Reação à tragédia do RS vira problema no governo, e Lula busca contornar imagem
A tragédia no Rio Grande do Sul atravancou a estratégia de comunicação pré-definida pelo governo e, incomodado com a reação de oposicionistas às medidas federais, o presidente Lula (PT) planeja ações em resposta às críticas.
Integrantes do governo admitem falhas no enfrentamento da crise, especialmente na comunicação. A principal queixa apontada por Lula a pessoas próximas é que o Executivo federal não consegue obter reconhecimento pelas ações adotadas.
Ainda segundo aliados, o petista está contrariado com ataques às medidas nas redes sociais, as quais classifica como fake news.
O presidente estuda fazer um pronunciamento à nação para esclarecimento das ações. No domingo (12), o governo levou ao ar uma campanha publicitária para mostrar o que fez, apesar do alcance limitado em relação às redes sociais.
Além da decisão de estar pessoalmente presente no Rio Grande do Sul, incluindo nova viagem ao estado, o petista também tem exigido participação mais incisiva da equipe.
Lula passou a cobrar dos auxiliares a elaboração de medidas que tenham impacto imediato na população afetada pela catástrofe ambiental. Ele quer acompanhar o trabalho dos ministros.
De acordo com um integrante do Palácio do Planalto, o presidente reclamou com sua equipe da forma como seus eventos no estado foram organizados.
Lula queria ter demonstrado solidariedade pessoalmente aos atingidos pelas enchentes. No lugar disso, nas duas viagens que fez ao estado, sobrevoou áreas alagadas e teve encontros com autoridades. Por isso o petista prevê realizar um ato simbólico nos locais atingidos para contornar o que ele mesmo reconheceu ter sido um erro de agenda.
O mandatário também quer ampliar o atendimento aos atingidos pela catástrofe, não se restringindo à faixa de renda inferior a dois salários mínimos. A inclusão da classe média entre os beneficiários e a oferta de linhas de financiamento estão entre as medidas.
Embora seja considerada um desafio, a reação à tragédia no Sul também é vista por uma parte do governo como uma forma de aproximar Lula de uma parcela da população refratária à sua gestão.
Pesquisa Quaest divulgada na semana passada mostrou que Lula tem 33% de avaliação positiva, os mesmos 33% de opiniões negativas e 31% de regulares. Os resultados mostram estabilidade em relação ao levantamento anterior, realizado em fevereiro, que registrou 35%, 34% e 28%, respectivamente.
A margem de erro da pesquisa, realizada entre os dias 2 e 6 de maio, é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A Quaest também perguntou a opinião sobre a avaliação do trabalho que o chefe do Executivo está fazendo neste terceiro mandato: 50% aprovam o trabalho de Lula, ante 51% na rodada anterior, e 47% reprovam, contra 46% de fevereiro. Não souberam ou não quiseram responder 3%.
Nesta segunda (13), novo recorte do levantamento foi divulgado apontando que Lula tem 46% de intenções de voto para a eleição presidencial de 2026, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 40%.
Ainda segundo a pesquisa, mais da metade dos entrevistados (55%) respondeu que Lula não merece mais uma chance como presidente em 2026, enquanto 42% pensam o contrário; 3% não opinaram.
Secretário de Comunicação do PT, o deputado Jilmar Tatto (SP) afirma que a avaliação dos governos Lula melhora no final. “Não chegamos nem na metade do mandato. Mesmo assim, como candidato, Lula ganha todas”, disse.
Já o secretário-geral do PT, o ex-deputado Henrique Fontana (RS), diz que o político enfrenta uma narrativa mentirosa sobre a tragédia no Sul que tende a se dissipar com o esclarecimento das ações.
“Prefiro valorizar que a pesquisa mostra a vantagem de Lula no processo eleitoral. Com o resultado de seu trabalho, daqui para diante, Lula tende a crescer.”
Nesta segunda, durante reunião de emergência para tratar da crise climática no RS, Lula cobrou de seus ministros para que haja coordenação nas falas e ações.
Lula pediu que alguns ministros retratem a realidade em suas falas e não fiquem “inventando coisas” que ainda não foram discutidas no âmbito do governo.
“Cada ministro que for falar, ou cada ministra, [é preciso] tentar falar sempre a mesma coisa que está acontecendo, não ficar dizendo coisas que não estão acontecendo, ficar inventando coisas que ainda não discutiu”, afirmou o presidente.
“Ou seja, não dá para cada um de nós que tem uma ideia anunciar publicamente essa ideia. Uma ideia é um instrumento de conversa no governo para que a gente transforme a ideia numa política real. Não é cada um que tiver uma ideia, vai falando da sua ideia, vai dizendo o que vai fazer, porque isso termina não construindo uma política pública sólida e uma atuação muito homogênea do governo, no caso do Rio Grande do Sul”, completou.
A reunião ministerial ocorreu no fim da tarde, no Palácio do Planalto, e o áudio da fala inaugural de Lula foi divulgado pela Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).
Todos os 38 ministros participaram da reunião, que foi convocada em caráter emergencial pelo presidente, para discutir as ações federais para enfrentar a calamidade climática.
Lula disse que é um compromisso seu deixar o Rio Grande do Sul “como era antes da chuva”.
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POR CATIA SEABRA E JULIA CHAIB