Bolsonaristas ainda fazem vigília no TG depois de quase 60 dias
Manifestantes contrários ao resultado das eleições no Brasil seguem em vigília em frente ao Tiro de Guerra (TG) 02-059, no bairro Palmital, zona Norte de Marília. Em ato de protesto, os eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL) estão acampados na praça desde o último dia 2 de novembro, com uma grande estrutura que conta com barracas, banheiros químicos, sistema de som com microfone e até mesmo um freezer para manter a água gelada. Ao que tudo indica, há a possibilidade de deixarem o local depois de quase 60 dias de ato.
Na tarde desta segunda-feira (26) cerca de 80 pessoas permaneciam no local. Sentados em cadeiras de praia, usando camisetas da Seleção Brasileira ou com bandeiras do Brasil nas costas, os ativistas conversavam sobre o rumo do país, tomavam café e chupavam laranja. A maioria era formada por pessoas com mais de 50 anos, aparentemente.
Além de duas estruturas grandes montadas na praça, existem cinco barracas de acampamento pelo local. Quem foi à praça na tarde de ontem teve a oportunidade de tomar um café e bater um papo. A estrutura ainda conta com várias bandeirinhas espalhadas, além de três grandes bandeiras do Brasil esticadas e uma de Israel.
A maior parte dos bolsonaristas usava camisetas amarelas. Um dos manifestantes estava com a camiseta número 10, com o nome do atacante Neymar nas costas. Outro “camisa 10” do Brasil usava uniforme do título mundial de 1994, da fabricante Umbro. A numeração foi usada na Copa dos Estados Unidos por Raí, apoiador do presidente Lula (PT).
Algumas camisetas também traziam inscrições. Um casal de idosos chegou com camisetas pretas, de um acampamento de Curitiba-PR, com a frase: “Vou pra guerra com Bolsonaro”. O vestuário bolsonarista também dizia que “O Brasil que queremos só depende de nós” e “Tribunal Constitucional Militar”.
“Eles estão esperando a hora certa para agir. O Bolsonaro não está mais presidente. Dentro de algumas horas vai estourar algo. Muitos vão ser presos. É muita coisa que está para acontecer”, afirmou uma manifestante de camiseta verde e cabelos grisalhos.
Enquanto conversavam, os bolsonaristas comiam bolachas e havia uma bacia com laranjas. Qualquer um poderia se servir. A água também estava disponível e era compartilhada pelos manifestantes, mas às 17h o líquido acabou. Uma integrante do movimento de apoio ao presidente pegou o microfone e avisou sobre a falta.
Quando falou aos demais manifestantes, indicou que não ficariam por pouco tempo em frente ao Tiro de Guerra. Ela afirmou que não era para levarem muitos fardos de água, pois em breve levantariam acampamento.
“A luta ainda não acabou. Não temos mais água. Estou com um galão grande e vai tomando de copo, até chegar água. Se alguém quiser trazer, não é para trazer de 10 ou 15 fardos. Pode trazer um fardinho, para que a gente aguente até o dia de levantar acampamento. Vamos continuar mantendo a ordem e a limpeza. Vou precisar de todos aqui para deixar essa praça melhor do que a gente pegou”, disse a mulher que parecia líder entre os presentes.
O acampamento bolsonarista conta com quatro banheiros químicos e um sistema de som que durante toda a tarde tocou o hino nacional, hino à bandeira e outras músicas nacionalistas. A eletricidade foi “puxada” de uma caixa de energia da praça. Os manifestantes aproveitam para carregar aparelhos celulares e até mesmo para deixar um freezer ligado, 24 horas por dia.
Um bolsonarista chegou ao acampamento depois das 17h, usando máscara de proteção facial. Questionado pelos companheiros, contou que teve febre durante toda a noite e precisou de atendimento médico. Ele disse que estava com muita tosse e sintomas de Covid-19, mas que precisava aguardar alguns dias para fazer o teste. Apesar da máscara, a suspeita de estar doente não o impediu que cumprimentasse os demais manifestantes com um aperto de mão.
“Eu cheguei a ficar com 38,7 de febre nesta noite. Estava com a garganta raspando, tosse e dor no corpo. Passei no médico e só vou fazer o teste daqui três dias. Vim de máscara, mas não podia deixar de passar aqui para ver vocês”, alegou o homem.
O Marília Notícia questionou a Prefeitura de Marília se havia autorização para ocupação do local, se era permitido para qualquer pessoa utilizar a energia elétrica de praças da cidade, se era preciso pagar alguma taxa pelo serviço e se qualquer pessoa poderia fazer o mesmo em outras praças do município. Até o fechamento desta reportagem não houve resposta sobre as questões.