Trabalhadores de Marília denunciam trabalho escravo em obra de Itaí
Um grupo de seis trabalhadores de Marília denunciou na manhã desta terça-feira (23) uma situação de insalubridade e trabalho análogo à escravidão em casas de alto padrão em Itaí (cerca de 200 quilômetros de Marília).
Sem nenhum equipamento de segurança no trabalho, eles teriam sido obrigados a andar 60 quilômetros diariamente para cumprir uma jornada de até 14 horas e permaneceram quase dois dias sem comer durante 45 dias de trabalho que supostamente não foram remunerados.
A denúncia foi formalizada no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção e do Mobiliário de Marília e Região (Sintracom). A empresa sediada em Marília não respondeu nenhuma solicitação por parte do sindicato da categoria. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) será notificado quanto as queixas dos funcionários.
Pelo menos 12 trabalhadores entraram em contato com a empresa que havia divulgado as vagas de trabalho na área da construção civil no Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) no início de setembro em Marília.
A proposta de emprego prometia carteira assinada e salários entre R$ 1,2 mil a R$ 1,8 mil para ajudantes e pedreiros. O grupo foi levado por uma van contratada para uma casa em Itaí, distante 30 quilômetros do local de trabalho.
Sem estrutura adequada, os trabalhos teriam permanecidos em condições insalubres. Eles dormiam no chão e os banheiros não tinham condições de uso adequadas. Em relação à alimentação, os representantes ofereceram poucas cestas básicas para o consumo do grupo durante o período trabalhado.
“Nos primeiros dias compramos mistura com o pouco de dinheiro que levamos. Também compramos produtos de higiene pessoal. Depois teve gente que precisou pescar em um rio que tinha próximo da obra para comer”, relatou um pedreiro de 52 anos.
“Eles prometeram uma coisa e ofereceram outra totalmente diferente. Ninguém tinha dinheiro para voltar. Pedimos para nossas famílias que juntassem o dinheiro para comprar as passagens ou pagar a gasolina dos carros que parte dos trabalhadores foram de Marília para Itaí”, complementou.
Conforme a denúncia, um dos trabalhadores, V.M.S, de 40 anos, sofreu um uma lesão na cabeça em decorrência de um acidente de trabalho. Uma serra bateu na cabeça do pedreiro e o trabalhador ainda caiu de um andaime de sete metros de altura na obra.
V.M.S foi socorrido por um motorista que passava pelo local que o deixou no Posto de Saúde em Itaí e posteriormente foi encaminhado para internação no Hospital das Clínicas (HC) de Marília.
“O paciente sofreu um acidente de trabalho com serra na região de Avaré. Veio encaminhado para o Hospital das Clínicas, onde passa por exames laboratoriais e de imagem. Seu estado de saúde é considerado estável”, notificou o hospital.
Sem dinheiro para retornar à Marília, pelo menos seis pessoas permanecem trabalhando em Itaí com medo de represálias por parte da empresa.
O sindicato
O Sintracom acionará o MTE e a Polícia Federal para averiguar as denúncias dos trabalhadores e penalizar a empresa responsável pela contratação dos funcionários.
De acordo com o sindicato, uma fiscalização foi realizada no local e uma série de irregularidades foram constatadas, como a falta de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e até as condições de trabalho onde os trabalhadores eram mantidos.
O advogado do Sintracom, Valmir Lobo Estraiotto, esclarece o procedimento que será adotado na denúncia.
“Estamos colhendo depoimentos dos trabalhadores e vamos formalizar uma denúncia através de uma ação coletiva para tentar assegurar os direitos dos empregados”, esclareceu.
Segundo Estraiotto, a empresa não prestou nenhum esclarecimento ou respondeu as solicitação realizadas pelo sindicato da categoria. O Marília Notícia não conseguiu contato com a empresa.