Nobel da Física vai para ondas gravitacionais
O Prêmio Nobel da Física de 2017 foi concedido nesta terça-feira, 3, ao alemão Rainer Weiss e aos americanos Barry Barish e Kip Thorne pela criação, nos anos 1990, do observatório “Interferometer Gravitational-Wave Observator” (Ligo), nos Estados Unidos, que permitiu a detecção de ondas gravitacionais pela primeira vez na história.
De acordo com o comitê do Nobel, os cientistas laureados deram “decisivas contribuições ao detector Ligo e à observação de ondas gravitacionais”. As ondas gravitacionais foram previstas por Albert Einstein em sua Teoria Geral da Relatividade, publicada há cem anos, mas, extremamente sutis, elas pareciam impossíveis de detectar.
A observação só aconteceu no dia 14 de setembro de 2015, no Ligo Naquela data, os cientistas finalmente detectaram as tênues vibrações emitidas por dois buracos negros que giram um em torno do outro, a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra.
A descoberta foi divulgada no dia 11 de fevereiro de 2016, com grande impacto mundial. “Em 14 de setembro, tudo mudou”, afirmou Thorne na ocasião da divulgação. “Graças a essa descoberta, a humanidade embarca na maravilhosa exploração dos lugares mais extremos do Universo”.
Antes da façanha, os físicos sempre utilizaram o espectro eletromagnético – que inclui a luz visível, o raio X e o infravermelho, por exemplo – para fazer suas descobertas. Mas o experimento provou que também é possível estudar o Universo a partir de outros tipos de ondas existentes.
A partir dali, os cientistas se convenceram de que, se é possível detectar ondas gravitacionais, talvez seja possível descrever fenômenos que não emitem ondas eletromagnéticas suficientemente significativas para serem observadas. “Antes nós víamos o Universo. Agora, nós começamos a ouvi-lo”, disse Thorne na época.
No fim de 1915, Einstein revolucionou a física ao propor que a gravidade não é uma força de atração, mas uma distorção no tecido do tempo-espaço produzida por objetos que possuem massa.
Segundo a teoria, a distorção causada por corpos muito grandes e acelerados deveriam produzir ondas no espaço-tempo, de maneira semelhante às ondulações produzidas por uma pedra atirada na água. Mas a detecção dessas ondas gravitacionais era quase impossível, já que são minúsculas, com amplitude milhares de vezes menor que o comprimento de um próton.
Para conseguir a façanha, os cientistas observaram dois buracos negros que giraram um em torno do outro em uma galáxia distante, a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra. Os dois corpos, com massa cerca de 30 vezes maior que a do Sol, aproximaram-se até se fundirem, gerando – por uma fração de segundo – uma grande emissão de ondas gravitacionais, cujos ecos foram “ouvidos”. Além de observar as ondas, o experimento foi o primeiro na história a detectar um sistema binário de buracos negros em colisão.
Apesar do importante papel dos três laureados na descoberta das ondas gravitacionais, as pesquisas tiveram participação de mais de mil cientistas de 14 países, incluindo grupos brasileiros liderados por Odylio Aguilar, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e por Riccardo Sturani, do Centro Internacional de Física Teórica, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Outros prêmios
Em 2016, o Prêmio Nobel de Física foi concedido aos pesquisadores britânicos David Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz por suas descobertas teóricas sobre estados exóticos da matéria, que abrem caminho para o desenvolvimento de novos materiais com propriedades incomuns.
Entre 1901 e 2016, 110 Prêmios Nobel de Física foram concedidos. Do total, 47 foram concedidos para um só pesquisador – apenas dois eram mulheres. Um só cientista, o americano John Bardeen, ganhou o prêmio de Física duas vezes, em 1956 e em 1972. O mais jovem laureado foi Lawrence Bragg, que com apenas 25 anos de idade dividiu o prêmio de 1915 com seu pai, Henry Bragg.
O prêmio de Física é o segundo da temporada do Nobel 2017. Na segunda-feira, 2, o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2017 foi concedido aos americanos Jeffrey Hall, Michael Rosbash e Michael Young, por suas descobertas sobre os mecanismos moleculares que controlam os chamados ritmos circadianos – uma espécie de relógio biológico interno que regula o metabolismo dos seres vivos.
Nesta quarta-feira, 4, será anunciado o vencedor do prêmio de Química. O prêmio Nobel da Paz será anunciado na sexta-feira, 6 e o das Ciências Econômicas na segunda-feira, 9. A data para o Prêmio Nobel da Literatura ainda não foi divulgada.