Diretora da Anvisa diz que há pressão de líderes do Centrão
Prestes a deixar a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a médica e advogada Cristiane Jourdan disse que sofre pressões políticas para encerrar o seu mandato. Em entrevista ao blog Política e Saúde, de Mário Scheffer, e ao Estadão, Jourdan relatou que ações para pressioná-la partiram de outros diretores e de políticos ligados ao governo.
O mandato de Jourdan termina em 25 de julho. O advogado Daniel Pereira, nomeado na quarta-feira passada secretário executivo do Ministério da Saúde, já foi indicado para substituí-la. A diretora tenta prolongar o seu mandato. Diz que há “má-fé” e “outros interesses” em sua saída. Ela afirmou que pretende, inclusive, entrar na Justiça se for necessário.
“Fico assustada com as coisas que acontecem lá dentro (da Anvisa). Existe uma influência enorme das indústrias, uma influência enorme do Congresso”, disse ao blog.
Cristiane foi nomeada diretora para um mandato de um ano e sete meses. Era o tempo restante do mandato de Antonio Barra Torres, que ocupava a vaga e foi nomeado presidente do órgão. Ela questiona a decisão. Argumenta que seu mandato deveria ser de cinco anos. Esse é o padrão dos diretores. Discute administrativamente sua permanência.
Em fevereiro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), encaminhou ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, o ofício do senador Lucas Barreto (PSD) que, segundo Jourdan, “é amigo de um diretor da Anvisa”. O ofício, ainda segundo a médica, solicita que o pedido por mandato de cinco anos não seja acatado.
“Eu soube que quem decidiu o meu caso foi um grupo composto pelo general (Walter) Braga Netto, pelo general (Luiz Eduardo) Ramos, pelo Ciro Nogueira e pelo (Arthur) Lira”, disse.
VOTO VENCIDO
Segundo ela, há uma conspiração para afastá-la do cargo porque, mesmo quando é voto vencido, seus pareceres incomodam os outros diretores. Jourdan contou que o primeiro entrevero com a diretoria ocorreu em 2021, na aprovação da importação emergencial das vacinas Covaxin e Sputnik, contra a covid-19. Ela disse que, apesar das pressões, votou contra a aprovação porque não considerava os imunizantes seguros.
Jourdan é chefe da terceira diretoria da Anvisa, responsável pela gerência de tabaco, que, neste momento, analisa pedido para derrubar a proibição dos cigarros eletrônicos. Segundo ela, relatório da área técnica da Anvisa já demonstrou que não existe segurança. “Já fui procurada por gente da indústria e por alguns mediadores”, disse. “E a gente sabe que, internamente, talvez não queiram que eu apresente.”
Outro tema sensível é a proibição do agrotóxico carbendazim – proibido em diversos países, mas um dos mais usados no Brasil. A votação foi adiada porque dois diretores pediram vista.
Na tarde de ontem, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) pediu que o presidente da Anvisa seja ouvido em audiência pública na Câmara, com base nas denúncias da médica ao blog.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.