Startups ‘farejam’ mercado de animais de estimação
Ter um animal de estimação em casa alegra o ambiente e enche os moradores de amor. Mas quem é “mãe ou pai de pet” sabe: além do carinho, há tarefas cansativas – repor a ração, cuidar da higiene e levar os bichinhos para passear. De olho em facilitar a vida dos donos de animais em meio à rotina, startups começam a oferecer soluções para digitalizar um mercado estimado em 140 milhões de animais no País.
É o caso, por exemplo, da Zee.Now, que oferece entrega em domicílio 24 horas por dia para diversos itens de pet shop, como rações e remédios, por meio de seu aplicativo. Ela foi fundada pelos irmãos gêmeos Thadeu e Felipe Diz, como um braço da empresa de acessórios Zee.Dog – há sete anos no mercado, a marca distribui produtos para 23 países e tem até uma loja em Nova York. “A Zee.Dog construiu uma comunidade enorme de donos de pets, que não compram só acessórios. Resolvemos aproveitar a oportunidade”, diz Thadeu.
Lançado em maio, o Zee.Now já está em 75 bairros de São Paulo e Rio de Janeiro. Para o ano que vem, os planos são de expandir a operação para Curitiba e Belo Horizonte. Além dos próprios produtos, a empresa também faz compras direto da indústria e faz a entrega a partir de seus centros de distribuição – os entregadores, chamados de “Zee.Man”, são terceirizados. Por trás do negócio, está uma equipe de 15 programadores. “Nossa logística permite que façamos as entregas na casa do cliente com frete grátis em menos de uma hora, até de madrugada”, explica Thadeu.
É algo que pode movimentar um mercado já bastante grande: segundo o Instituto Pet Brasil (IPB), o setor de produtos e serviços para bichos de estimação pode movimentar R$ 36,2 bilhões em 2019 – no ano passado, foram R$ 34,4 bilhões, em um crescimento de 29% ao longo dos últimos cinco anos.
Para Martina Campos, diretora executiva da entidade, são números que mostram a mudança de status dos animais para as famílias brasileiras. “Os animais ficavam no quintal, como proteção. Hoje, estão dentro de casa, no sofá e até na cama”, diz ela. “Por isso, surge um ecossistema para oferecer soluções para os donos, que estão em rotinas cada vez mais alucinantes.”
Serviços buscam aliviar rotinas
Aliviar a rotina dos donos de bichos é o papel principal da startup DogHero, um dos nomes mais conhecidos do setor, com mais de R$ 45 milhões já recebidos em aportes. Trata-se de uma plataforma online na qual é possível encontrar hospedagem e passeadores para cães. Hoje, 1,3 milhão de cachorros estão cadastrados no sistema. “Quando a família quer viajar nem sempre tem um amigo por perto que pode cuidar do cachorro. Os hotéis para animais, que costumam ser uma alternativa, custam caro e, muitas vezes, o espaço é pequeno e o cão fica estressado”, afirma Eduardo Baer, presidente executivo da DogHero.
Fundada em 2014, a empresa oferece hospedagem em 750 cidades do Brasil e já expandiu sua operação para Argentina e México – mais de 18 mil anfitriões estão cadastrados na plataforma, que fazem cursos online oferecidos pela DogHero para receberem os cachorros em suas casas. Lançado no ano passado, o serviço de passeadores está em 20 cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
A startup PetAnjo aposta em um modelo semelhante. Criada pela médica veterinária Carolina Rocha e pelo engenheiro Thiago Petersen, a empresa oferece serviços de hospedagem e passeio, além de visitas nas casas dos pets para alimentar e cuidar do animal quando o dono está viajando. “Atuava como veterinária e atendi muitos animais agressivos. Percebi que havia uma demanda por parte dos tutores por serviços complementares para ajudar no dia a dia” , diz Carolina.
Para atuar, os colaboradores (ou “anjos”) da startup passam por um treinamento certificado pela startup, que envolve ensinamentos de primeiros socorros e identificação de doenças. “É uma responsabilidade grande cuidar dos filhos das pessoas, não podemos errar”, diz Carolina, “mãe” dos cães Olga, Cássio e Madalena e das gatas Boneca e Ísis. Nos últimos cinco anos, a PetAnjo já ofereceu mais de 100 mil serviços.
Mercado deve aproveitar particularidades dos bichos
Apesar de o mercado de startups pet estar crescendo, muitos serviços são réplicas de apps “para humanos” – a Zee.Now é uma espécie de Rappi para animais, enquanto é possível dizer que o DogHero é um “Airbnb dos cães”. “É natural essa adaptação, mas existem oportunidades específicas dos animais que podem ser exploradas”, diz Daniel Grossi, cofundador da empresa de inovação Liga Ventures. “É o caso de dispositivos de internet das coisas para rastrear e monitorar os animais quando o dono está fora.”
É a aposta da ZenPet, startup que desenvolve há três anos protótipos de dispositivos como um pote de ração inteligente para cães ou um bebedouro para gatos – aparelhos que, conectados a um aplicativo, permitem que o dono controle a quantidade de ração e água dos bichinhos. O plano é lançar os produtos no mercado em 2020, com preços a partir de R$ 300 (bebedouro) e R$ 500 (alimentador).
Para o fundador da empresa, Jefferson Magalhães, um dos principais desafios de empreender hoje na área pet é a captação de investimento. “Tirando alguns casos conhecidos, conseguir aporte é difícil”, afirma o executivo. Neste ano, a ZenPet está tentando captar investimento para viabilizar sua produção. É uma preocupação do setor: “Grande parte das startups de pets são voltadas para o consumidor final, modelo que exige um bom volume de investimento para marketing e acesso ao mercado”, diz Grossi, da Liga.
Por outro lado, é um mercado “afetivo”, disposto a testar novos serviços. “O público pet recebe bem ideias que proporcionem o bem-estar do animal”, diz Martina. Afinal, para muita gente é impagável chegar em casa e, em frente ao portão, ver seu cachorro sorrir latindo.