Artigo: Remédio em excesso também mata, por Pedro Pavão
Por Pedro Pavão
A pandemia do novo coronavírus expõe o mundo todo a novos desafios e exigências que têm encontrado barreiras na falta de estrutura, preparo e serenidade. São tempos de epidemia em meio ao medo, novas exigências, fake news e pouca informação. É hora de ouvir especialistas.
E qualquer especialista em saúde, com o aval do reconhecido e respeitado ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, poderá explicar que remédio em excesso mata, geralmente por efeitos colaterais.
É preciso modular as ações e restrições impostas na contenção do coronavírus para que não sejam também a semente de um mal igual ou pior no futuro próximo.
O fechamento indiscriminado do comércio e a paralisação brutal da economia são, como definido na base de seus decretos, situações de emergência, que comportam pouco planejamento. Os primeiros resultados mostram que o tratamento merece mais atenção.
Em função dessa avaliação estamos produzindo a partir do Sincomercio Marília (Sindicato do Comércio Varejista de Marília) uma ação de mobilização das empresas, autoridades e entidades do setor para que as restrições sejam revistas.
O Sindicato vai encaminhar para diferentes lideranças da cidade, do Estado e do Congresso, propostas para reavaliação destas medidas com foco, não nas empresas ou nos lucros, mas no funcionamento do país durante e depois da crise.
Nenhuma morte é aceitável. Sabemos que o momento é de frear a progressão da doença, mas é preciso entender que essa penetração do vírus tem diferentes perfis em diferentes regiões, faixas de público e situações de estados e municípios.
Nenhuma falência, nenhum aumento desmedido no desemprego, nenhuma derrubada drástica da economia, deve ser aceitável como forma de proteger as pessoas e o próprio Sistema Único de Saúde (SUS), que afinal vive da arrecadação que empresas e empregados geram.
Vamos proteger pessoas de forma que permita salvar empresas, salvar empregos, manter a atividade pronta para retomada imediata assim que a crise esteja superada, ou estaremos condenados à crises econômicas, sociais, de segurança e saúde por muito tempo além desta epidemia.
Neste sentido, vamos encaminhar à Fecomercio, autoridades estaduais, Prefeitura de Marília e Câmara Municipal a aplicação de medidas nas seguintes áreas:
- Flexibilizar as restrições com o objetivo de abrir de forma planejada o comércio;
- Focar no controle da circulação de idosos, pacientes em situação de risco, como imunodepressivos e crianças;
- Regulamentar a ocupação dos espaços comerciais no que diz respeito ao número de clientes por metro quadrado de área de vendas, espaços entre pessoas e as devidas medidas de higienização e prevenção;
- Esperar do governo não sistemas de crédito, mas de anistia em impostos, contribuições e outras verbas que se tornem peso indevido, ainda que com prazo maior para pagamento;
- Esperar do governo investimento no suporte para fluxo de caixa, capital de giro, pagamento de salários e benefícios sociais indispensáveis, que podem estar atrelados a cadastros de registro em carteira ou contratos de trabalho já assinados antes da crise;
- Cobrar dos poderes públicos cortes de seus próprios gastos, adequação do uso de verbas pessoais dos donos de mandatos e despesas acessórias, como lanches refinados, combustíveis, divulgação de mandatos, gabinetes políticos e viagens nos três poderes.
Vamos salvar pessoas, agora e quando a crise do novo coronavírus passar.
***
Pedro Pavão é presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Marília e região.