PicPay pede registro para IPO na Nasdaq
A carteira digital PicPay, controlada pela holding J&F, da família Batista, protocolou o pedido para sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). A operação deve acontecer na Nasdaq, bolsa de valores norte-americana que reúne empresas de tecnologia.
Não foi divulgado o volume de recursos a ser captado nem a quantidade de papéis que será vendida. A empresa, porém, disse que usará os recursos captados para se fortalecer ante os concorrentes – dos grandes bancos às plataformas de mídia social, passando por empresas de maquininhas.
Ao chegar à Nasdaq, o PicPay se juntará a PagSeguro e Stone, outras duas empresas brasileiras de pagamentos que abriram capital na Bolsa norte-americana. Na Nasdaq, a Stone vale US$ 20,7 bilhões, e a PagSeguro, US$ 14,7 bilhões. A Cielo, negociada na B3, vale R$ 9,9 bilhões. Em reais, a Stone vale mais do que o Banco do Brasil, avaliado em R$ 86,2 bilhões.
O caminho do PicPay para o IPO foi antecipado pelo Estadão/Broadcast ao longo do primeiro trimestre. Fazem parte do sindicato de bancos que realizam a operação o BTG Pactual, o Bradesco BBI, o Santander e o Barclays. Bank of America e Citi deixaram o grupo no começo de abril, conforme mostrou o Broadcast.
O PicPay afirma no documento enviado à US Securities and Exchange Comission (SEC, a xerife do mercado norte-americano) que utilizará os recursos provenientes da oferta para financiar possíveis fusões e aquisições e outras vias de crescimento. A empresa vai emitir novas ações que serão oferecidas ao mercado, mas ainda não definiu o tamanho desse lote. Essas ações serão de classe A, e as ações de classe B, que terão supervoto equivalente ao de dez ações de classe A e outros direitos exclusivos, não serão negociadas em Bolsa.
Atualmente, a J&F possui 95,27% do capital do PicPay. Outros 3,33% estão nas mãos de Anderson Chamon, co-fundador da empresa e vice-presidente de tecnologia e produto, e 1,4% pertencem a José Antonio Costa Batista, sobrinho de Joesley e Wesley Batista, controladores da J&F.
Carteiras digitais
O IPO vai fortalecer a carteira digital da J&F em meio ao salto na digitalização dos meios de pagamento e diante da forte competição entre empresas tradicionais no setor, como a Cielo (de Bradesco e Banco do Brasil), a Rede (do Itaú Unibanco) e novatas, com o PicPay entre elas.
Relatório do Bank of America divulgado em fevereiro mostrou que, entre os aplicativos de fintechs brasileiras, o PicPay era o segundo mais utilizado, com 16 milhões de usuários ativos por mês. O líder era o Nubank, com 18,5 milhões. O líder de uso entre os bancos tradicionais era o app do Bradesco, com 13,1 milhões de usuários.
O PicPay afirma, no prospecto de lançamento dos papéis, que a atual agenda do Banco Central e do governo brasileiro de estímulo à concorrência, com ferramentas como o Pix e o open banking, deve fortalecer os novos competidores, especialmente as plataformas “disruptivas”.
“Acreditamos estar posicionados de forma única para aproveitar as oportunidades significativas que estão surgindo das dinâmicas e das mudanças na regulação ao setor bancário brasileiro”, escreve a empresa. O PicPay destaca que 81% dos ativos bancários do País estavam concentrados entre os cinco maiores bancos brasileiros em 2019, citando dados do BC. Por outro lado, a companhia diz que mudanças significativas já aconteceram no setor de pagamentos.
De acordo com a plataforma, os usuários registrados em seus serviços chegarão a 49,9 milhões no primeiro trimestre, alta de 28,6% em relação a dezembro. O número de usuários ativos chegará a 36,6 milhões, prevê o PicPay, um salto de 28,9% na mesma base de comparação.
Balanço a serviço do crescimento
No documento entregue à SEC, o PicPay afirma que o prejuízo do primeiro trimestre de 2021 deve ficar entre R$ 400 milhões e R$ 410 milhões, praticamente sete vezes superior à perda registrada um ano antes. De acordo com a companhia, a alta é resultado de maiores despesas com vendas, o que inclui a prática do cashback aos usuários. A expectativa é de que esses custos continuem a aumentar de maneira significativa este ano. A estratégia é aumentar a rede de clientes e a carteira de produtos, o que vai demandar abrir mão dos lucros.
A companhia afirma ainda que a competição no setor deve aumentar, especialmente com a entrada de novas tecnologias no mercado. Além disso, o tamanho das rivais pode ser um risco. “Alguns de nossos concorrentes, particularmente bancos que concedem crédito e empresas de mídia social, são substancialmente maiores do que nós, o que lhes dá vantagens que nós não temos”, diz a PicPay.
Em outro ponto, o PicPay afirma que embora tenha prejudicado a economia brasileira, a pandemia também acelerou a digitalização do setor de pagamentos, o que a beneficiou. De todo modo, afirma que efeitos adversos futuros da covid sobre o cenário para os negócios podem trazer impactos negativos.
Por enquanto, a perspectiva é de crescimento no uso do PicPay. O volume processado nas transações da plataforma também deve se expandir de forma significativa. O PicPay espera que o volume capturado em seus produtos (o chamado TPV) chegue a R$ 11,6 bilhões, salto de 213,5% em um ano. Este número inclui pagamentos feitos por meio da carteira digital, transferências e saques. Crescimento mais tímido deve ter a base de comerciantes cadastrados no PicPay. O total deve ficar em 1,3 milhão, alta de 8,3% em relação ao trimestre anterior.
Em 2020, o PicPay faturou R$ 83,2 milhões com atividades de sua plataforma financeira, e teve ganhos financeiros de R$ 306,3 milhões. No agregado das duas linhas, a plataforma viu o faturamento crescer 355% em relação a 2019. Mas o prejuízo foi junto: saltou de R$ 266,6 milhões para R$ 803,7 milhões.