Urgência sobre coleta seletiva é consenso em Plenária do Lixo
A necessidade urgente de ampliação da coleta seletiva em Marília – hoje praticamente inexistente – foi unanimidade nos discursos dos participantes da Plenária do Lixo 2019, realizada pela sociedade civil na noite desta quarta-feira (28).
Atualmente a cidade não conta com um sistema articulado de coleta seletiva de lixo, apenas iniciativas isoladas que atingem uma pequena parcela dos resíduos urbanos sólidos produzidos na cidade.
O lixo produzido é levado por meio do transbordo para um aterro sanitário localizado na cidade de Quatá (quase 100 quilômetros distante), ao custo atual de R$ 600 mil por mês – segundo o secretário municipal da Administração, Cássio Pinto.
Hoje são 240 toneladas de lixo produzidas por dia e o contrato de transbordo preveria 5,7 mil toneladas por mês. No entanto, o representante da administração municipal afirmou que a atual gestão conseguiu reduzir em 34% o material transportado.
No evento realizado no auditório da Associação Comercial e Industrial de Marília (Acim), o engenheiro químico Fernando Wolmer, enviado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), lembrou que a coleta seletiva pode reduzir o lixo que sai da cidade e é pesado em Quatá, reduzindo custos.
Com uma coleta seletiva madura, se torna possível a instalação de uma usina de compostagem, por exemplo, além de outras iniciativas de reaproveitamento energético dos resíduos – outra questão bastante discutida no evento.
“Cerca de 60% do lixo orgânico é água”, lembra Wolmer. “Não podemos pensar na primeira solução como enterrar o lixo”.
Outro aspecto fundamental da separação do lixo na origem é que a prática facilita a reciclagem, o que gera renda, cria empregos e tem enorme potencial sócio-assistencial com os antes chamados “catadores” – hoje o termo mais aceito é “recicladores”.
Em Marília a empresa Vegui Recicláveis processa 1,2 milhão de quilos de lixo recolhido por mais de 100 recicladores e 20 cooperativas na região.
“Estou aqui para pedir para a população consciência do trabalho que precisa ser feito na separação do lixo, que envolve a educação desde a residência, empresas, comércios”, afirma a empresária Vera Rojo.
“Conseguiríamos aumentar consideravelmente a quantidade de lixo sem ir para o aterro sanitário”, reforçou.
O gestor ambiental da Organização Não Governamental (ONG) Origem, Antônio Luiz Carvalho Leme, falou sobre a importância do Programa Município Verde e Azul – em que Marília figura em uma das piores posições do Estado.
“O Município Verde e Azul direciona a solução [do lixo] para a coleta seletiva, não é para queima, não é para nada. Sempre os principais pontos envolvem coleta seletiva”, afirmou Leme.
Para ele também deveria haver mais investimento na chamada “logística reversa”, situação em que as empresas ficam responsáveis pelo recolhimento dos resíduos que elas produzem, por meio de um sistema que envolve o comerciante e a devolução por parte do consumidor.
A analista ambiental da ONG Origem, Suzana Más Rosa, destacou a importância da coleta seletiva com base na política nacional de resíduos sólidos e suas diretrizes para o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS).
A legislação, mostrou Suzana, coloca como obrigação dos municípios a implantação de um sistema de coleta seletiva de resíduos, que “é separação na hora da geração”.
“Se não separar, não tem como aproveitar, não tem como reciclar. E com a inclusão dos catadores, o que chamamos de reciclagem inclusiva”.
O marco legal do saneamento básico, disse Suzana, também coloca como obrigação dos municípios priorizar a compostagem e o fim dos lixões até 2014 – o que não foi cumprido por muitas cidades, inclusive Marília.
A implantação de Centrais de Tratamento de Resíduos Sólidos e o incentivo a soluções regionais por meio de consórcios também fazem parte das obrigações, apontou a analista ambiental.
Ela lembrou do papel das empresas, indústrias e do comércio, principalmente dos grandes geradores de resíduos – uma classificação que representa uma lacuna na legislação municipal e carece de regulamentação.
“Em Marília são poucas as empresas que possuem plano de gerenciamento de resíduos”, o que é uma obrigação no caso dos grandes geradores, falou Suzana.
Em entrevista ao Marília Notícia o secretário municipal da Administração, Cássio Pinto, reforçou o que disse em sua fala na Plenária do Lixo 2019.
“A coleta seletiva deve ser incentivada junto com a implantação dos Ecopontos e com as medidas de educação ambiental que virão junto”, afirmou Cassinho, como é chamado.