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Uma nova abordagem de imunoterapia desenvolvida por cientistas americanos levou à eliminação completa de um câncer de mama avançado em uma paciente cujo organismo não respondia a nenhum outro tipo de tratamento e que já apresentava metástase. O experimento teve seus resultados publicados nesta segunda-feira, 4, na revista científica Nature Medicine.
De acordo com os autores da pesquisa, é a primeira vez que um paciente em estágio avançado de câncer de mama teve um tratamento bem-sucedido com uma forma de imunoterapia, que utiliza as células do próprio sistema imunológico do paciente para destruir as células tumorais que se formam no organismo.
A paciente submetida à imunoterapia, Judy Perkins, uma engenheira de 49 anos da Flórida (Estados Unidos), foi selecionada para os testes depois de passar por diversas sessões de quimioterapia, que fracassaram no objetivo de impedir que o tumor em sua mama direita crescesse e se espalhasse para outras áreas do corpo.
Após a quimioterapia, Judy foi informada de que teria no máximo mais três meses de vida. Mas, de acordo com os médicos que a trataram com a imunoterapia, no Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, em Maryland, ela teve uma resposta imunológica “notável”. A terapia varreu as células de câncer com tanta eficiência que Judy já está livre da doença há dois anos.
“Nós desenvolvemos um método de alto rendimento para identificar mutações presentes em um câncer que foi reconhecido pelo sistema imunológico”, disse um dos autores do novo estudo, Steven Rosenberg, do Instituto Nacional do Câncer.
“Essa pesquisa é experimental neste momento. Mas, como essa nova abordagem de imunoterapia depende de mutações, e não do tipo de tumor, ela é em certo sentido um molde que podemos utilizar para o tratamento de vários outros tipos de câncer”, afirmou Rosenberg.
A nova abordagem de imunoterapia, de acordo com Rosenberg, é uma forma modificada da “transferência adotiva de células” (ACT, na sigla em inglês), que tem mostrado eficácia para o tratamento de melanoma – um tipo de câncer que tem altos níveis de mutações em células somáticas.
No entanto, a ACT não tem sido eficaz para alguns tipos de tumores epiteliais, que se originam no revestimento de órgãos como o estômago, o esôfago, o ovário e a mama, e que se caracterizam por baixos níveis de mutações.
Em um ensaio clínico de fase 2, ainda em andamento, os cientistas estão desenvolvendo uma forma de ACT que utiliza linfócitos infiltrantes de tumores (TIL, na sigla em inglês), que têm como alvos específicos as mutações em células de câncer. A ideia é descobrir se é possível encolher os tumores em pacientes com esses tipos de câncer epitelial.
Como em outras formas de ACT, os TILs selecionados são cultivados em laboratório, em grande número, e são depois injetados de volta no paciente para produzir uma resposta imunológica mais forte contra o tumor.
Para tratar Judy, os cientistas sequenciaram o DNA e o RNA de um de seus tumores e também de uma amostra de tecido normal, a fim de descobrir quais mutações eram exclusivas de seu cÂncer. Eles identificaram 62 mutações diferentes nas células tumorais da paciente.
Os cientistas, então, testaram diferentes TILs extraídos da paciente para descobrir quais deles eram capazes de reconhecer uma ou mais das proteínas com mutações. Os TILs reconheceram quatro das proteínas mutantes e os cientistas então os expandiram e injetaram de volta no organismo de Judy. Depois do tratamento, todos os tumores da paciente desapareceram e não reapareceram por mais de 22 meses.
“Esse é um relato ilustrativo de um caso que destaca, mais uma vez, o poder a imunoterpia. Se os resultados forem confirmados em um estudo mais amplo, essa imunoterapia promete no futuro expandir o alcance dessa imunoterapia celular a um espectro maior de tumores”, disse Rosenberg.
Os pesquisadores observaram resultados semelhantes com a utilização de um tratamento de TIL com alvo em mutações no mesmo ensaio com outros tipos de tumores epiteliais, incluindo câncer de fígado e câncer colorretal. De acordo com Rosenberg, resultados como este em pacientes com tumores epiteliais sólidos são importantes porque a ACT não tem sido bem-sucedida no tratamento desses tipos de tumores e de outros que têm mais mutações.
“Todo câncer tem mutações e é isso que estamos atacando com essa imunoterapia. É irônico que as muitas mutações causadas pelo câncer possam se tornar os melhores alvos para os tratamentos de câncer”, disse Rosenberg.