O sertão e o rio: a história do homem que plantou imensos sonhos e colheu livros
Relembro uma crônica-saudade que redigi cinco anos atrás, quando se completaram 12 meses da partida de um dos meus grandes amigos emergidos através da Literatura: o mineiro radicado em Mato Grosso, Romulo Nétto.
Seis anos se passaram desde que Romulo partiu para um plano superior, deixando aqui nesta existência sua companheira Beth, suas duas filhas e uma obra literária sólida.
Há seis anos a Literatura brasileira perdia um escritor. Eu, um amigo.
Vivi o tempo de Romulo Nétto, mas o seu tempo literário era contemporâneo ao de grandes nomes da nossa literatura: Guimarães Rosa e Osório Alves de Castro. O sertão que inspirou Rosa ao longo de sua obra, o cenário onde Riobaldo e Diadorim trilharam sua sina e o rio São Francisco, que irrigou os romances do baiano radicado em Marília, Osório Alves de Castro, também floresceram nos textos de Romulo Nétto.
Os três praticaram uma Literatura arrebatadora.
Poeta dos deserdados, Nétto trazia a técnica da narrativa jornalística, a visão aguçada do homem crítico e, ao mesmo tempo, sustentava a pureza dos caboclos do sertão, dos pescadores das barrancas do São Francisco, dos lavradores que depositam não apenas semente na terra, mas esperança de colheita em fartura.
Assim como Osório, que teve suas cinzas absorvidas pelas águas de um rio, Romulo Nétto também teve este desejo atendido e sua existência hoje se mistura ao volume do corpo d’água do rio em que ele e seus irmãos brincavam na infância.
O vigor de Romulo persiste, basta abrir qualquer um de seus livros, publicados pela Carlini & Caniato ao longo das duas últimas décadas. Uma produção editorial de fôlego. “Sertão de sangue”, que integra a série denominada de Faroeste Sertanejo, quase foi adaptado para o cinema. Reescrevo em homenagem e em gratidão a este amigo que a Literatura me trouxe e o destino levou para outra dimensão.
Mas seus ensinamentos e inspiração ficaram. “O seu roteiro não tem volta, só tem ida pra findar a sua vida na amplidão azul do mar”, diz o trecho de uma das modas mais bonitas já compostas por nossos poetas do Brasil de dentro: José Fortuna e Carlos César.
O nosso roteiro não tem volta, só ida. Assim foi a vida e obra de Romulo Nétto, que plantou sonhos e colheu livros.