Vereadores ‘lavam as mãos’ e ignoram caso de corrupção na Câmara
Em clima corporativo, a maior parte dos vereadores de Marília tem ficado “em cima do muro” quanto à tentativa de venda de apoio político pelo vereador Eduardo Nascimento (PSDB) ao governo do prefeito Daniel Alonso, do mesmo partido, por R$ 230 mil.
O novo episódio da briga política – cada vez mais escandalosa entre os dois ex-aliados – foi divulgado com exclusividade pelo Marília Notícia nesta quinta-feira (10) e vem repercutindo em vários setores da sociedade mariliense.
Para a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Marília Transparente (Oscip Matra), ainda tratam-se de “suspeitas levantadas”, as quais a entidade classifica como “graves”.
“Inclusive de possível esquema de emissão de notas fiscais frias pela Secretaria Municipal de Esportes, conforme noticiado pela imprensa”, aponta em menção aos detalhes trazidos à tona pelo MN sobre o conflito entre Alonso e Nascimento.
A Matra lembra que não faz “política-partidária e não se manifesta neste sentido”, mas entende que o “que a sociedade espera é que, caso alguma irregularidade seja confirmada pelos órgãos competentes (Polícia, Ministério Público, etc.), que os responsáveis sejam punidos.”
O inquérito criminal – que apura a suposta tentativa de venda de apoio político – também investiga a possível ocorrência de tráfico de influência, extorsão, coação e divulgação de informação sigilosa.
Há menção ainda ao funcionamento de uma “Central de Fake News” contra a administração municipal.
VEREADORES
Apesar de um vereador, que prefere não se identificar, classificar o caso como “assustador”, da forma como está posto, a maioria não quis se posicionar nem mesmo na condição de anonimato. Mesmo assim, é possível afirmar que há quase um consenso de que ainda não existe clima para uma Comissão Processante contra Nascimento.
Uma resposta institucional dessa magnitude dependeria do andamento no inquérito criminal tocado pela Polícia Civil ou até mesmo de uma condenação, segundo alguns parlamentares ouvidos pela reportagem do MN. Por enquanto, muitos não querem “se meter”.
Para um parlamentar, “essas brigas são pessoais” e classifica o conflito como “ruim para a cidade”, mas diz que prefere “ficar fora disso”. Outro vereador disse que precisaria se inteirar melhor sobre o assunto para fazer qualquer tipo de comentário.
Houve um edil que garantiu que “não vou comprar briga nenhuma, sou amigo do Nascimento e do prefeito, não tenho nada com isso.”
Um dos membros da Casa de Leis conta que espera Nascimento fazer uso da tribuna na próxima sessão da Câmara, na segunda-feira (14), para abordar o assunto. “Certamente vai dizer que sua fala foi tirada de contexto, que estão armando para ele”.
O próprio Eduardo Nascimento já disse em comentário na página do Marília Notícia que a frase trazida pelo portal está fora de contexto – veja a íntegra do posicionamento dele ao final do texto.
Um dos vereadores afirma ao MN que esse “caso é como um disco de vinil, tem dois lados para se ouvir e chegar à conclusão se o disco é bom ou ruim”.
Para um assessor parlamentar, de um vereador que não quis falar diretamente com o portal, Nascimento teria ofertado seu apoio em troca de R$ 230 mil “com ironia”. “Quem conhece o temperamento dele sabe que foi ironia”.
Houve ainda um parlamentar que diz que “não gostaria de me manifestar, pois nesse embate político tem muita fake news e muitas informações descontextualizadas”. Mas completa que em “guerra de leões como essa daí, não sei onde vai parar, mas não termina bem não”.
Outro edil reconhece que a notícia o pegou “de surpresa”, mas ponderou que é preciso “aguardar a confirmação ou não dos fatos”, que também considera graves caso sejam comprovados. “Apesar da surpresa, ainda não tenho uma opinião formada. Não tive tempo de falar com nenhum dos envolvidos sobre tudo isso, nem com outros vereadores”.
Segundo um vereador, boa parte dos colegas “têm medo do estilo verborrágico do Nascimento”, o que pode ajudar a entender o receio de um posicionamento mais enfático, mesmo que as investigações ainda estejam em curso.
Dos 12 vereadores procurados pelo MN, quatro não responderam aos questionamentos. O presidente Marcos Rezende (PSD) segue internado na Santa Casa com Covid.
NASCIMENTO
Em comentário feito na página do Facebook do Marília Notícia, Eduardo Nascimento afirmou que se trata de “mais uma armação, frase tirada do contexto… Jamais conversei com este vagabundo deste prefeito [Daniel Alonso] sobre qualquer ajuda ou pedido financeiro. Eu disse jamais”.
“Ele [Alonso] vai ter que provar na Justiça a acusação que faz contra mim e outros vereadores que não o apoiam. Repito, jamais conversei com o prefeito ou [com] quem quer seja sobre dinheiro. E não vão ser armações que vão me calar”, completou o vereador.