Pane expõe dependência mundial das redes de Zuckerberg
O dia de ontem foi de caos para muita gente: pouco depois de meio-dia, a queda das três maiores plataformas do império de Mark Zuckerberg – Facebook, WhatsApp e Instagram – atrapalhou o acesso das pessoas à comunicação, ao entretenimento e até afetou a capacidade de ganhar dinheiro. Além do aspecto de segurança na internet e do prejuízo para as ações do Facebook, a pane nesses serviços expôs a grande dependência do brasileiro desses aplicativos. O problema, porém, foi de proporções globais – diariamente, o Facebook tem cerca de 2 bilhões de usuários em todo o mundo.
Nos últimos anos, os brasileiros se habituaram a usar os aplicativos não só para falar com outras pessoas. Viraram meio também para tarefas como comprar ou vender mercadorias, pagar contas, marcar consultas ou acertar compromissos de trabalho. Em questão de minutos, tudo isso sumiu, como se não existisse mais na internet. “O que você fez no dia em que WhatsApp, Instagram e Facebook saíram do ar? A resposta diz muito sobre como estruturamos nossas vidas ao redor de um punhado de aplicações na internet”, afirma o diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS RIO), Carlos Affonso Souza (leia mais abaixo).
Mas o que está por trás da pane que durou mais de seis horas e causou tanta comoção e prejuízo? Do ponto de vista técnico, se tratou aparentemente de uma falha do tipo DNS – ou seja, um problema nos servidores da empresa. Assim, durante toda a tarde de ontem, quem tentou acessar algum dos três aplicativos, simplesmente não conseguiu ter acesso às funções. .
Quando isso acontece, segundo Rodrigo Izidoro Tinini, professor de Ciência da Computação do Centro Universitário FEI, serviços integrados na mesma plataforma tendem a enfrentar o mesmo problema, o que ajuda a explicar porque os três apps ficaram indisponíveis ao mesmo tempo.
A possibilidade de um ataque hacker foi descartada, por ora, por especialistas. “É difícil criminosos terem sucesso invadindo uma empresa como o Facebook, que está na vanguarda da tecnologia e não brinca com segurança digital”, diz Vivaldo José Breternitz, professor da faculdade de computação e informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Segundo o jornal The New York Times, o Facebook chegou a enviar uma equipe para reiniciar manualmente os servidores na sede da empresa, na Califórnia. Durante o dia, a empresa não apresentou explicações para a falha – se limitou a pedir desculpas e a dizer que estava investigando a falha.
Embora uma invasão aos servidores do Facebook pareça improvável, isso não quer dizer que a imagem da companhia, tão relevante no mundo todo, não tenha sido afetada. Tanto foi assim que os papéis do Facebook na Nasdaq, pregão de tecnologia de Nova York, tiveram queda de 4,89%, fechando cotados a US$ 326,23.
Isso quer dizer que, em apenas um dia, a fortuna de Mark Zuckerberg encolheu em US$ 5,9 bilhões, caindo para sexto lugar (ou uma posição) no ranking de bilionários da Forbes. Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, perdeu US$ 22 milhões e sua fortuna foi a US$ 1,9 bilhão.
Uma questão levantada por Breternitz é se, diante da pane e de terem ficado na mão durante boa parte do dia, pessoas físicas e empresas tenderão a usar menos os aplicativos do conglomerado de Zuckerberg. “No caso do WhatsApp, as pessoas já usam amplamente o aplicativo no Brasil, até para assuntos de trabalho, e não devem abandoná-lo tão rapidamente por outra plataforma. Até porque problemas similares de instabilidade acontecem com plataformas de todos os tipos, inclusive em apps de bancos”, diz Breternitz.
O problema começou por volta das 12h20 (horário de Brasília). Facebook e Instagram começaram a ter as operações normalizadas em todo o mundo só por volta das 18h45. Já o WhatsApp começou a voltar cerca de uma hora depois.
Dias ruins
No momento da pane, Antigone Davis, chefe de segurança do Facebook, concedia uma entrevista ao vivo ao canal americano CNBC. A executiva falava sobre pesquisas internas da companhia, vazadas nas últimas semanas, e para defender os algoritmos das plataformas.
Desde que o Wall Street Journal revelou estudos do próprio Facebook sobre o efeito da plataforma na saúde mental de adolescentes – e sobre o conhecimento da companhia de que seus algoritmos intensificavam questões como depressão e ansiedade -, a companhia tem sido alvo de um escândalo.
No último dia 30, Antigone foi ao Senado prestar depoimento em uma investigação sobre a proteção de crianças nas redes sociais. Hoje, quem falará aos senadores será Francis Hauger, ex-funcionária responsável pelo vazamento das pesquisas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.