‘Resgatamos a autoestima do mariliense’, afirma Vinicius em balanço de fim de ano

Em seu retorno ao cargo de prefeito de Marília, prestes a completar o primeiro ano deste mandato, Vinicius Camarinha (PSDB) avalia que 2025 foi marcado por reconstrução, ajustes administrativos profundos e um ritmo acelerado de obras.
Ao assumir o comando da Prefeitura, segundo o chefe do Executivo, a cidade enfrentava problemas estruturais graves, dívidas expressivas e serviços públicos deteriorados.
Vinicius afirma ter conseguido reorganizar setores considerados críticos em Marília, especialmente saúde, educação e mobilidade, além de retomar a capacidade de investimento por meio de articulações políticas com os governos estadual e federal.
O prefeito destacou as ações que considera mais representativas deste primeiro ano, como a correção do contrato de concessão da água, a retirada dos radares, a ampliação de obras na saúde e os investimentos em infraestrutura e modernização urbana.
Vinicius também apontou desafios que permanecem, entre eles a necessidade de aprimorar a zeladoria, fortalecer políticas de assistência social e solucionar de forma definitiva questões ligadas ao transporte público e ao déficit orçamentário do município.
Nesta entrevista exclusiva ao Marília Notícia, o prefeito faz um balanço detalhado de sua gestão até agora, comenta projetos em andamento, fala sobre os pontos que ainda pretende avançar em 2026 e aborda temas sensíveis, como segurança, drenagem urbana, previdência dos servidores e a situação de áreas estratégicas da cidade.
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MN – Como avalia o retorno?
Vinicius Camarinha – Eu encontrei a Prefeitura um caos. Para onde a gente olhava, tinha problemas, com um rombo de quase R$ 2 bilhões e uma estrutura precária. Postos de saúde com cupim, mofo, todas as unidades nessa situação. A infraestrutura das escolas também, poliesportivos, praças, tudo. Marília perdeu no mínimo 20 anos nos últimos anos com a ex-gestão. Mesmo assim, com todos esses dados, avalio que tivemos um ano excelente, que até me surpreendeu. Isso aconteceu porque a gente se preparou para este momento, dialogou com a população para saber as prioridades e montou um time muito competente. Contei com o apoio da população em tudo neste primeiro ano e conseguimos trabalhar em conjunto, em uma união de esforços, para recuperar a nossa cidade.
MN – Acredita que conseguiu cumprir os compromissos no primeiro ano?
Vinicius Camarinha – Cumprimos aquilo que assumimos na campanha. Por exemplo, o primeiro ato foi acabar com o radar, que nada mais era do que uma fábrica de multas, com o intuito de arrecadar, fazendo receita em cima do sacrifício da população. No terceiro dia, nós tiramos. Hoje, avaliamos que os índices de acidentes caíram, o que é um dado positivo. Fizemos a correção da concessão da água, colocando mais recursos para a Prefeitura, porque estava errado, mal feito e com subpreço. Fizemos uma outorga de R$ 160 milhões virar quase R$ 220 milhões.

MN – Isso era o que dava para fazer e não era o que você pretendia para uma concessão?
Vinicius Camarinha – Se a gente tivesse ido para a bolsa e tivesse que indenizar a empresa que está lá, ia chegar nos R$ 200 milhões. Jamais faria uma concessão com oito anos de outorga para receber o valor desse patrimônio em oito anos; não existe isso. Eles estavam praticamente pagando com o dinheiro que recebiam. Então, trouxemos o prazo para três anos, aumentamos a outorga, fizemos a correção, reajustamos algumas coisas do contrato, iniciamos a maior recuperação da história em asfalto e os maiores investimentos da história na saúde. São 18 obras em execução hoje na saúde e já inauguramos praticamente uma obra por mês, totalizando 11 entregues só na saúde. Conquistamos o AME, um mini hospital-dia de média complexidade, destravando isso pela credibilidade com o governador Tarcísio. Além disso, conseguimos uma policlínica de R$ 33 milhões e o AME, de quase R$ 106 milhões, do governo federal. Também conseguimos um equipamento imenso para tratar saúde mental, o Caps 3, com internação de até 10 dias, já que Marília estava devendo isso e estamos batendo recorde de suicídios. Na saúde, lançamos o Zera Fila, com atendimento de quase 50 mil pessoas. Na educação, equipamos as escolas, trouxemos alimento de qualidade, investindo quase R$ 2 milhões a mais de recurso próprio, economizando onde tinha que economizar.
MN – Marília tinha ficado para trás na comparação com outras cidades?
Vinicius Camarinha – A cidade ficou para trás. Não estava legal no aspecto visual e não era uma cidade que acolhia bem, como outras do porte de Marília, que estão investindo em reurbanização. O centro e os prédios públicos têm um aspecto muito antigo. Não temos parques nem áreas de lazer. Agora vamos entrar nessa nova etapa, planejando o Parque da Represa Cascata, a construção do novo bosque, o Parque Linear, na margem da ferrovia. Temos também o Parque da Criança com o Museu Internacional de Paleontologia, cujo recurso já está na conta, e o Parque do Povo, na zona sul, que será um parque gigantesco. Paralelamente, estamos investindo e olhando com atenção para a indústria, emprego e desenvolvimento, estudando um novo distrito industrial.

MN – Temos visto vários mutirões de emprego, várias ofertas, mas a impressão é que não estão conseguindo preencher essas vagas. Falta qualificação?
Vinicius Camarinha – A cidade vive pleno emprego. Só que precisamos melhorar a qualidade do emprego, com remuneração maior. Tem emprego, as pessoas estão empregadas, mas quanto melhor remunerar o seu povo, melhor a população pode viver. Estamos buscando muito isso e investindo em cursos de qualificação. Fizemos um movimento gigantesco com a Fatec. Vamos ter a nova Fatec na Univem, não mais naquele prédio da antiga cervejaria. Isso vai ser um centro municipal de tecnologia e inovação. Já estamos estudando um novo centro administrativo para Marília, porque não dá mais para ter esses prédios usados hoje, como a antiga cervejaria e restaurantes que ninguém alugava, que são inapropriados, sem acessibilidade, sem conforto e caros para a Prefeitura.
MN – A cidade aparentemente parece estar mais bem cuidada. Mesmo sem avançar em todas as áreas, isso já traz uma sensação diferente para a população?
Vinicius Camarinha – Concordo. As pessoas percebem que as coisas estão melhorando. Quando cheguei à Prefeitura, em frente ao prédio era uma bagunça no paisagismo, tudo feio, mal cuidado, terra, vegetação abandonada. Você viu o que a gente fez? É um cuidado simples: flor, grama. As pessoas adoraram. A Prefeitura é o quintal da casa da cidade. Temos um projeto de contratar mão de obra das próprias pessoas do bairro para fazer a zeladoria das praças, em vez de contratar uma grande empresa que acaba não dando conta. Vamos contratar quem mora no bairro para capinar, cuidar, e pagar por esse serviço.

MN – O que acha que ainda não avançou, que era compromisso seu e que ainda não conseguiu destravar?
Vinicius Camarinha – O que me incomoda muito é mato alto e sujeira. Ainda não temos uma equipe robusta para não deixar mato em canteiro central e calçadas. Isso está ruim. Saúde e educação estão andando bastante. Me incomoda essa parte do urbanismo e me incomoda ver a pobreza, pessoas em situação de rua, apesar de estarmos avançando bastante. Eu acho que atingimos muita coisa: recompusemos o saneamento, tiramos os radares, organizamos a saúde e a educação, ampliamos vagas nas entidades. Resgatamos a autoestima do mariliense.
MN – Como está a situação dos ônibus em Marília?
Vinicius Camarinha – Está para vencer. Já estamos com estudo. Devemos contratar uma empresa, porque eles estavam rodando com ônibus muito antigos, fora do contrato, e já notificamos. A concessão deve ser no ano que vem. Pedimos para uma empresa fazer um estudo para definir o melhor modelo de licitação e reorganização do sistema urbano.

MN – Você acha que esse modelo com duas empresas, uma em cada região, acaba não tendo concorrência?
Vinicius Camarinha – Não existe concorrência de transporte público urbano. Teria que ser uma empresa só, com bom padrão, boa regulação de preço e operando com qualidade. A logística dessas duas empresas é ruim, porque uma depende da outra para se comunicar, não há estratégia única.
MN – Como está a situação da arrecadação em Marília?
Vinicius Camarinha – Marília tem um déficit mensal de R$ 30 milhões. Se fosse uma casa, já estaria em falência. Fizemos o máximo para cortar despesas, como fusão de cargos e secretarias, redução de aluguéis e contratos. Conseguimos uma economia de quase R$ 3 milhões por mês, o que dá quase R$ 30 milhões por ano, mas o déficit mensal é de R$ 30 milhões. O que salvou muito foi a boa relação que construí com governador, presidente, vice-presidente e ministros. Esses investimentos que citei são recursos de fora; recurso da Prefeitura não tem nada.

MN – A questão da segurança. Há algum projeto nessa área?
Vinicius Camarinha – A Prefeitura não tem competência para ter polícia, mas vamos ajudar com tecnologia. Quero implantar o Smart Marília, com câmeras de alta resolução para apoiar a polícia. No mandato passado, isso foi abandonado. Vamos avançar na tecnologia para identificação de criminosos, placas de veículos e reconhecimento facial. Estamos fazendo parceria com a polícia e vamos descentralizar o quartel. A Prefeitura está contratando e pagando o aluguel para três companhias da polícia: centro, norte e sul.
MN – Tivemos um exemplo da força da natureza com uma chuva intensa e alagamentos. O que já está sendo feito para enfrentar essas fragilidades?
Vinicius Camarinha – Conseguimos R$ 42 milhões do PAC, do governo federal, para drenagem. Uma das obras será justamente naquela área que alagou no Jóquei Clube, na BR-153. A obra já está autorizada e devemos assinar agora em fevereiro ou março.
MN – É possível uma união de esforços com prefeitos da região para conseguir a duplicação da BR-153?
Vinicius Camarinha – Estamos fazendo um trabalho político, mas depende do governo federal e da renegociação de contrato.

MN – Projetos herdados da administração passada que o senhor deu seguimento ou precisou interromper?
Vinicius Camarinha – O projeto que demos seguimento foi a autorização da Planta Genérica. Tivemos que seguir porque era um contrato grande, mas adequamos para não penalizar a população. E a questão do Daem, que também tivemos que corrigir, porque foi uma concessão muito mal feita e a população saiu lesada. O resto, não encontrei nada.
MN – Acha que o investimento em infraestrutura deve aumentar nos próximos anos?
Vinicius Camarinha – Estou preocupado com tapa-buraco. Extinguimos a Codemar porque era ineficiente e cara. Vamos contratar a iniciativa privada, que faz mais pela metade do preço. O metro quadrado, em licitação, fica metade do valor da Codemar.

MN – Como tem sido a sua relação com a Câmara Municipal?
Vinicius Camarinha – Maravilhosa, muito boa. Não tem mais aquele ambiente de hostilidade e disputa política barata, que não leva a nada.
MN – Sempre que servidores ou terceirizados têm alguma demanda ou reclamação, vocês recebem aqui. Vocês acolhem todos?
Vinicius Camarinha – A gente acolhe, ouve, conversa, explica. Não tem razão para ficar protestando na frente. Vamos conversar, entender o problema. Em 100% dos casos, todo mundo se entende.
MN – Acha que amadureceu da sua primeira passagem pela Prefeitura até agora?
Vinicius Camarinha – Quem é o ser humano que não melhora dia a dia? Todos amadurecemos todos os dias.
MN – Acha que errou em algo nesse primeiro ano e pretende corrigir em 2026?
Vinicius Camarinha – Se erramos, foi tentando acertar. Não identifico um erro brutal que tenha trazido problemas para a população. Acho que temos muito mais acertos.

MN – E a situação do Aeroclube de Marília?
Vinicius Camarinha – Eles sairão de lá para dar espaço à ampliação do aeroporto, e nós daremos uma nova área. Não tem problema. Não tem como manter o mesmo espaço do Aeroclube. Vamos doar uma área, tudo dentro do que foi conversado.
MN – Como está o trabalho sobre o caso dos moradores dos prédios da CDHU?
Vinicius Camarinha – É uma demanda que encontramos, com mais de mil famílias deixadas na mão, um caos. Estamos indenizando quem tem interesse e encaminhando quem não era proprietário para a oportunidade da casa própria. Isso custa R$ 1 milhão por mês para a população de Marília.
MN – Sobre os comerciantes na linha férrea. O que ficou definido?
Vinicius Camarinha – Já avançou. Esses invasores que construíram lá serão indenizados e vão deixar o local. Eles têm que sair até o dia 1º de janeiro.
MN – Sobre a previdência dos servidores, como está a situação?
Vinicius Camarinha – Temos um plano. Primeiro, estamos pagando o que o governo anterior nunca pagou. Foram oito anos dando calote no servidor público e na previdência, o que é um crime, um absurdo. Estou criando um plano que vai melhorar muito a situação da previdência, envolvendo imóveis da Prefeitura e projetos modernos. Estou muito entusiasmado com o futuro de Marília.