acordo.
Presidente da sigla no Ceará, Eunício Oliveira já definiu que vai apoiar Lula, mas ainda não decidiu a qual cargo vai concorrer. O PT local também não definiu qual será seu caminho, e uma aliança com o PDT do presidenciável Ciro Gomes não está descartada.