Um domingo no Egito
O Egito me chegou através da fronteira terrestre com Israel. Passamos às margens do Mar Vermelho, o mesmo que milênios atrás o profeta Moisés abriu para dar passagem ao povo hebreu na fuga dos soldados do faraó.
Ao observar as águas perfeitas daquela paisagem perfeita, me dei conta do quanto é infinita a beleza do nosso planeta Terra.
Íamos para Sharm El-sheik, o balneário paradisíaco egípcio localizado entre a península do Sinai e o Mar Vermelho, já citado anteriormente nesta crônica.
Alheio ao que estava para acontecer justamente em Sharm El-Sheik, a conferência mundial ambiental COP 27, entro na cidade litorânea no começo da noite. Antes, cortamos o cenário do Egito, suas montanhas desérticas e suas paisagens de tonalidades únicas. Até camelos observei correndo não muito distante da rodovia. Nos postos de combustíveis, pequenas mesquitas construídas para que viajantes e famílias possam parar e orar.
Pelas ruas largas de Sharm El-sheik, muitas viaturas do exército egípcio e em vários pontos bandeiras de dezenas de nações, inclusive a do Brasil.
Observo um enorme outdoor com a sigla COP 27 e algumas mensagens em inglês. A 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas consistiu no primeiro evento de envergadura mundial que, de uma certa forma e ainda que indiretamente, presenciei.
Isso porque como a nossa chegada à cidade da conferência coincidiu com os preparativos para a recepção do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a logística e o trânsito de lá estavam fora do comum. Uma semana depois da presença de Biden, o então presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participaria da plenária mundial ambiental. Ao todo, mais de 90 chefes de Estado e representantes de 190 países estiveram na mesma cidade egípcia onde, num domingo, logo pela manhã, fiz uma chamada de vídeo para os meus filhos.
Os dois ainda dormiam, por conta do fuso horário, mas ficaram tão maravilhados pelas margens do Mar Vermelho que pediram para que eu pudesse entrar nas águas transparentes. Ficamos conversando: eu sentado na areia da praia egípcia e os dois a 10.6158 quilômetros de distância, no Interior de São Paulo, em nossa casa.
De repente eles perguntam: “Pai, que bicho é esse perto do senhor?”. Viro e deparo com um corvo curioso olhando para o meu celular. “Ah, esse é o corvo!”. Desde que havia lido o poema de mesmo nome do escritor Edgar Allan Poe (1809-1849) tinha a curiosidade de ver um de perto.
O pássaro, que não tem no Brasil, é meio primo da gralha e tanto em Israel quanto no Egito, não é difícil de se ver. E sim, a ave é curiosa, inteligente e destemida.
Fiquei mostrando o corvo para eles, perseguindo o bicho que pelo jeito queria mesmo era achar comida. Só faltava ele virar e dizer em inglês: ‘Never more’ – ‘Nunca mais’, como fez no poema do Poe.
É que o corvo, assim como os nossos papagaios e nossas araras, também têm a capacidade de imitar a voz humana.
Esse domingo, inesquecível, foi o primeiro que passei na terra dos faraós. A imersão Hadassa 2022 ainda me reservava outros momentos antológicos, como a subida ao Monte Sinai, a passagem subterrânea pelo Canal do Suez e, claro, a vista das milenares pirâmides.
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Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros “Canavial, os vivos e os mortos” (La Musetta Editoriais), ‘” próxima Colombina’”(Carlini & Caniato), “Contos do japim” (Carlini & Caniato), “Vargas, um legado político” (Carlini & Caniato), “Laurinda Frade, receitas da vida” (Poiesis Editora) e das HQs “Radius” (LM Comics), “Os canônicos” (LM Comics) e “Onde nasce a Luz” (Unimar – Universidade de Marília) – ramonimprensa@gmail.com