Tati Weston-Webb conta da infância com ‘arroz e feijão todo dia’ no Havaí
“Ai, que medo”, diz a surfista Tatiana Weston-Webb ao ver a quantidade de microfones e câmeras na sua frente em sua primeira entrevista coletiva depois de conquistar a medalha de prata. Depois de competir bem no Taiti, era o seu primeiro contato de verdade com os jogos em Paris. Mas também era a hora de falar de sua conquista em português. “Desculpe porque eu tenho sotaque e o português não é perfeito”, diz a gaúcha que foi morar no Havaí antes de completar um ano, mas que se sente brasileira desde pequena.
“Minhas amigas chegavam em casa e perguntavam ‘por que tem arroz e feijão todo dia?’ e eu falava que a gente é brasileiro e brasileiro é assim, come arroz e feijão todos os dias. Eu nunca me senti havaiana”, contou Tati quando perguntada pela reportagem como percebeu que não era igual às amigas da ilha norte-americana.
Tati contou que, por ter tido problemas de visão na infância, acabou crescendo um pouco isolada das outras crianças. E o fato de ser muito loira também fazia com que ela fosse vista como diferente no Havaí.
E, quando ela visitava o Brasil, a história não era muito diferente.
“Eu nunca senti que fazia parte de um grupo, sempre fiquei na minha, também por causa do meu cabelo branco. Era muito estranho crescer no Havaí com esse cabelo pois as pessoas sempre julgam. Pensam que você tem bastante dinheiro e não era o nosso caso. E, quando eu chegava no Brasil, não parecia muito brasileira. Sempre tive essa parada de ser um pouco diferente”, disse a surfista, que admitiu usar muitas gírias do litoral de São Paulo, por ter uma casa lá com o marido, o também surfista Jessé Mendes, que é do Guarujá. “O pessoal tira onda comigo porque eu não tenho sotaque de gaúcha.”
Atualmente, a surfista passa mais tempo no Guarujá, mas frequentou muito o Rio Grande do Sul na infância.
“Eu sempre ia para Porto Alegre visitar a minha família, passava as férias em Garopaba. Isso faz parte da minha cultura. A gente sempre ia para o Brasil porque a gente tem o Brasil no nosso coração, mesmo amando o Havaí também. A gente sempre foi mais brasileiro do que havaiano.”
E a comemoração da medalha de prata que Tati pretende fazer não poderia ser mais gaúcha.
“Com certeza vai ter que rolar um churrascão, só estou esperando chegar no Brasil. Não vejo a hora!”
A medalhista falou ainda sobre a importância de apoiar as meninas que estão começando no esporte no Brasil.
“Eu desejo que elas possam ir atrás das carreiras e dos sonhos delas com bastante apoio dos patrocinadores. Isso, para mim, seria tudo, porque não é fácil hoje em dia no surf de ganhar patrocinadores e não é fácil de ter essa base, especialmente no Brasil, que realmente está tudo muito caro, especialmente para viajar, para conseguir fazer esses eventos pequenos da base mesmo, para conseguir ter mais experiência no mundo competitivo, para continuar alcançando tudo o que elas querem”, disse ela.”Eu desejo que os patrocinadores continuem apoiando muito as mulheres, não só as mulheres, mas os homens também, porque dá para ver que o mundo do surfe no Brasil está crescendo demais. Se a gente está dominando agora, imagine com mais apoio no futuro.”
Além de Tatiana Weston-Webb, Gabriel Medina também conquistou uma medalha nos Jogos de Paris, de bronze.
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POR JULIANNE CERASOLI