Policial Militar de Marília que matou casal ganha liberdade
A Justiça de Ourinhos (97 quilômetros de Marília) concedeu a liberdade provisória, na tarde deste domingo (19), ao policial militar aposentado Washington Luís Sá Freire Paulino, de 55 anos, que confessou o duplo homicídio de um casal. Ele alega ter agido em legitima defesa.
O advogado que representa o policial alegou que ele não oferece nenhum risco à sociedade e nem ao andamento do processo. Washington passou menos de 24 horas no presídio militar Romão Gomes, em São Paulo.
Pesou na decisão – para que ele responda em liberdade – o fato de ter se apresentado após o crime e entregue a arma à polícia.
O advogado Claudio Márcio da Cruz Marvulle disse que a soltura foi feita mediante manifestação virtual, já que devido à pandemia, a Justiça não tem feito audiências de custódia com a presença dos presos.
“A liberdade dele não coloca em risco a ordem pública, nem a instrução processual. Não tem risco de furtar-se à aplicação da lei penal”, enfatizou Marvulle.
O também pedreiro Aparecido Barbosa, irmão de Júlio Barbosa, morto com três tiros, disse que a família foi surpreendida pela notícia. Em entrevista a uma emissora de TV da região, ele afirmou que não acredita que o irmão tenha atacado o policial sem motivo.
“Tem que ser apurado, porque tem muitas contradições. Pra gente, uma coisa muito estranha é que dizem que uma faca foi encontrada com o cabo na mão direta dele. Mas meu irmão era canhoto”, disse.
Os corpos de Júlio e Aline foram sepultados neste domingo. Segundo familiares, eles tinham a intenção de permanecer na chácara de Washington, após a reforma, trabalhando como caseiros.
Entenda o caso
Conforme a versão dos policiais militares que conduziram o ex-colega de farda até o Plantão Policial, Washington se apresentou na sede do batalhão de Ourinhos às 5h de sábado, acompanhado de um sobrinho, que seria dono da chácara onde o crime aconteceu.
Ele teria relatado que Júlio trabalhava como pedreiro em sua chácara, que fica próxima a propriedade do sobrinho, onde estaria pernoitando com sua companheira Aline.
Na noite de sexta-feira (17), o casal, o policial e também o sobrinho teriam participado de um churrasco com ingestão de bebida alcoólica no local. O autor do crime relatou que, após seu parente ter se retirado, teria ocorrido uma briga entre o casal.
Disse ainda, em seu relato no quartel de Ourinhos, que ficou do lado de fora da casa e o casal se recolheu primeiro.
Ao tentar entrar no quarto onde iria dormir – lado oposto do mesmo imóvel – teria sido atacado por Júlio, que estaria armado com uma faca.
Washington relatou ainda que efetuou um disparo no braço do pedreiro e entrou em luta corporal com ele, caindo sobre o colchão onde Júlio dormia com Aline. Durante a confusão, o PM disse ter efetuado mais dois disparos, que atingiram a região do tórax.
A mulher então, teria avançado contra o PM com uma segunda faca, momento em que levou três tiros, disparado da mesma arma, um revólver calibre 38.
Ainda conforme o primeiro relato do policial mariliense, ele teria tentado acionar socorro, mas no local não havia sinal de celular.
Por isso, ele fechou a porta e foi até a casa do sobrinho, contou o que havia acontecido e ambos se deslocaram até o quartel da PM de Ourinhos. Antes, Washington fez uma foto da posição em que os corpos estavam, para mostrar aos policias, no ato de sua apresentação.
Uma das situações que será alvo da investigação é a posição em que os peritos encontraram Aline. A cena do crime para perícia foi diferente da foto apresentada pelo policial.
Outros detalhes, como o estado de conservação e o tipo de faca na mão de Júlio e próximo ao corpo da mulher também chamaram a atenção.
Diferente dos outros utensílios encontrados na casa, as facas eram novas e seriam de modelo usado para caça. Uma das lâminas estava (com o cabo) encostado na mão de Júlio e a outra entre o corpo de Aline e a parede.
Já na foto apresentada pelo PM, a arma branca que seria atribuída à mulher, estava perto do corpo, sobre a cama.
O médico legista também informou, após exame em Washington, que o policial não apresentava lesões visíveis que comprovem em um primeiro momento a versão alegada por ele.
O caso deve ter desdobramentos nos próximos dias. Laudos da perícia, nos corpos e também no local do crime, podem trazer novas revelações.