Torcidas organizadas reclamam de censura
Mesmo sem público nos estádios, a Polícia Militar e a CBF andam tendo trabalho nas arquibancadas durante os jogos do Campeonato Brasileiro. Recentemente as duas instituições agiram em nome da segurança dos torcedores que nem estavam lá. No clássico entre Corinthians e Palmeiras, na última quinta-feira, na Neo Química Arena, em São Paulo, duas bandeiras da Gaviões da Fiel foram retiradas antes do início da partida. Uma fazia alusão ao fato de o arquirrival não ter título mundial e a outra era uma brincadeira pela conquista do Campeonato Paulista de 2018 em cima do adversário.
“Bandeiras e faixas com mensagens provocativas, que podem trazer comprometimento para segurança pública, acirrando a rivalidade, pedimos para ser recolhida. Foi o primeiro jogo que tivemos que tomar essa atitude”, declarou Ricardo Xavier, tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo, responsável pela segurança nos estádios.
A Gaviões da Fiel se manifestou por meio de nota e entendeu que houve censura por parte da PM. Torcedores ouvidos pelo Estadão alegam que a Polícia Militar permite que a torcida do Palmeiras e do São Paulo coloquem faixas provocativas em seus estádios.
“Tivemos uma discussão com os policiais militares que entraram em nosso estádio pedindo para retirar as faixas que levamos para recordar nossos títulos, entre eles alguns que foram conquistados em cima do nosso rival e outros que eles nunca vão conseguir conquistar (os Mundiais de 2000 e 2012). Para os militares as faixas tratavam-se de uma apologia à violência. Ao fim da discussão e sob censura, imperou o abuso de poder, a ignorância e a covardia arbitrária e, infelizmente, tivemos que retirar os materiais que estavam nas arquibancadas”, informou a organizada por meio de nota.
O tenente-coronel negou que haja qualquer tipo de perseguição à torcida corintiana. “Temos diálogo com membros de todas as torcidas. Tudo o que for colocado para ambiente de festa, estamos apoiando. O que puder trazer prejuízo, vamos agir de forma preventiva”, disse. “Infelizmente vivemos no mundo da cultura da intolerância. Antigamente, uma brincadeira ficava só na brincadeira. Hoje uma provocação causa morte. O ato de violência não vai ocorrer necessariamente no estádio. Pode acontecer em terminais de ônibus, estações de metrô, na rua…”, acrescentou.
Na caso da torcida do Atlético-MG, a torcida Resistência Alvinegra entrou no estádio com uma bandeira com a imagem da deputada Marielle Franco, assassinada em 2018. E outra com a palavra “antifa”, em referência ao Movimento Antifascista. A CBF determinou a retirada das duas bandeiras com base em seu Regulamento Geral das Competições (RGC). “As competições nacionais oficiais do futebol brasileiro exigem de todos os intervenientes colaborar de forma a prevenir comportamentos antidesportivos, bem como violência, dopagem, corrupção, manifestações político-religiosas, racismo, xenofobia ou qualquer outra forma de discriminação”.
O estudante Artur Magalhães, membro da organizada atleticana, discorda da atitude da entidade. “Acreditamos que futebol e política sempre se misturaram e sempre vão se misturar. Fomos proibidos de colocar a faixa no Mineirão, logo o Mineirão que o nome do estádio homenageia um político, governador, que trabalhou ativamente no golpe de 64. Futebol é política, mas quando a manifestação é de caráter popular, ela é censurada, usando esse discurso de não se misturar”, disse.
Nos próximos jogos, Artur disse que vão retirar a palavra “antifa” da bandeira para poder colocá-la no estádio. “O artigo que alegaram fala sobre proibir manifestações racistas, xenofóbicas ou qualquer outra forma de discriminação. O movimento antifascista luta contra tudo isso”, encerrou.
A CBF e as federações de futebol estaduais são responsáveis pela autorização da fixação das bandeiras e faixas nos estádios de futebol. À Polícia Militar cabe a função de verificar se os adereços possuem alguma conotação que possa ameaçar a segurança pública.