Presentes de Alckmin estão em porão de museu
O acervo é formado principalmente por quadros e livros dados de presente ao tucano entre 2001 e 2006. Embora reconheça a importância do material, o diretor municipal de Cultura, Alcemir Palma, diz que o museu não tem condições de mantê-lo em ambiente ventilado e com temperatura controlada. “Essa acomodação em que está hoje não é a ideal, mas estamos em tratativas para decidir o que será feito para que o acervo possa ser melhor utilizado”, afirmou.
A rigor, o conjunto doado por Alckmin nunca foi totalmente exposto. Segundo Palma, o catálogo inicial das peças foi feito em 2005 pelo Palácio dos Bandeirantes, meses antes de Alckmin renunciar ao cargo para concorrer pela primeira vez à Presidência da República.
Uma parte foi levada para o museu no início de 2007 e o restante até o ano seguinte. O transporte foi feito num caminhão do próprio governo, de acordo com a prefeitura de Pindamonhangaba. Em 2009, foi contratada uma empresa para fazer o levantamento, que vem sendo atualizado. “Precisamos da formalização dessa doação, de um documento oficial, que ainda não temos. Daí vamos ter mais segurança para fazer uma nova gestão desse acervo”, diz
A informalidade levou, em 2016, o diretor do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Gustavo Tótaro, a entrar com representação no Ministério Público Estadual em Pindamonhangaba questionando a incorporação do acervo. “Geraldo Alckmin é um político vivo e não deveria ter sua imagem atrelada a um patrimônio público. Há um custo de zeladoria que onera o município”, afirmou Tótaro à reportagem. A Promotoria não viu razão para a abrir ação.
De acordo com o atual diretor do museu, José Caramez, o acervo de Alckmin não gera custo extra. “Os contratos de manutenção e dedetização levam em conta a estrutura toda. Além disso, os funcionários são os mesmos há dez anos.”
Nesse período, algumas peças sumiram do museu, como o quadro “Paisagem Interiorana”, de Helena Caiado, retratando a cidade de Pirapora do Bom Jesus, e o livro “Projeto Portinari”, da PUC do Rio de Janeiro. Em contrapartida, foram encontradas 14 peças que não constavam do registro, como um oratório de São Francisco de Assis.
Na cidade, pouca gente conhece o material. “Moro quase em frente e frequento o museu direto, mas a gente não vê nada do Alckmin. Já teve exposição, mas faz muito tempo”, disse o comerciante Edmar de Campos.
A assessoria do Palácio dos Bandeirantes afirmou que, em 2007, a direção do museu de Pindamonhangaba demonstrou interesse em receber o acervo em nome do interesse público. “O governador concordou com a doação. O acervo ou parte dele é exposto de acordo com a programação do museu e, quando não, é mantido como reserva técnica, como é comum em qualquer museu”.
O Palácio informou ainda que “o município de Pindamonhangaba está em tratativas para a formalização da doação, com a qual o governador concorda.” Segundo o atual procurador-geral do Estado, Juan Carpenter, não há uma regra ou lei específica em São Paulo sobre o acervo de governadores. “Na prática, o que foi doado para o governo fica no governo, o que é presente pessoal, como retratos e homenagens legislativas, é do governador.”
Novo acervo
Com Alckmin de novo fora do Bandeirantes, um novo acervo está disponível. A reportagem teve acesso a uma parte das 706 peças que compõem esse conjunto atual de presentes, como quadros, imagens de santos, porcelanas, pratarias e cristais.
De acordo com a assessora da curadoria do acervo artístico do Estado, Karen Carvalho, 30 objetos foram selecionados para serem expostos nos palácios estaduais. Os demais serão doados para o fundo social, para serem leiloados. Já as homenagens pessoais, como retratos de Alckmin, foram levadas por ele e, caso haja interesse, podem seguir para Pindamonhangaba. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.