‘Fui exonerado do cargo por criticar Olavo de Carvalho’, afirma diplomata
Como o senhor recebeu sua demissão?
Já estava esperando por isso. É normal num processo de mudança de governo e que se aproxima também de uma mudança de regime. No meu caso, foi um pouco humilhante, na medida em que fui simplesmente comunicado de que estava sendo exonerado por “mau comportamento”, por ter republicado no meu blog, a palestra do embaixador Rubens Ricupero no Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), em 25 de fevereiro, no Rio, e o artigo do ex-presidente Fernando Henrique, no Estado, no domingo, sobre a política externa do País.
Não era previsível que isso fosse acontecer, com a publicação dessas críticas à atual gestão do Itamaraty?
Isso foi levantado pelo chefe de gabinete que telefonou para me demitir. Eu disse que eram artigos publicados pela imprensa e que figuravam no próprio clipping do Itamaraty. Tudo o que publico no blog é público. Neste caso, convidei os leitores a iniciar um debate sobre a política externa com base nos três artigos. Mas esse não foi o motivo real da minha exoneração. O que foi um crime de lesa majestade foram as críticas anteriores que fiz ao Olavo de Carvalho, que é supostamente o patrono do Ernesto Araújo para o comando Itamaraty. Eu o chamei de “sofista da Virgínia” (em referência ao Estado da Virgínia nos EUA, onde ele mora). O Olavo é uma personalidade bizarra que faz um mal enorme à política externa, com esse antiglobalismo irracional e conspiratório assumido pelo Ernesto e com o antimultilaterealismo, anticlimatismo e antimarxismo cultural que fazem parte de sua pregação.
O Olavo fez um post nas redes falando que não teve influência na sua exoneração.
Isso é correto. Ele não sabia de nada. Mas teve influência indireta. Foram minhas críticas a ele que fizeram o ministro me demitir, porque o Olavo é o legitimador do Ernesto Araújo. Não descartaria também uma influência do Eduardo Bolsonaro, que contribuiu para a nomeação do Ernesto. Outro responsável foi o Filipe Martins, assessor internacional da Presidência, que é um desses olavistas fanáticos e muito próximo do Ernesto Araújo.
Como está clima no Itamaraty?
O que sinto é uma grande paralisia, uma grande expectativa, um grande temor, porque houve uma subversão da hierarquia, uma reforma imposta de cima para baixo que deixou muita gente perplexa, muitos embaixadores sem função. Pelo que posso notar, o Itamaraty está esperando instruções de cima que não vêm. As decisões são tomadas num círculo extremamente fechado vinculado ao próprio gabinete.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.