Precarização do Samu afeta socorristas e trabalhadores passam até frio em Marília
Socorristas passando frio por falta de uniformes, botas e capas de chuva em viaturas com infiltrações e pneus “carecas”. Essa é a situação denunciada por funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Marília, atualmente gerido pela Santa Casa de Chavantes. O contrato assinado no ano passado, com vigência até 2027, é de R$ 11 milhões.
“É um descaso com os trabalhadores. Vários colegas fazem plantões com frio porque faltam agasalhos e não é permitido usar roupas comuns nem na base, nem em atendimentos na rua. Os colchões do alojamento estão no chão, porque não há camas suficientes”, afirma socorrista que prefere não se identificar.
De acordo com o trabalhador, não há Equipamento de Proteção Individual (EPI) para todos e há a necessidade que as equipes compartilhem os materiais essenciais à segurança de todos. Profissionais ainda estariam trabalhando com acúmulo de funções de forma irregular, como condutores e socorristas.
“O registro em carteira dos motoristas deveria constar como condutores e socorristas, pois todos exercem também essa função”, garante um dos denunciantes.
A situação precária é confirmada por uma ex-funcionária, que trabalhava até poucos meses na unidade. “Já fiquei 12 horas seguidas com o macacão molhado de chuva por falta de uniforme”, conta. De acordo com ela, não é incomum ver os colegas trabalhando de tênis, por ausência de botas disponíveis.
Além da precarização das condições de trabalho, as ambulâncias que recebem os pacientes também se encontram em circunstâncias deploráveis, segundo os funcionários que conversaram com o Marília Notícia sob a condição de anonimato.
“Estamos vivenciando um total abandono da frota. Tem veículo que está com pneus carecas. Em outro caso, a porta só abre com um barbante amarrado. Há infiltração em algumas viaturas e acaba molhando e danificando equipamentos. No final, quem sofre é a população”, afirma o denunciante, que também aponta para a falta de lençóis para pacientes.
RECORRENTE
De acordo com funcionários que conversaram com o Marília Notícia, a conjuntura teve início durante a antiga administração – como a falta de EPIs, falta de higiene no alojamento e viaturas precárias -, e só piora com o passar do tempo.
Desde novembro de 2022, a Santa Casa de Chavantes (distante 110 quilômetros de Marília) é a gestora responsável pelo serviço. O contrato de cerca de R$ 11 milhões foi assinado depois que a entidade venceu o processo de licitação promovido pela Prefeitura.
Pouco mais de sete meses do início da vigência contratual, a instituição ainda não conseguiu sanar os principais problemas apontados pelos funcionários.
OUTRO LADO
Em nota, a Santa Casa de Misericórdia de Chavantes afirma que cumpre todas as obrigações do contrato de gestão nº 1.622/2022, firmado com o município de Marília.
“Todas as contratações realizadas pela Santa Casa de Misericórdia de Chavantes, bem como as obrigações contidas durante o período de labor, atendem as normas trabalhistas em vigor, com os salários em dia e seguindo as convenções coletivas aplicáveis, sendo que até o momento nenhum colaborador se manifestou formal ou informalmente referente aos supostos pontos denunciados.”
“Quanto à estrutura da unidade, as melhorias estão sendo implantadas conforme o contrato, sendo que a parte predial e mobiliária foi herdada de forma precária. Neste sentido, a fim de aplicar as referidas melhorias, foi implementado o planejamento e execução de melhorias, que seguem um cronograma específico (do mais importante e urgente ao menos importante e urgente para o atendimento à população); sendo que após o início da nova gestão, já foram implantadas as melhorias de: controle de rotas de ambulâncias, call center informatizado, controle informatizado de ocorrências, prontuário eletrônico das ocorrências, rastreabilidade das medicações e procedimentos realizados nos pacientes durante o atendimento, localizador de ambulâncias, seguros dos veículos, informatização dos processos de trabalho, salas de treinamento, e disponibilização de novos uniformes.”
De acordo com a organização social, além disso há regulação e parceria alinhada com Corpo de Bombeiros, o qual evitaria o envio de carros desnecessários ou errados para atendimento de ocorrências, sendo que todas as melhorias foram voltadas como característica assistencial ao atendimento da população. “Compara-se a melhoria referida com os dados a seguir: antes do início da gestão da Santa Casa de Misericórdia de Chavantes, havia a média de 100 saídas em média de ambulância de suporte avançado por mês (dados out/nov 2022), e atualmente a média é de 300 saídas de carros por mês (dado janeiro a março 2023). São 3x mais saídas.”
Ou seja, segundo a entidade, através destes dados é possível a clara demonstração de que a organização e implantação das melhorias trouxeram benefícios aos munícipes. “Quanto aos uniformes e EPIs, não há falta, inclusive foi reforçada a compra no início da gestão da Santa Casa de Misericórdia de Chavantes, já que estavam deficitários, sendo que é seguida a padronização proposta pelo Ministério da Saúde para os Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).”
A Santa Casa de Chavantes diz ainda que “nossa meta sobre este assunto é adquirir novos bens imobilizados para um melhor conforto aos colaboradores, diante de termos verbas carimbadas para gastos no projeto, solicitamos autorização para a Secretaria da Saúde, e estamos aguardando o retorno.”
Quanto ao estado das ambulâncias, “informamos que no início do contrato de gestão, recebemos os veículos da Prefeitura de Marília, e implementamos um programa de manutenção corretiva e preventiva a fim de garantir que sempre estejam em condições de uso. Gostaríamos de ressaltar que esse tipo de denúncia visa desgastar a imagem de algo que não foi aventado internamente, visto que só foram feitas melhorias, e não foi retirado nada do que já estava sendo desenvolvido pela Prefeitura de Marília.”