Pais de alunos não se sentem seguros para volta às aulas em Marília
Apesar do anúncio do governador João Doria (PSDB) que as aulas presenciais, nas redes pública e particular, devem voltar em outubro, pais de alunos e autoridades de Marília ainda não enxergam a possibilidade da retomada no cronograma proposto pelo Estado.
O plano prevê o retorno das aulas presenciais por etapas. A primeira delas começa no dia 7 de outubro, porém, somente se todo o Estado estiver na fase amarela por 28 dias.
Nos primeiros 14 dias da contagem, pelo menos 80% da população do Estado precisa estar vivendo nas regiões em fase amarela e nos 14 dias seguintes, 100% dos paulistas.
Outro requisito é que o mapa atualizado do Plano São Paulo, no dia 2 de outubro, confirme a estabilização das áreas na fase amarela ou verde.
O governo paulista diz ainda que as aulas só voltam – na data sinalizada – se as redes pública e privada já tiverem planejado seu retorno e estiverem organizadas para receber os alunos.
A partir de 8 de setembro, ainda de acordo com Doria, as escolas poderão ter atividades de reforço escolar, recuperação e atividades opcionais, desde que estejam em regiões que ocupem a fase amarela há 28 dias. Cada escola deve tomar a decisão de retomar essas atividades, respeitando o limite do número de alunos em sala de aula e protocolos sanitários.
Para o servidor estadual Cleber Barbosa Clarindo, pai de aluno na rede municipal, tanto o Estado quanto o município, devem considerar a possibilidade de retorno somente após a vacina. “O tempo perdido em relação ao aprendizado pode ser recuperado, as vidas não”, diz.
Ele afirma que é preciso compromisso com a vida também dos servidores e professores. Muitos têm comorbidades ou familiares com algum fator de risco. “Acredito que poderá haver um grande sacrifício em vidas humanas se decidirem pelo retorno de forma precipitada”, afirma.
Durante pronunciamento nesta sexta-feira (7), o prefeito Daniel Alonso (PSDB) afirmou que não existe previsão para retomada no município, embora ele acompanhe as atualizações do Plano Estadual para a Educação.
A primeira versão acenou com a volta às aulas presenciais em setembro, o que foi descartado rapidamente. Nas últimas semanas, o governo do Estado tem reforçado os argumentos para o retorno, mas afirma que não abrirá mão da segurança.
“Me parece ainda longe de uma definição (plano estadual). No que diz respeito às nossas crianças, nenhuma decisão vai ser tomada sem ouvirmos a comunidade, pais, professores e colaboradores da Educação”, disse Daniel.
O prefeito afirmou ainda que, mesmo após ouvir e respeitar a vontade da comunidade, vai submeter as propostas ao Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus.
“Os pais não se sentem seguros. A maioria, pelo menos, não enviaria seus filhos à escola”, garantiu Alonso.
Professores pressionam
Professores das redes de ensino pública e privada também não pretendem aderir ao calendário do governo de reabertura parcial das escolas para “aulas de reforço” em 8 de setembro.
Maria Izabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), afirma ainda que a categoria já cogita uma greve caso haja pressão do setor para o retorno dos profissionais.
“Não há nenhuma possibilidade de voltarmos agora, nem gradativamente. E quem tem que assumir essa responsabilidade é o governo ou a secretaria de educação, pelo menos com os alunos, já que não respeitam os professores”, comenta, afirmando que cerca de 30 a 40% dos professores poderiam aderir à paralisação. “Sempre fizemos [greve] por outras questões e dessa vez será pela defesa da vida.”
Para Maria Izabel, o governo estaria “mais preocupado com as escolas particulares do que com os filhos da classe trabalhadora”. Ela também aponta que, ao longo da pandemia, muitas crianças migraram da rede privada para a pública, “onde muitas escolas sequer têm água”.
Para Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SIEEESP), a flexibilização para a reabertura parcial de escolas em 8 de setembro favorece a rede privada, mas não chegaria a prejudicar alunos da rede pública. “Elas já investiram em protocolos, equipamentos e treinamento de profissionais, até porque o cliente não busca só a qualidade de educação, mas também a segurança.”
Ele afirma que o SIEEESP vai encaminhar uma orientação para que as instituições apliquem a retomada parcial com foco em alunos de 0 a 8 anos, os quais teriam apresentado mais dificuldade de adaptação ao modelo online. Mesmo assim, professores da rede privada também se mostram contrários a ideia de retomarem suas atividades.
Benjamin entende que “não dá para fazer tudo de uma vez”, mas acredita que qualquer reabertura possível já é um avanço a ser celebrado. “Muitas famílias ainda estão inseguras em mandar seus filhos de volta à escola, então precisamos respeitar, da mesma forma que temos outros que precisam trabalhar e vão ser ajudados ”
Essa abertura, ele reforça, será ainda mais positiva para a educação infantil, que tem sofrido com o crescimento de creches clandestinas, que não teriam preparação psicológica ou pedagógica, nem respeito às regras sanitárias. “Os alunos maiores já são um legado da pandemia, porque interagiram muito bem com as aulas online”, observa.
A tese pode ser verificada no ensino superior, onde a maioria dos alunos optou por continuar com o modelo online, que será aplicado em quase todas as instituições. “No geral, as universidades programam para voltar apenas com as aulas práticas e laboratoriais, que são impossíveis de serem feitas remotamente”, explica Rodrigo Capelato, presidente da Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil.
Até nessas aulas, que devem começar a partir da próxima segunda-feira, 10, universidades têm criado protocolos para evitar aglomerações, como o agendamento de uso dos laboratórios ou um esquema de “bolhas”, onde os alunos são divididos em blocos que estudam uma única disciplina ao longo da semana. “Dessa forma, se houver contaminação o impacto é muito menor e não precisaria parar a escola inteira.”