Sociopatas em Tremembé: quando o cárcere não basta

Tremembé deixou de ser apenas um presídio. Tornou-se um símbolo — um espelho de um Brasil que observa, julga e se espanta diante da frieza humana. As histórias que saem de lá fascinam e assustam porque tocam em algo essencial: a existência de pessoas aparentemente imunes à culpa.
Na psiquiatria, chamamos de transtorno de personalidade antissocial aquilo que o senso comum traduz como “sociopatia”. Trata-se de um padrão persistente de desrespeito às normas, impulsividade, ausência de empatia e incapacidade de sentir remorso. O sociopata não é apenas alguém que comete um crime — é alguém para quem o crime não pesa.
A série Tremembé escancara essa diferença. Enquanto a sociedade clama por punição, o sociopata segue sem afeto, sem arrependimento, sem internalizar a moral que o cerca. O cárcere o isola fisicamente, mas não transforma sua estrutura psíquica. E essa é talvez a grande frustração coletiva: esperamos redenção onde não há culpa.
O olhar psiquiátrico precisa, então, ir além do julgamento.
A sociopatia nos obriga a reconhecer que há mentes moldadas não pela maldade, mas pela ausência de vínculo — uma falha de conexão afetiva que torna o outro apenas um objeto.
E o que fazemos diante disso? Punimos o corpo, sem alcançar a mente.
Tremembé é, nesse sentido, um retrato duplo: de um país que tenta entender o mal e de uma psiquiatria desafiada a pensar os limites da empatia, da punição e da humanidade.
Porque compreender o sociopata é também encarar o que há de frio — e de possível — dentro de todos nós.
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Dra. Fernanda Simines Nascimento
Médica Psiquiatra – CRM/SP 198541| RQE 124287