Prefeitura desmente informações sobre verba, mas vereador força CPI

Equipe da Prefeitura presta esclarecimentos na Câmara de Marília (Foto: Divulgação)
Vereadores de Marília preparam um pedido para abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Câmara Municipal, que visa investigar aspectos sobre a pandemia e as ações de combate à Covid-19 no município.
A decisão de solicitar a abertura do procedimento foi tomada na última na sexta-feira (23), em reunião dos integrantes da comissão especial de acompanhamento da Covid-19 no Legislativo mariliense.
O Marília Notícia apurou que a articulação do pedido é comandada pelo advogado Davi Yoshida, principal assessor do vereador Elio Ajeka (PP). Yoshida estaria negociando as assinaturas necessárias para instalação da CPI (é preciso cinco signatários).
O colegiado da comissão é presidido por Ajeka e composto também pelos parlamentares Ivan Negão (PSB) e Vânia Ramos (Republicanos). Os três foram eleitos na chapa que sustentava o ex-prefeito Abelardo Camarinha (Podemos) no último pleito municipal, mas logo no início de mandato deram sinais de que iriam apoiar o prefeito Daniel Alonso (PSDB). A suposta articulação, liderada pelo braço direito de Ajeka, coloca em cheque a fidelidade da base governista.
Uma das principais motivações para a CPI, segundo o apurado pelo Marília Notícia, era a falta de respostas a questionamentos feitos oficialmente à Secretaria de Saúde do município, fato que não se sustenta mais após apresentação da pasta nesta segunda-feira (26) na própria Câmara.

Relação de Ajeka e governo pode ficar estremecida (Foto: Will Rocha)
A gestão municipal entende que o momento é especialmente inoportuno para a CPI, já que seria necessário dividir as atenções entre a gestão de crise da rede pública de saúde, em colapso, com os prazos e procedimentos de uma eventual investigação parlamentar.
Hoje a pasta vive um apagão no fornecimento de informações sobre a saúde. A alegação é que todo o esforço e pessoal têm sido direcionado para a gestão da crise e consequente salvamento de vidas.
Há meses Marília está com lotação máxima de leitos exclusivos para pacientes com Covid-19. Nos últimos dias, a região se tornou aquela com maior índice de ocupação em todo o Estado.
Em contato com o Marília Notícia, a vereadora Vânia Ramos não quis comentar ou dar maiores detalhes do suposto pedido. A parlamentar informou que iria se manifestar a respeito em ‘momento oportuno’.
O site também tentou contato com Ajeka, Yoshida e Ivan Negão.
Para Ajeka, a reportagem questionou qual seria a nova motivação para uma CPI, tendo em vista que a Prefeitura prestou os esclarecimentos nesta segunda. Também foi perguntado como fica a sua relação com o governo de Daniel a partir de agora. Yoshida foi questionado no mesmo sentido.
Já Ivan foi interpelado pelo site se assinaria o pedido de CPI e também qual será sua relação com o governo a partir deste fato.
O Marília Notícia não obteve retorno de nenhum dos parlamentares ou suas assessorias. O espaço está aberto para manifestação.

Davi Yoshida, principal assessor do vereador Elio Ajeka, estaria negociando as assinaturas necessárias para instalação da CPI (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
RESPOSTAS
Em nota divulgada no início da tarde desta segunda-feira (26), a Prefeitura de Marília desmentiu o que chama de “fake news dos R$ 70 milhões, criada por alguns órgãos de imprensa da cidade, referindo-se ao suposto valor recebido pelo município para o combate à pandemia da Covid-19”.
A apresentação dos números corretos das verbas recebidas por Marília para o enfrentamento da pandemia ocorreu na Câmara Municipal, com as presenças do chefe de gabinete, Márcio Augusto Sposito; do assessor especial de governo, Alysson Alex Souza e Silva; e do secretário municipal da Saúde, Cássio Luiz Pinto Júnior.
Na ocasião também houve o protocolo das respostas dos questionamentos feito pela comissão de vereadores que trata do assunto.
A Câmara esteve representada pelo presidente Marcos Rezende (PSD) e pelos vereadores Vânia Ramos (integrante da comissão do Covid no Legislativo) e Junior Moraes (PL). Já o vereador Ivan Negão, também integrante da comissão, foi representado pelo seu chefe de gabinete, Renato Paulino. O vereador Elio Ajeka, outro que integra a comissão, não pôde comparecer.
Segundo a Prefeitura, Marília recebeu exatos R$ 43.302.142,33, ou seja, pouco mais de 60% do valor propagado em redes sociais e também por alguns órgãos de imprensa de oposição ao governo.
Ainda conforme explicação, os recursos foram provenientes dos governos federal (R$ 38.624.594,86) e estadual (R$ 4.603.547,47), além de R$ 74.000,00 do Poder Judiciário.

Cassinho fala na Câmara de Marília (Foto: Ramon Barbosa Franco/Divulgação)
O assessor especial de governo, Alysson Alex Souza e Silva, afirmou que a transparência sempre foi marco na gestão do prefeito Daniel Alonso. “Fizemos questão de dar esse esclarecimento porque R$ 70 milhões é mentira, não existe isso. Quem disse R$ 70 milhões está dizendo mentira. A verdade esta aí e a população pode ter certeza que a nossa gestão é transparente e temos avançado muito, sendo que o nosso Portal da Transparência está entre os melhores do Estado e do país”, afirmou Alyssion.
Já o secretário municipal da Saúde, Cássio Luiz Pinto Júnior, explicou o motivo dos questionamentos da comissão da covid na Câmara não terem sido respondidos dentro do prazo. “Quando recebemos esses questionamentos, a comissão nos deu apenas cinco dias de prazo para responder tudo. Não teríamos condições de responder nesse prazo, já que estamos atravessando um momento bastante crítico da pandemia e temos que priorizar o atendimento à nossa população. Isso foi feito e agora estamos aqui com todos os números, entregando à comissão, para que ela possa avaliar. Mesmo com todas as dificuldades, inclusive com déficit de 46% na mão de obra, Marília está em 158º lugar no ranking de vacinação, superando a média nacional. As nossas ações têm sido elogiadas pela população e isso nos motiva a continuar trabalhando com essa determinação, superando todas as dificuldades. Estamos sempre à disposição para prestar os esclarecimentos, mas não podemos ficar perdendo tempo com fake news. Precisamos continuar cuidando da população da melhor forma possível”, desabafou Cassinho, como é conhecido.
O secretário revelou que Marília está criando 18 novos leitos de suporte ao atendimento dos pacientes com sintomas respiratórios e que já realizou um total de 91.769 testes para Covid-19 entre RT-PCR (63.846), rápido (18.592) e sorológico (9.371).

Renato (assessor de Ivan Negão), Vânia Ramos e Marcos Rezende recebem documento da Prefeitura (Foto: Ramon Barbosa Franco/Divulgação)
Vânia Ramos afirmou que a comissão irá analisar os números apresentados pela Secretaria Municipal da Saúde. “A comissão da covid tem trabalhado bastante, visitando os locais de atendimento, conversando com médicos e enfermeiros. Agradecemos à presença dos representantes da Prefeitura que nos entregou as respostas dos questionamentos que havíamos feito e que serão analisados pela nossa comissão.”
O presidente da Câmara, Marcos Rezende, destacou o diálogo entre os poderes Legislativo e Executivo. “São poderes independentes sim, mas que dialogam em busca do melhor para a nossa população. O objetivo é o bem estar dos cidadãos de Marília e agradecemos a todos que aqui vieram prestar esses esclarecimentos. A Câmara continuará fiscalizando e apoiando os bons projetos em prol da nossa cidade.”