Crônica em forma de abraço para Licina Soares
Desde pequeno sempre gostei muito de filmes épicos. Acho que nem tinha oito anos quando eu fiquei deslumbrado com a cena, transmitida num Supercine de algum sábado da década de 1980, de Moisés, interpretado por Charlton Heston (1923-2008), abrindo o mar para que os hebreus pudessem atravessar para o outro lado com segurança. O profeta liderava sua gente sofrida na caminhada à Terra Prometida, deixando o tempo de escravidão para trás.
Antes, neste mesmo longa-metragem incrível, “Os Dez Mandamentos”, de Cecil DeMille (1881-1958), lançado em 1956, fiquei intrigado com uma cena e perguntei para minha mãe: “Por que aquele homem fica mais velho toda vez que desce do monte?”.
A cada visita de Moisés ao Monte Sinai, onde conversava com o arbusto em chamas, mas que não se consumia, o profeta ficava mais sábio e, por isso, voltava com os cabelos brancos. Assim minha mãe me explicou e pude seguir compreendendo o filme. Muitas vezes me sinto mais sábio quando volto de algum lugar ou converso com alguma pessoa. É assim quando vivo fechamento de ciclos ou quando realizo entrevista com alguém que domina determinado assunto. Uma destas fontes sábias, é a sacerdotisa de umbanda Licina Soares.
Ao menos uma vez por ano faço uma longa entrevista com ela e, confesso, que a cada término destas matérias, me sinto mais sábio. Assim, guardadas as devidas proporções e com o devido respeito, consigo nestes momentos ter uma certa clareza das cenas dirigidas por Cecil e na metáfora do envelhecimento de Charlton Heston a cada descida do monte.
Licina Soares concentra amplos conhecimentos e uma simplicidade que encanta. Quantas vezes a ouvi no rádio, pela manhã, falando sobre os signos. Ficava atento para quando chegasse nas orientações ao signo de gêmeos, o meu. Há anos a entrevisto no final do ano para as previsões do ano que se aproxima. Licina sempre disposta faz as leituras no tarô e também nos búzios. Dias desses, estive com Licina Soares, na residência dela no bairro Alto Cafezal. Lá em sua sala, notei algo que me deixou profundamente feliz e realmente muito honrado: a Licina Soares mantém na estante um quadrinho com uma foto que tiramos juntos numa dessas minhas visitas para reportagem. Fiquei emocionado com tamanho afeto.
A astróloga me ensina muito e, cada vez que lá passo, aprendo algo de muito profundo. Licina se dedica à Umbanda há mais de 50 anos e me ensinou que esta religião é genuinamente brasileira, concentrando as três etnias que formam o povo brasileiro – povo tão sofrido quanto o povo hebreu – o índio, o europeu e o negro.
Ano passado, quando lá estive, Licina me presenteou com uma estátua do meu santo protetor: São Jorge. A estátua fica aqui, ao lado dos meus livros e de outras que me dão muita força. Se esta crônica servisse de abraço, queria que ela chegasse até a minha amiga Licina Soares e que Deus a continue iluminando para que nos ilumine com sua sabedoria, conhecimento e fé. Um abraço minha amiga!