Policial que ignorou ‘carteirada’ vai para SP fazer especialização
O sargento da Polícia Militar (PM) Alan Fabrício Ferreira, que foi afastado do policiamento de trânsito após apreender um carro registrado em nome da vereadora Daniela D’Ávila (PL), inicia nesta segunda-feira (24) um curso de especialização na área, em São Paulo.
A informação foi confirmada em nota da comunicação social da PM.
O curso estaria marcado desde março, mas foi suspenso em razão da pandemia de Covid-19. A nota reforça ainda que o treinamento é o “motivo pelo qual não exercerá as atividades na cidade de Marília”.
Ainda na nota, a PM também confirmou que o caso – revelado pelo Marília Notícia e atualmente com repercussão nacional – deixa a esfera decisória de Marília e passa a ser investigado pelo Comando de Policiamento do Interior (CPI/4), que é sediado em Bauru.
A Polícia Militar não detalha quais fatos específicos serão investigados, mas aponta que “todas as circunstâncias relativas ao fato” serão apuradas. Pelo menos três situações devem ser alvo de investigação.
A primeira teve início em Marília e trata da regularidade da apreensão do carro. Foi o argumento que a comandante do 9º Batalhão da PM em Marília, tenente-coronel Márcia Cristal, usou para afastar o sargento das ruas.
O segundo ponto investigado é a influência do telefonema da vereadora para que a comandante, de forma sumária e imediata, determinasse o afastamento do sargento das ruas.
Na conversa, além de reduzir a autoridade do policial, com a expressão “o que você está achando que você é?”, a comandante ainda reforça que a dona do carro “é uma vereadora”, o que provocou revolta nas redes sociais.
A Polícia Militar deve investigar também a origem e o vazamento do áudio, no qual a própria comandante evidencia a influência política em sua decisão.
Bancada da bala
Em postagens nas redes sociais, policiais e ex-policiais que atuam na política tem ajudado a alimentar a repercussão do caso, com vídeos de apoio ao sargento.
A suposta tentativa de “carteirada” da vereadora gerou ainda um festival de memes em grupos de mensagens, em alusão ao acesso privilegiado ao telefone da comandante para soluções de problemas, durante fiscalizações de trânsito.
Entenda
Após constatação de suposta irregularidade durante a blitz, o policial teria orientado a motorista de que seria possível efetuar o pagamento do licenciamento por aplicativo para evitar a apreensão.
Para tentar resolver o problema, a jovem teria ligado para familiares e provocado a intervenção da mãe vereadora.
A reclamação contra o procedimento do policial foi parar – ainda durante a madrugada – no alto escalão do 9º Batalhão da Polícia Militar do Interior.
Cristal teria ligado para a equipe responsável pela apreensão, para tentar intervir. Ao saber que o carro já havido sido recolhido, repreendeu o policial militar responsável pela patrulha de trânsito.
A vereadora Daniela, em nota ao MN, negou tráfico de influência e alegou que apenas telefonou “como qualquer cidadão” para saber se havia a possibilidade de, apenas, o documento ser apreendido e o carro liberado. Ela negou de forma veemente que tenha pedido ou sugerido punição ao policial.