STF ordena extradição de morador de Marília condenado por atos
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a extradição de Rodrigo de Freitas Moro Ramalho, condenado a cumprir pena de 14 anos de prisão em regime fechado por envolvimento nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília (DF). Ele aguardava julgamento em Marília, quando rompeu a tornozeleira eletrônica e fugiu. A suspeita é de que ele tenha deixado o país pela fronteira com a Argentina.
De acordo com despacho publicado no último dia 17 de outubro, Alexandre de Moraes determina a intimação da Advocacia-Geral da União (AGU) para que adote as providências necessárias para a extradição do morador de Marília.
A Embaixada do Brasil em Buenos Aires recebeu vários pedidos de extradição de brasileiros que participaram da tentativa de golpe de Estado, em 8 de janeiro de 2023, e fugiram para a Argentina.
Ramalho chegou a ficar sete meses preso logo após os atos em Brasília (DF). Somente pôde retornar para Marília com o uso de tornozeleira eletrônica. Após a condenação em maio deste ano, não se entregou e é considerado foragido.
O mandado de prisão em aberto contra Ramalho foi expedido no dia 23 de maio deste ano, com validade até o dia 29 de abril de 2036. Segundo o documento que pode ser acessado no Banco Nacional de Mandados de Prisão, ele é procurado para prisão preventiva decorrente de condenação. O mandado de prisão foi expedido pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
O réu está entre as mais de mil pessoas presas entre os dias 8 e 9 de janeiro, que tiveram concedida a liberdade provisória mediante a imposição de medidas cautelares. A Vara Única das Execuções Criminais de Marília chegou a comunicar o STF sobre a suspeita de violação às medidas cautelares impostas ao réu e apontou para descarga da bateria da tornozeleira eletrônica.
“Verifico que, ao permitir a descarga de bateria do dispositivo de monitoramento eletrônico, o réu desrespeitou medidas cautelares impostas nestes autos. Importante destacar que a possibilidade de restabelecimento da ordem de prisão foi expressamente consignada na decisão que substituiu a custódia por medidas cautelares diversas, no dia 7 de agosto de 2023”, afirma trecho do documento.
OSSOS DE VIDRO
A dor desse drama não se limita a Rodrigo. A esposa dele e seus dois filhos carregam consigo um fardo pesado demais para os frágeis ossos que os sustentam. A mãe e as duas crianças são afetadas pela osteogênese imperfeita, popularmente conhecida como “doença dos ossos de vidro”.
A anomalia é caracterizada pela fragilidade e deformidades ósseas, o que leva à facilidade de fraturas. É uma doença de origem genética e considerada rara. A esposa e os filhos, um deles também autista, vivem sob a constante ameaça de fraturas, mesmo dentro do próprio lar.
Em ocasião anterior, o Marília Notícia tentou contato com a família de Ramalho, mas com medo de represálias, eles decidiram não dar novas entrevistas sobre o caso. No entanto, em entrevista anterior ao Portal Bureau de Comunicação, Rodrigo contou um pouco do drama com a prisão, após os atos.
Segundo o morador de Marília, a esposa de 34 anos, e seus dois filhos de 10 e 12 anos, devido à osteogênese imperfeita, sofrem com pequenos acidentes que resultam em fraturas de ossos, mesmo dentro de casa. Conforme Ramalho, a mulher já teve mais de 20 fraturas, assim como o filho mais novo. O filho mais velho já sofreu 10 fraturas.
A doença interfere nos tecidos dos órgãos do corpo e coloca em risco o rompimento das artérias, além de apresentar o problema de ossos quebradiços. A partir dos 30 anos, também pode começar a degeneração da audição.
Além de ter “ossos de vidro”, o filho mais novo é autista e toma remédio para tratamento. A Procuradoria Geral da República chegou a notificá-lo por ter saído de sua residência em um sábado para comprar remédio. Sua justificativa foi aceita pelo STF. Na ocasião, Rodrigo correu o risco de ter sido novamente preso.
TIRO DE GUERRA EM MARÍLIA
Ao portal, ele contou que insatisfeito com o desfecho das eleições de 2022, passou a frequentar o “QG de patriotas”, acampamento montado por bolsonaristas em frente ao Tiro de Guerra de Marília, situado na zona norte da cidade.
Influenciado por outras pessoas, Ramalho decidiu ir para Brasília em uma manifestação política no início de janeiro de 2023, acreditando, segundo ele, que seria pacífica e ordeira, como outras que já havia participado, mas nada foi como o esperado. Ele ficou preso em Brasília, atrás das grades por sete meses.
“Não quero voltar para o presídio. Não é lugar para mim. Uma pessoa que nunca cometeu qualquer crime, que sempre arcou com os seus compromissos, cuidou de sua família, não pode ser tratado dessa forma pelo Estado Brasileiro. Desde que voltei da prisão em Brasília, tento aproveitar ao máximo a minha família, mas tenho um sentimento de desespero. Eu confesso que prefiro morrer a voltar para o presídio”, finaliza Ramalho em entrevista para o Bureau de Comunicação.