Várzea vive rebelião contra Liga e planeja independência
Equipes que disputam o popular campeonato varzeano pela Liga Desportiva de Marília estão em rebelião e prometem esvaziar a entidade que organiza as competições na cidade.
Os times, que planejam a volta aos gramados, apontam falta de transparência do gestor Alex Marques de Souza e também falta de suporte para as equipes.
Os representantes de clubes e apoiadores do esporte amador na cidade estiveram reunidos com o prefeito Daniel Alonso (PSDB).
O grupo apresentou a insatisfação e também cobrou a volta das competições na cidade. Vale lembrar que a Liga possui contrato com a Prefeitura de Marília para organizar as competições e recebe subvenção de R$ 167,2 mil por ano do poder público (veja detalhes abaixo).
Durante a visita foi apresentado o escudo da chamada “Liga dos 20”, que pretende assumir a organização das competições após a retomada do esporte.
“Questionamos o prefeito Daniel Alonso e ele foi bastante claro, explicou que no momento não podem ser realizados em Marília eventos esportivos, por causa da pandemia. Isso iria contra o decreto estadual, mas assim que possível, a várzea será liberada”, disse Ezequiel Pereira, que se declara apoiador da Liga dos 20.
Fase laranja
Como Marília está na “fase 2 – laranja” do Plano SP, os jogos não podem acontecer na cidade. Protocolo sanitário que foi proposto pela Federação Paulista de Futebol e também tem servido de referência para organizações amadoras, só pode ser aplicado se a região já estiver na “fase 3 – amarela”.
Durante a reunião foi abordada a dificuldade que o varzeano poderá ter para cumprir as exigências sanitárias, o que vai encarecer a realização dos jogos. Porém os times querem iniciar as discussões para buscar recursos.
Transparência financeira
O diretor do Grêmio Recreativo Altaneira, Cristiano Paulo dos Santos, é também um dos idealizadores da Liga dos 20 e afirma que a insatisfação com a Liga Desportiva é geral.
“As equipes pagam taxa de inscrição, pagam metade da arbitragem e não têm retorno. Falta transparência. As equipes com menor estrutura são muito prejudicadas. A sensação é que, com o tempo, foi ficando muito caro para participar. Isso sem o devido suporte”, disse.
O diretor da Liga Desportiva, segundo Cristiano, não está atendendo as equipes e teria afirmado que “só vai falar em retorno da várzea quando Marília estiver na fase verde”.
A reação dos clubes foi a Liga paralela, que já está tentando captar recursos de patrocínio para a volta da bola aos gramados. “Não estamos atrás do dinheiro da Prefeitura, não queremos nada além da retomada do esporte, com organização e transparência”, disse Cristiano.
Dinheiro público
Entre janeiro e abril de 2016 – governo do ex-prefeito Vinicius Camarinha (PSB), a Prefeitura de Marília transferiu – sem licitação – R$ 21.752 em nove empenhos para a Liga Desportiva de Marília.
Já em abril, foi feita licitação para a contração da intermediária, que assinou contrato com vigência de um ano, no valor de R$ 167.280,00 para gerenciamento dos campeonatos municipais amadores de futebol, nas categorias infantil e adulto.
Desde 2017, o contrato já recebeu quatro aditivos. O mais recente foi assinado em abril desse ano – já durante a pandemia do novo coronavírus – prorrogando em mais 12 meses a contração.
Pagamentos
Em 2020, a Prefeitura de Marília liquidou quatro empenhos à Liga Desportiva de Marília, um deles já durante a pandemia. Vale lembrar que este ano não teve campeonato; somente jogos amistosos.
A maior transferência para a entidade foi no final de janeiro: R$ 30.410,80. Já em fevereiro a Prefeitura repassou R$ 9.640,00.
O último pagamento registrado no Portal da Transparência foi em maio – durante a pandemia – quando o município pagou R$ 9.190,00 à Liga Desportiva.
Outro lado
Alex Marques de Souza, que reponde pela Liga, disse que a reclamação de falta de transparência e a suposta inoperância para a retomada não procedem.
“Assim que voltar para a fase verde, os preparativos serão retomados. Segundo o secretário Daniel Magalhães (esportes), só pode retomar após 28 dias na fase verde”, disse.
Ele disse que a tentativa de criar a Liga dos 20 surgiu por causa da pandemia. “Sempre presto contas. É com contrato e com nota (fiscal). Já mostramos várias vezes, mas eles querem o campeonato. Já foi feito um torneio clandestino e agora estão montando esse aí”, rebateu.
Marques acredita ainda que os protocolos complicam o varzeano. “Todos os atletas tem que ser testados para Covid no mínimo três dias antes de cada jogo. Portões fechados. Em nenhum lugar tem esse suporte para o amador”, garantiu.
Sobre o contrato, Alex disse que houve renovação (aditivo), mas por não haver partidas, a contração e os pagamentos foram suspensos. “Não foi feito nenhum repasse esse ano, porque está suspenso desde março”, assegurou.
Após ser questionado pelo Marília Notícia sobre os pagamentos feitos esse ano, esclareceu.
“Isso ainda era referente ao contrato anterior, as finais que ocorreram em dezembro e finais da base e master, que ocorreram no início do ano, devido a adiamentos por chuva”, disse.
O pagamento feito em maio, segundo Alex Marques, é referente a parcela de março, antes do aditivo que prorrogou a vigência. “Foi paga com mais de dois meses de atraso, devido o início da pandemia”, justificou.
A Prefeitura de Marília também foi procurada e ainda não enviou resposta ao site. O espaço continua aberto à manifestação.