Primeira-dama amplia influência e ‘leva Daniel’ para a periferia
O salto alto e a roupa social não são empecilhos para o bom trânsito e a receptividade nas periferias. Com envolvimento, Selma Regina Alonso, primeira-dama de Marília e presidente do Fundo Social de Solidariedade, ganhou influência na pandemia.
A esposa do prefeito Daniel Alonso (PSDB) fez o que muitos julgavam improvável: “levou o marido” para as comunidades. Com incursões diárias, tem ajudado a derrubar o estigma criado pela oposição de administração apartada do povo.
Em redutos onde a oposição garantia ter espaço consolidado, a primeira-dama posa à vontade para as fotos com as moradoras, comanda orações no meio da rua e conforta mulheres que vivenciam dramas sociais e exclusão.
Dona Regina, como é chamada pela equipe de funcionários e voluntários do Fundo Social, cumpre as expectativas do cargo desde o início da gestão, mas se agigantou após a pandemia do novo coronavírus.
“Tive que divulgar mais, ficar mais exposta, para também expor a causa. É urgente, é grave, muitas pessoas estão em extrema carência e precisam do básico. Temos que levar alimento”, disse em entrevista ao Marília Notícia.
Ela intensificou as ações e mobilizou a população; de empresários a pequenos doadores individuais. São cestas básicas, máscaras de proteção facial e apoio a entidades que levam atendimento, principalmente, de emergência alimentar.
No primeiro semestre deste ano, o número de cestas básicas entregues pelo Fundo Social passou de 23 mil e superou, em cinco vezes, o número de doações do mesmo período do ano passado.
Uma única empresa doou 10 mil cestas básicas. No período mais crítico da pandemia – em abril – as entregas nos bairros chegaram a ser diárias, tudo acompanhado pela assessoria de comunicação da Prefeitura.
A divulgação, aposta ela, dá transparência e incentiva outros empresários a também fazerem doações. Faz a confiança da população no trabalho aumentar e motiva a equipe do Fundo Social.
Nos últimos dois meses, Regina tem dividido o tempo entre as entregas nas comunidades e as reuniões nas empresas, para captar mais doações.
Lideranças políticas
A articulação do Fundo Social de Solidariedade, para que os alimentos cheguem a quem precisa, é feita através de 56 líderes comunitários.
São presidentes de associações e pessoas identificadas – pela população – pela capacidade de resolver problemas locais, fazer a ponte entre necessidades e serviços públicos.
Nesse meio, Regina encontra várias pessoas envolvidas com a oposição. A escolha dela é seguir em frente, para que a ajuda chegue a quem precisa. Dialogar com eventuais adversários políticos de Daniel não é obstáculo.
“Nesse trabalho que eu realizo, fico tão feliz quando vejo as pessoas beneficiadas, que isso não importa. A verdade vai prevalecer. Acreditamos que reconhecimento ao trabalho que a administração está fazendo virá, mas hoje o que precisamos é garantir o alimento”, afirma.
Em uma das fases mais difíceis do governo, entre o segundo e início do terceiro ano do mandato – quando adotou várias medidas impopulares – o nome da primeira dama chegou a circular como eventual candidata, ao invés da reeleição do marido.
Ela nega que tenha havido qualquer pretensão, tanto de renúncia de Daniel à briga pela sucessão quanto desejo dela de governar a cidade.
“Jamais isso foi cogitado entre nós. Cada um tem seu papel e meu marido é um homem capaz, competente. Dia após dia está mostrando isso”, garante.
Referência às mulheres
Independente de comportamento, condição social e a religião que professa – evangélica – Regina afirma acreditar na mensagem do “amor de Jesus”, que em sua essência, contempla todas as pessoas.
Ela acredita que a proposta de oração nas comunidades durante entrega de alimentos tem tido adesão, justamente, por serem inclusivas, sem nenhum tipo de preconceito.
Filha de um lavrador e uma costureira, nascida em Herculândia, Selma Regina tem origem em família do campo, sem riquezas materiais. Prosperou com o marido, comerciante de materiais de construção.
Eficiente na comunicação com pequenos grupos, ela reproduz em sua história um pouco da esperança de muitas mulheres, que também sonham com dias melhores, filhos saudáveis, instruídos e independentes.
“Todo trabalho, dedicação, investimento na família gera um retorno. Se as pessoas se espelham, acreditando que é possível melhorar de vida se esforçando, buscando isso gradativamente, pelo seu próprio esforço, penso que sim, que posso ser inspiração para outras mulheres”, afirma.
A presidente do Fundo Social diz que descobriu a “boa política”, embora garanta que vai continuar militando na frente assistencial. “A política, quando bem feita, quando tem propósito de melhorar as vida das pessoas, é transformadora. Meu objetivo está se cumprindo, mas vemos que ainda tem muita coisa para ser feita”, acena.