Professor é ameaçado de morte e abandona emprego no RJ
Humilhado, ameaçado de morte e agredido de forma racista por alunos de 17 e 18 anos, quando tentava aplicar uma prova na terça-feira (11), o professor de Língua Portuguesa Thiago dos Santos Conceição teme pela vida. Ele já se desligou do Ciep Mestre Marçal, em Rio das Ostras, a 150 km do Rio, onde ocorreu a agressão. E deixou o município definitivamente.
“No vídeo (gravado por um estudante durante o episódio de agressão), dá para ouvir claramente um garoto dizer: ‘Esse aí veio da Nigéria’. Fazem como se fossem brincadeiras. Mas não são. Tem um ditado popular que diz: ‘Quem ameaça faz’”, disse Conceição, que é negro.
Conceição, de 31 anos, dez de profissão e há sete meses na unidade de ensino, tem enfrentado dificuldade para dormir. Chora e se sente impotente por não conseguir exercer sua profissão como gostaria. Enxerga os alunos, que estão no 9.ª ano, como vítimas de um contexto social difícil. “Eu tenho esperança de que esse cenário pode mudar. Acredito na Educação”.
Questionado sobre as ameaças, o professo informou que somente pediu silêncio.
“Eu estava dando a prova, e os alunos resolveram agir daquela forma, com toda aquela agressividade. Estavam transtornados. Não teve discussão, nada antes. Eu lido com aquele contexto. Eles foram para a sala já com aquele objetivo. Não queriam fazer a prova. Eu pedia para ficarem sentados e em silêncio”.
“Eu fui empurrado, recebi ameaça direta. No vídeo você ouve dizer: ‘Vou matar’. Não quero pagar para ver. Saí de Rio das Ostras e não volto. Mas não quero que (os alunos envolvidos no incidente) sejam expulsos. Tem de haver ação pedagógica, isso sim. São diversos fatores que levaram àquela situação, questão social, negligência dos pais. Não adianta transferi-los de escola, e outro colega passar pelo que passei”, finalizou.