Tabata atrai ex-auxiliares de Alckmin e provoca Boulos e Nunes com plano de governo
A pré-candidata a prefeita Tabata Amaral (PSB) recheou a equipe que vai auxiliá-la a formular um plano de governo com ex-integrantes de gestões do PSDB, muitos deles ex-auxiliares de seu padrinho Geraldo Alckmin, que foi tucano por 33 anos antes de se tornar colega de partido da deputada federal.
O vice-presidente da República, visto como uma espécie de avalista da pré-candidatura, endossou a escolha dos 37 coordenadores que vão formular as propostas para diferentes áreas e serão anunciados nesta quarta-feira (1º), em meio ao esforço de Tabata para atrair o PSDB para sua campanha.
A lista com os nomes que circula nos bastidores inclui ao menos 18 técnicos e especialistas que, segundo levantamento da Folha de S.Paulo, têm ligação com o PSDB e com gestões do partido –o equivalente a 48% dos conselheiros de Tabata. Do total, 10 trabalharam com Alckmin no Governo de São Paulo.
O grupo tem também correligionários do PSB e pessoas que atuaram em governos de outros partidos, inclusive do PT. A deputada diz que a presença robusta de nomes ligados ao PSDB reflete a qualidade de quadros vinculados à sigla e pode contribuir para a aliança com o partido, embora isso não tenha sido calculado nem seja agora determinante. As recomendações de Alckmin foram um reforço, segundo ela.
A coordenação geral, por exemplo, é da ex-secretária Vivian Satiro, que trabalhou para o então governador e também conduziu em 2020 o plano de governo de Bruno Covas (PSDB), reeleito naquele pleito.
Terceira colocada em intenções de voto, com 8%, segundo o Datafolha, Tabata afirma que a apresentação da equipe que formulará seu plano de governo ratifica que sua pré-candidatura é sólida. Ela enfrenta Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), que estão tecnicamente empatados em primeiro lugar na pesquisa de março, com 30% e 29%, respectivamente.
“Eu quero chegar à eleição, no primeiro turno, com as pessoas tendo clareza de qual é o time que está comigo e o que a gente pensa para cada área”, diz a pré-candidata à Folha de S.Paulo. “Ao fazer isso, porque eu acho que esse é o desejo da população, eu vou forçar tanto o Nunes quanto o Boulos a terem que se aprofundar um pouco mais e terem que dizer o que pensam para as diferentes áreas também.”
Os dois rivais também iniciaram discussões sobre plano de governo. Nunes colocou na coordenação o ex-governador Rodrigo Garcia, que deixou o PSDB após perder a eleição de 2022. Boulos delegou a supervisão ao deputado estadual Antonio Donato (PT) e à economista Camila de Caso (PSOL).
À reportagem Alckmin diz que não terá um papel específico no programa de Tabata. “O que eu puder ajudar, farei com satisfação”, afirma ele, que atua como articulador e oráculo da deputada. “A Tabata montou um grande time, um pessoal craque, inclusive [uma parte] que já trabalhou comigo.”
Cinco ex-secretários dele integram a equipe do plano: Floriano Pesaro (responsável por propostas para a cracolândia), Claudia Costin (educação), Luciana Temer (família, desenvolvimento social e segurança alimentar), Eloisa Arruda (imigrantes) e Benedito Braga (saneamento e combate a enchentes).
Alckmin relativiza a especulação de que uma eventual administração Tabata seria, portanto, parecida com as dele na máquina estadual. “Ela terá um estilo próprio”, antevê o vice, que na disputa municipal está em palanque adversário ao do presidente Lula (PT), fiador da pré-candidatura de Boulos.
Outro especialista compartilhado por ele com a prefeitável é o economista Leandro Piquet Carneiro, que cuidou da parte de segurança pública no programa da candidatura presidencial de Alckmin em 2018 e fará o mesmo por Tabata. Carneiro também comandou o plano de governo de Luiz Felipe D’Avila, candidato do Novo à Presidência em 2022.
A pessebista convidou ainda para a tarefa personalidades como a professora e urbanista Marta Grostein, que é mãe do apresentador Luciano Huck, entusiasta da candidatura de Tabata, e a médica Ludhmila Hajjar, que foi cotada para assumir o Ministério da Saúde no governo Jair Bolsonaro (PL) e integrou a equipe de transição para a gestão Lula.
Tabata, que faz uma pré-campanha centrada em combater a polarização, mas rejeitando o rótulo de terceira via, diz que a equipe diversificada reforça sua posição de abertura ao diálogo com pessoas da esquerda e da direita e que o programa, com formuladores que “pensam fora da caixinha”, será “o encontro das melhores soluções dos dois lados”.
O perfil dos colaboradores, em sua maioria com passagens por administrações públicas e currículos extensos, também é uma estratégia para rebater as críticas à pré-candidata pela inexperiência no Executivo e sua juventude. O discurso dela é o de que, se vencer, não governará sozinha.
“Mesmo se eu tivesse 60 anos de idade e mais décadas de experiência nas costas, ainda assim eu iria me esforçar para trazer um time desse tamanho. São problemas muito complexos. É muita arrogância achar que uma pessoa sozinha daria conta de tudo. E isso não depende de idade”, afirma ela, que tem 30 anos.
Tabata também refuta a ideia de aparente contradição entre suas críticas à gestão Nunes e o fato de ter à frente de seu plano de governo Vivian Satiro, que fez o mesmo pela chapa Covas-Nunes. O atual prefeito diz que faz uma gestão de continuidade à do tucano, o que é questionado por rivais.
Para a deputada, o projeto em curso na cidade esvaziou o programa de 2020. “Não é à toa que, assim que o Ricardo Nunes assumiu, a Vivian saiu da prefeitura. O Nunes teve a cara de pau de chegar e mudar o plano de metas, deixando-o mais factível, e ainda assim ele não está conseguindo entregar esse plano.”
Além dos especialistas, Tabata quer ouvir cidadãos e servidores no processo de definição de suas prioridades como candidata. Os grupos temáticos farão reuniões entre maio e julho. A exigência é a de que as propostas tenham alvos bem definidos, sejam interligadas e se baseiem em dados e evidências.
Critérios de diversidade também contam. A lista de coordenadores já foi pensada sob o ponto de vista da inclusão. Dos 37 componentes, 21 são mulheres. Segundo Tabata, 40% são pessoas não brancas. A pré-campanha adotou para a divulgação das discussões o slogan “coração e mão na massa”.
ALGUNS DOS COORDENADORES DO PROGRAMA DE TABATA
Vivian Satiro (coordenação geral) Foi coordenadora do programa de governo de Bruno Covas (PSDB) em 2020 e atuou na gestão dele e no governo de Geraldo Alckmin (então no PSDB) no estado
Claudia Costin (educação) Foi secretária de Alckmin e ministra interina da Administração Federal e Reforma do Estado no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre outros cargos
Leandro Piquet Carneiro (segurança pública e prevenção à violência) Cuidou do tema no programa de Alckmin à Presidência em 2018 e coordenou o plano de Luiz Felipe D’Avila (Novo) a presidente em 2022
Marta Grostein (desenvolvimento urbano e urbanismo social) Professora de arquitetura e urbanismo na USP, também é mãe do apresentador Luciano Huck, apoiador da candidatura de Tabata
Floriano Pesaro (cracolândia e cenas de uso aberto de drogas) Aliado histórico de Alckmin, o ex-tucano foi secretário dele no governo estadual e hoje atua com o vice no governo Lula (PT)
Andréa Werner (pessoas com deficiência) Deputada estadual pelo PSB, é ativista pelos direitos dos autistas e tem projetos na área. Ex-filiada ao PSOL, a jornalista é autista e mãe de um adolescente autista
Ludhmila Hajjar (saúde) Médica cardiologista, integrou a equipe de transição do governo Lula e divide a coordenação da área de saúde com o médico patologista Paulo Saldiva, professor da USP
Leany Lemos (finanças públicas e responsabilidade fiscal) Com passagem por governo do PSDB no Rio Grande do Sul, foi secretária na equipe de Simone Tebet no Ministério do Planejamento até março
POR JOELMIR TAVARES