Pandemia afeta casamentos e divórcios em Marília
A pandemia causou uma bagunça no número de casamentos e divórcios em Marília. Muitos adiaram o tão sonhado dia. Por outro lado, a convivência próxima pode ter sido um motivo para que as separações tivessem redução.
Dados compilados pelo Marília Notícia mostram que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 [antes da pandemia], foram registrados 1.709 casamentos. Os divórcios somaram 938, sendo 877 na forma judicial (Justiça) e 61 extrajudiciais (cartórios).
Em 2020 [com a pandemia], a cidade realizou 1.243 uniões (-27,3%), ante 633 separações judiciais (-27,8%) e 64 extrajudiciais (+4,9%).
No ano passado, de acordo com o Portal de Transparência do Registro Civil, Marília teve 1.378 casamentos (+10,9%), o que mostra uma pequena recuperação.
Números do Colégio Notarial do Brasil – Seção São Paulo (CNB-SP) apontam que, em 2021, a soma de divórcios extrajudiciais voltou a cair (61).
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), por outro lado, registou 644 separações judiciais (+1,7%) – leve aumento.
REFLEXO DA PANDEMIA
Ao MN, a psicóloga clínica Karina Ananda Titton diz que os dados da cidade refletem estatísticas do país decorrente da pandemia.
“Com relação aos casamentos, a situação da pandemia trouxe receio e insegurança em todos os âmbitos, inclusive o financeiro, que certamente fez com que os casais repensassem sobre o momento de viver o tão sonhado momento do casamento”, pontua.
Karina é especialista em terapia cognitivo comportamental e trabalha com terapia de casais em Marília. A profissional afirma que cresceu a demanda para terapia em casal no período.
“Acredito que os casais que buscaram auxílio profissional, neste período, foram aqueles que já tinham questões para serem tratadas, questões essas que apenas crescem com a pandemia”.
A convivência durante o isolamento foi fator que fez muitas pessoas desistirem de casar ou de seguir com o matrimônio, de acordo com Karina.
“Aceitar as diferenças que o outro traz não é tarefa fácil. Não é raro encontrar casais que passam a ter problemas a partir das férias, enfermidades, aposentadorias, etc – situações que nos colocam em convivência constante. Quase todas as pessoas conhecem histórias de casais que namoraram durante anos e se separam logo após o casamento. Isso porque temos o hábito de criar a expectativa de que o outro deva funcionar como consideramos correto e isso não acontece, não o tempo todo”, explica.
“Durante o namoro, é como se pudéssemos ‘camuflar’ nosso jeito de ser, é como se usássemos uma fantasia, que pode ser tirada ao chegarmos em casa. Com o casamento, não é possível ficar fantasiado o tempo todo e esse processo é extremamente cansativo para ambos. É difícil aceitar que o outro não seja como desejamos, tenha opinião diferente, desejo diferente. A tendência do ser humano é considerar o ‘diferente’ como errado, o que acaba por gerar vários conflitos”, completa.
Um dos principais problemas entre os casais é a falta de comunicação, o que se intensificou com a pandemia, segundo a profissional.
“Costumo dizer que 99% dos casais que buscam a psicoterapia chegam por diversas razões. Ao investigarmos, descobrimos que o real motivo dos problemas é a dificuldade de comunicação. As consequências da pandemia, o isolamento social e as conversas virtuais intensificaram o problema. Existe uma grande diferença entre o que um fala e o que o outro entende. A não consciência desta diferença faz com que a comunicação entre os casais se torne disfuncional”.
Questionada se o aparente término da pandemia está fazendo a situação voltar ao normal, a psicóloga afirma que sim. “As estatísticas nos mostram essa normalidade retornando. Mesmo com as readaptações, a rotina e os compromissos fora dos relacionamentos, como escola, trabalho, lazer, etc. favorecem a pausa necessária [nas relações], para que as convivências sejam mais saudáveis. A tendência é que se tornem mais duradouras”, finaliza.