Sem acordo, alunos mantêm ato contra o ‘sucateamento’ na Famema
Depois de três reuniões com a diretoria da Faculdade de Medicina de Marília (Famema) e do Hospital das Clínicas (HC), nesta quinta-feira (29), os alunos dos cursos Medicina e Enfermagem da instituição decidiram manter as manifestações nesta sexta (30).
“Ontem tivemos três reuniões com o diretor da Famema [Valdeir Fagundes de Queiroz] e a superintendente do HC [Paloma Libânio Nunes], porém, as nossas demandas a respeito da perda de plantões do internato e sucessivas demissões de docentes não foram atendidas. Assim, continuaremos a manifestação hoje, em frente ao Hospital das Clínicas”, conta uma aluna do terceiro ano de Medicina ao Marília Notícia.
De acordo com os acadêmicos, a instituição conta com diversos problemas, como a falta de professores (os salários oferecidos em novos concursos não seriam atrativos para profissionais qualificados), a falta de um prédio próprio para acomodar a faculdade, de laboratórios próximos da instituição para as aulas dos primeiros anos de medicina e a extinção de bolsas de monitoria.
Apesar da série de apontamentos, a gota d’água teria sido a implantação do Sistema Lean no Hospital das Clínicas, que teria o objetivo de desafogar o pronto-socorro. “A maior dificuldade acontece quando os alunos vão acompanhar os médicos nos estágios. Eles se sentem abandonados, estão sem docentes para acompanhar. Entre os alunos, chamamos o Sistema Lean de ‘sistema de linha de montagem’. A quantidade é valorizada mais do que a qualidade do atendimento”, afirma uma integrante do Diretório Acadêmico Christiano Altenfelder (Daca).
PROJETO LEAN
Lançado em junho deste ano, de acordo com conteúdo disponível no site do HC/Famema, “o [sistema] Lean nas emergências é um Projeto do Ministério da Saúde executado de forma colaborativa pelos hospitais BP- A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Moinhos de Vento (HMV) e Sírio-Libanês (HSL), por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). O projeto tem como foco o atendimento nas emergências com o rearranjo da atual estrutura do HC/Famema para diminuir o tempo de espera dos pacientes que chegam ao Pronto-Socorro”.
Segundo a integrante do Daca, antes da implantação do sistema, os médicos discutiam os casos com os acadêmicos, o que possibilitava que eles tivessem um envolvimento maior com o atendimento. Agora, com a necessidade de rapidez, os estudantes acabam só seguindo os profissionais.
EXIGÊNCIAS DOS ALUNOS
- Construção de quadro de funcionários;
- concursos públicos para docentes com possibilidade de carreira acadêmica;
- retorno das bolsas de monitoria;
- garantia da carga horária de cada matéria e grade curricular mínima;
- garantia de acesso aos estágios do internato com preceptores em todos os espaços e carga horária adequada;
- programas de residência com aulas, carga horária e prática adequadas, além de preceptores nos espaços de formação especializada;
- laboratórios próximos ao prédio da Monte Carmelo ou da Unidade de Educação;
- fim do assédio moral aos estudantes e residentes;
- inclusão de restaurante universitário e praça esportiva no campus;
- fim do teto de gastos.
OUTRO LADO
Em nota, a assessoria da Famema afirma que está acompanhando a implantação do sistema Lean no HC/Famema. “Os coordenadores do internato e dos estágios na parceria ensino-serviço entre as duas instituições também monitoram essa inovação. Como essa implantação é recente, ajustes e adequações serão sugeridos.”
Sobre as reuniões realizadas ontem, a nota diz que “as pautas foram atualizadas e os encaminhamentos serão efetivados com acompanhamentos da diretoria e dos representantes dos estudantes.”
“Importante ressaltar que parte das reivindicações dos estudantes já é implantada pela Famema. Como concursos públicos e contratação de professores. Em 2021 foram contratados 30 professores temporários. Em 2022 foi autorizada a contratação de 75 professores (mestres e doutores). Os primeiros editais para a realização dos concursos públicos serão abertos ainda nesta semana”, pontua ainda o documento.
Ainda de acordo com a Famema, o repasse das bolsas de auxílio foi interrompido em 2019 devido à falta de amparo legal. “Lei de bolsas para a Famema foi aprovada na Assembleia Legislativa e aguarda o decreto para regulamentação. Alguns espaços da Famema e do HC/Famema são readequados para permitir as obras e reformas de ampliação do HC – Hospital das Clínicas, desta forma, os laboratórios didáticos foram transferidos para o Ambulatório HCIII (antigo Hospital São Francisco)”, afirma.
No texto, a diretoria da Famema reafirma que mantém o diálogo constante entre estudantes e a Instituição, e que continua aberta para esclarecer questionamentos ou dúvidas e receber sugestões sobre as atividades acadêmicas na Faculdade de Medicina de Marília. “Para a próxima semana, nova reunião será confirmada entre diretoria e estudantes.”