Região da Cascata pode ser dominada por muros e portarias
A especulação imobiliária, que durou anos na região da represa Cascata, zona Leste da cidade, gerou uma supervalorização que pode provocar rápida ocupação da área. Os projetos, em sua maioria, são de condomínios. A tendência é que os muros prevaleçam.
A velocidade na instalação de condomínios gera dúvidas, entre os especialistas, se haverá espaço e tempo para projetos de áreas de lazer e até de estabelecimentos comerciais.
“O que vemos ali é uma reserva voltada para imóveis, com grande potencial de vendas. O mais provável é uma ocupação essencialmente residencial e muitos muros. Praticamente, muro com muro”, afirma Laerte Rojo Rosseto, arquiteto, urbanista e membro do Conselho de Habitação de Marília.
Ela aponta que Marília pode começar a sofrer uma situação já detectada em cidades como São José do Rio Preto, com grandes áreas ocupadas por condomínios – extensos muros – onde falta vida e movimento de pessoas.
“Vira um concurso de portarias. Por mais iluminadas que sejam estas avenidas, fica difícil fazer a segurança. Esse tipo de ocupação também desfavorece a mobilidade”, explica.
As áreas dominadas pelos condomínios fechados obrigam os moradores a usarem carros e motocicletas. “Isso mantém os gargalos nas avenidas e no Centro, porque não dá para comprar nada nestas regiões. Do ponto de vista urbano, gera-se uma monotonia”, afirma.
Plano diretor
A legislação que define a ocupação de solo urbano em Marília não prevê nenhuma obrigatoriedade para que as incorporadoras reservem áreas para venda de lotes – fora dos muros – nem mesmo terrenos comerciais.
Áreas de lazer também não estão previstas, como obrigação. O arquiteto Arnaldo Spachi Neto, que tem experiência acadêmica e no mercado, não vê com bons olhos a obrigatoriedade, mas fala em conscientização.
“Deveria ser natural, do empreendedor, fazer estes investimentos (praças e espaços esportivos abertos) para gerar valorização ao próprio condomínio. Não acho que deve-se obrigar, mas incentivar, inclusive com incentivos fiscais”, defende.
Ele explica que a decisão de cercar as áreas e manter espaços de lazer apenas internamente deve-se também a questão da segurança e boa utilização.
“É complicado fazer uma área de lazer e isso ser mal utilizado. Ali no Cascata mesmo existe projeto de um parque no entorno da represa, mas como garantir que as pessoas vão usar adequadamente, que não haverá badernas, que não vão detonar tudo?”, questiona.
Poder Público
A Prefeitura de Marília já contratou projeto para a construção de um Parque Linear na Cascata, mas não existe previsão de obra. No local também não existem outros equipamentos para prática de esportes ou lazer.
Atualmente, o ciclismo, as caminhadas e, eventualmente a pesca (proibida) são as atividades que levam pessoas para a região.
Há ainda a permanência de veículos e pessoas à noite, nas proximidades da represa e ao longo da avenida, muitas vezes com som alto.
A avenida construída para criar um cinturão de condomínios de luxo foi feita no final da gestão do ex-prefeito Vinicius Camarinha (PSB) e custou mais de R$ 4 milhões (fora os gastos com iluminação).
Contrato e aditivos foram julgados irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que viu no edital cláusulas restritivas à competitividade do certame.
A avenida liga diferentes regiões da zona Leste da cidade (Maria Izabel ao Parque das Esmeraldas) e facilita a o acesso entre as regiões Leste e as rodovias SP-294 – saída para Bauru – e Transbrasiliana, na saída para Ourinhos.