Recorde na geração de empregos em Marília é reflexo de crise no país
O recorde de geração de empregos formais em Marília no mês de outubro deste ano, que a princípio parece ser uma ótima notícia, na verdade, pode representar um reflexo nefasto da crise econômica atravessada pelos brasileiros. Grande parte dos novos postos de trabalho são relacionados à área de cobrança de dívidas.
O saldo de 786 postos de trabalho com carteira assinada – criados na cidade no décimo mês deste ano – é o melhor resultado desde o lançamento do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, em janeiro do ano passado.
Responsáveis por cobranças, entre outras funções, as atividades de teleatendimento representam 92% do saldo positivo registrado em outubro em Marília. Esse tipo de serviço contou com 726 admissões a mais do que demissões somente no mês retrasado.
Quando se leva em conta o acumulado do ano, entre janeiro e outubro, Marília computou a criação de 3.558 vagas de emprego com carteira. Neste caso, as atividades de teleatendimento totalizam 1.209 postos de trabalho formal, ou seja, 33% do saldo positivo total da cidade.
Apesar disso, nem todos os setores da economia, tanto local quanto nacional, apresentam o mesmo bom desempenho. A indústria mariliense, por exemplo, demitiu 82 profissionais a mais do que contratou em outubro, mês em que o Brasil teve o pior saldo geral desde abril.
Nos últimos dias, a Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou um dado que joga luz ao tema: o percentual de endividados está em alta desde janeiro com o maior patamar em quase 12 anos atualmente.
Cerca de 75,6% dos lares estão com dívidas – atrasadas ou não -, o que pode ajudar a entender os números da geração de emprego em Marília, alavancados pelo setor de teleatendimento. A CNC aponta que um quarto dos brasileiros tem contas vencidas não quitadas.
Outro fator que ajuda a entender o paradoxo mariliense é a presença da Paschoalotto na cidade, também presente em Bauru e Agudos. A empresa se apresenta como líder no mercado, responsável por recuperar R$ 1,1 bilhão de créditos por mês.
A Paschoalotto, que também atua com atendimento e vendas, é reconhecida pela atividade de cobrança através de diversos canais. A reportagem apurou que, em agosto, a empresa mantinha 3,8 mil funcionários em Marília. Agora, o número de contratados já passa dos cinco mil.