Sobre duas rodas, entregadores têm altos e baixos na pandemia
Próteses odontológicas, calçados, alimentos, maquiagens e até animais de estimação – em caixas apropriadas – tem ajudado centenas de motofretistas de Marília a ganharem a vida sobre duas rodas. Os serviços se diversificaram e aumentaram com a pandemia.
Há pelo menos um ano, os altos e baixos tem marcado a rotina de quem trabalha no setor. Quando a pandemia começou, conta o motoboy José Eduardo Braga Leite, de 26 anos, os serviços dispararam.
“O auxílio emergencial colocou dinheiro pra circular. Muita gente procurou um conforto a mais. Sentimos o aumento na procura, teve muito serviço”, contou o motociclista, que começou sozinho na profissão e hoje tem uma agência de entregadores.
Ele define “em altos e baixos” os últimos 12 meses, tanto no volume de trabalho dos veteranos como na disponibilidade de novos entregadores, dispostos aos desafios do trânsito, para ganhar de moto.
“Muita gente perdeu emprego e está tentando ganhar a vida como entregador, mas não é tão simples assim. Não basta você ter o GPS e uma moto, tem que entender como esse serviço funciona, ter responsabilidade, atender com qualidade” constata Eduardo, que até entrega de um cão já foi chamado para fazer.
O motoboy trabalha das 7h à meia noite, diariamente. Ele tem um filho de cinco anos e a esposa está grávida. Para o jovem, o momento exige sacrifício.
Ele aprendeu que neste segmento, o trabalhador faz seu salário. Tem melhor remuneração quem passa mais tempo na rua, trabalha de acordo com a lei e fideliza clientes e parceiros.
Além dos pequenos serviços, nesse mercado estão em disputa contratos mensais ou anuais estáveis, com empresas que necessitam dos serviços para o transporte regular de alguns objetos, serviços bancários e administrativos.
“Se você é formalizado, tem nota fiscal, consegue uns contratos melhores. Com a fase vermelha, também dá pra fazer bastante parceria para entregas de objetos diversos”, conta Eduardo.
Do táxi ao tudo
Há poucos anos, o serviço de entregas representava fatia pequena do movimento do ponto de mototaxistas administrado por Thiago Andrade dos Santos, na rua XV de Novembro, mas com o passar o tempo, o dinâmico mercado se transformou.
“Primeiro vieram os transportes de aplicativo. Caiu bastante o movimento de passageiros, começou a crescer de entregas e encomendas. Veio a pandemia e no começo teve muito serviço, abriram vagas”, conta.
Durante o auxílio emergencial Thiago teve dificuldades para contratar. “Era difícil achar gente para trabalhar. Por exemplo, um casal com a mulher trabalhando, aí o governo dá auxílio para o marido… o cara esperou o benefício acabar para procurar serviço”, conta.
Sem o auxílio em janeiro, fevereiro e março, a entrega de currículos no ponto de motos que ele administra virou rotina.
“Toda hora vem gente procurando vaga, mas só contratamos com indicação e alguns casos por entrevista, quando a pessoa mostra serviço. Estamos em uma fase mais difícil, com tudo fechado e as pessoas com mais dificuldades”, avalia.
Em meio à crise generalizada, os comerciantes – não apenas do ramo de alimentos – viraram grandes aliados dos motoboys.
“Alguns heróis estão conseguindo vender, o que é bom pra gente, mas no geral está complicado para todo mundo. Aqui a nossa regra é ser solidário, não explorar ninguém na taxa de entrega. Assim, tudo mundo ganha um pouco e sobrevive”, garante.
Os ganhos sobre duas rodas variam de acordo com a experiência, foco no trabalho e horas trabalhadas. Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que a média é de R$ 2 mil, com alguns casos de motociclistas que ultrapassam R$ 4 mil por mês.