Perfil do mariliense confirma favoritismo de Bolsonaro na cidade
Faltando poucos dias para o primeiro turno das eleições, o Brasil vive a expectativa para saber se a votação para presidente será resolvida já no próximo dia 2 de outubro ou se haverá um segundo turno, polarizado entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Se repetir a atuação conquistada há quatro anos, o capitão pode mais uma vez confirmar o favoritismo em Marília.
Na eleição de 2018, Jair Bolsonaro, que na época integrava o Partido Social Liberal (PSL), conquistou 81.202 votos no primeiro turno em Marília. Um total de 66,77% dos votos válidos na cidade. Em segundo lugar ficou Ciro Gomes (PDT) com 11.287 votos (9,28%), que neste ano tenta novamente se eleger. O terceiro colocado foi Geraldo Alckmin, com 10.583 votos (8,70%), que era do PSDB e agora está no PSB, na chapa com Lula. Fernando Haddad (PT) conseguiu garantir apenas 9.865 (8,11%) votos válidos na cidade.
No segundo turno, novamente o atual presidente levou a vantagem. Bolsonaro recebeu 94.124 votos (80%), contra 23.536 (20%) de Haddad, que hoje disputa o Governo do Estado de São Paulo.
Não existe um fator único para a escolha da população mariliense no atual presidente, mas um conjunto de componentes que levaram o eleitorado a optar por Bolsonaro em Marília. Um deles foi o sentimento antipetista que reinava na época.
Com experiência nas áreas de História Econômica e Economia Política e Política Internacional, o professor Marcos Cordeiro, da Unesp de Marília, diz que para descobrir o real motivo seria necessário fazer uma pesquisa na cidade. Assim, seriam estabelecidos os parâmetros para embasar uma análise mais profunda. Contudo, o especialista destaca que não existe apenas um fator.
“Temos a característica de uma cidade do interior, que é tradicionalmente mais conservadora. Tem ainda o componente religioso e da própria elite local, como ela lidera aqui a população de forma geral. É difícil ter um elemento central, mas com certeza um pouco de cada um desses [elementos]”, diz Cordeiro.
O professor também destaca a característica da economia local, com um setor de serviços muito forte, sem uma classe trabalhadora minimamente organizada para influenciar politicamente a população.
“Em Marília temos uma classe fundamentalmente trabalhando em serviços e pequenos comércios. Muitos funcionários trabalhando junto com o patrão acabam perdendo a própria consciência social. É um mix disso”, explica.
As estudantes Luani Ramalho de 21 anos e a colega, que prefere não se identificar, declararam o voto em Jair Bolsonaro (PL). As duas contaram que se sentem representadas pelo atual presidente.
“Eu sou a favor do Bolsonaro, pois ele representa os meus princípios, representa as minhas ideias. Para mim é até surpreendente esse apoio que ele recebeu na última eleição em Marília, por ser uma cidade de estudantes. Não esperava essa quantidade de votos nele. Hoje em dia, a tendência do jovem é votar em gente mais liberal, para ter acesso ao que eu não concordo, como as drogas, que o Bolsonaro não apoia. Vejo que os pais estão podendo escolher pelos filhos”, diz a segunda jovem.
Luani Ramalho compartilha do mesmo pensamento. A estudante conta que votou no atual presidente na última eleição e pretende votar novamente. Ela acredita que as pessoas passaram por um período de lavagem cerebral durante os anos de governo do PT.
“Viemos de um período de lavagem cerebral de 16 anos, que mudaram todos esses princípios. Vejo que o Bolsonaro tem vontade de fazer o trabalho, mesmo estando em uma posição em que muita gente promove fake news, mudando o que ele falou. Passamos por uma pandemia, por crise global, financeira e de saúde, mas ele fez muito. Conseguiu concluir a transposição do rio São Francisco e abaixar o preço da gasolina”, afirma Luani.
A estudante também se mostra a favor do agronegócio, que segundo ela, é o que move o Brasil e não pode parar. Luani ainda enaltece o livre arbítrio com Bolsonaro, que teria suas falas distorcidas, mas permite que isso continue nas mídias. Ela acredita que um governo do PT não daria a mesma liberdade para a população.
“O outro projeto político, que seria do PT, se você for ler a pauta dele, fala claramente que vai proibir. Não vai poder falar sobre ele e sobre o governo. Vão excluir e mandar para fora do Brasil. Vejo como algo muito intolerante”, diz a estudante.
Para o professor doutor Jair Pinheiro, que ministra aulas de Ciência Política, todo fenômeno político-eleitoral é multifatorial. O especialista afirma que a votação do presidente em Marília não foi diferente e destaca que a disputa havia sido mais equilibrada nas eleições de 2006 e 2010.
“O sucesso do governo Lula no combate à pobreza naquela ocasião neutralizou o antipetismo, que é uma narrativa antiga que vem sendo construída desde a década de 1980, com altos e baixos neste longo período. Em 2018, o antipetismo tornou-se avassalador, devido à cobertura acrítica da Lava Jato pela imprensa corporativa, o que hoje está claro, depois que todos os processos foram anulados por insuficiência de prova e a devassa feita nas contas da família não revelou malas de dinheiro nem patrimônio incompatível com a renda declarada”, comenta o professor.
Pinheiro acredita que, no cenário atual, o antipetismo deve recuar e o presidente pode não repetir o mesmo desempenho de 2018, justamente porque esses fatores, segundo sua análise, embora ainda presentes, perderam força.
“Devido ao fato de que governo não só fracassou – como era de se esperar – na sua promessa de melhorar as condições de vida do povo, assim como não dá explicações e evita investigações sobre transações financeiras e imobiliárias duvidosas, da família e de membros do governo. Esta atitude enfraqueceu a bandeira do combate à corrupção”, conclui o professor.