Pai de 27, Mr. Catra conta como cria os filhos: ‘Tem que ser macho’
Na casa de Wagner Domingues da Costa não existe silêncio. Ou melhor, nas casas. São duas – quase vizinhas -, em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio. Em uma delas, uma vez por mês rola uma festa só para juntar o povo todo. É criança correndo, adolescente falando ao telefone, gente que chega e que sai. Todos fazem parte do “clã” de Mr. Catra, que por sí só definiria muito bem o que é superlativo. O funkeiro de 45 anos não nega que ama essa gritaria e confusão em seu latifúndio.
Mas quando pisa em ambos os lares parece um rei. Seus 27 filhos vão chegando de mansinho, em ordem, em grupos pequenos por vez. Afinal, para encontrar o cantor é quase preciso marcar uma audiência. “Só tenho folga às segundas-feiras, assim mesmo quando não arrumo alguma coisa pra fazer. Este é um dia dedicado totalmente à família“, conta ele, com sua voz de trovão.
A voz, inclusive, é uma aliada na profissão e no comando dessa turma que não para de crescer. O último a aparecer foi o menino Esdras, de 3 anos, adotado pelo funkeiro. “Se está uma bagunça aqui na sala, basta ele chegar no alto da escada e falar qualquer coisa que tudo volta ao normal”, conta Thamara Domingues, de 20 anos, a quarta filha de Catra, que também trabalha ao lado do pai em sua produtora.
Ela conta que Catra é de conversar, mas que se os filhos saem da linha, pode esperar sermão e castigo: “Teve uma vez que eu, minhas amigas e primas fomos para um show dele e bebemos demais. Chegamos na frente do palco e ele percebeu que estávamos alegrinhos demais. Mandou o segurança dele levar a gente dali na hora e nos proibiu de ir ao show dele durante um período”, relembra.
Segundo os mandamentos de Catra, para criar tantos filhos a primeira regra é realmente gostar de ser pai. “Tem que ser muito homem para ser pai, tem que ser macho mesmo para assumir um filho. Fazer é muito fácil. Fazer e abandonar, mais ainda. Um cara que deixa seu filho é um cara que deixa de ser homem”, filosofa ele, que tem filhos biológicos e adotivos, além de sobrinhos que “pegou para criar” e de dois netos.
Na casa dos Domingues e outros tantos sobrenomes existem regras rígidas para que tudo funcione. Como em um exército, todos têm hora para dormir e levantar, tarefas domésticas, e obrigações. “É quase uma empresa. Quando havia só uma casa, tudo era colocado em um quadro negro e a gente obedecia mesmo. Só assim para dar certo”, conta a filha Thamyris.
Com as “crianças”, com idades que variam de 3 a 23 anos, ele se assume superprotetor. Mesmo longe, em viagens a trabalho, quer saber de tudo o que acontece. “Ele fica ligado no whatsapp, fala com as crianças por vídeo, dá um jeito. E chora quando se emociona”, entrega Silvia Regina Alves, a mulher “oficial” de Catra – ele também é “casado” com Laryssa Damasceno Souza – mãe de cinco dos seus filhos – há um ano. “O negão é duro na queda, mas as crianças sabem como dobrá-lo. E trabalha, viu? Porque para manter todas essas crianças em escola particular, com plano de saúde, duas casas, compras de supermercado que variam aí de R$ 2mil a R$ 5 mil por semana, tem que ralar muito. E tem gente que acha que somos ricos. Tem como ser rico com essa quantidade de filho para criar?”, pergunta Silvia.
Neste Dia dos Pais, Catra ainda não sabe se Silivia, que controla seu escritório e agenda de shows, vai ser camarada e lhe dar folga, mas pelo menos um almoço “com geral” está certo: “Não me arrependo de nada em relação aos meus filhos. Gostaria de ter mais tempo? Não. Porque o tempo que tenho com eles é o melhor que podemos ter. Quando estou em casa sou 100% deles”, afirma o cantor.
Esse modo de vida, digamos, peculiar, porém, não interfere na criação das crianças, segundo Mr. Catra. “Respeito é a base de qualquer família e isso temos de sobra”, garante ele, que se confessa um centralizador. Em casa e nos negócios: “Tenho muito orgulho de ver meus filhos trabalhando comigo. Que pai não gostaria de ter isso? Mas gosto que as coisas passem por mim, a última palavra é minha”, diz o funkeiro, que mostra com orgulho uma pastinha com todas as certidões de nascimento da prole: “Tudo aquilo que não provoca remorso é permitido. Ensino a eles o que é certo. Tudo o que é certo, pode. O que não é, não pode”.
O conceito amplo e até abstrato de certo e errado é seguido atentamente pela galera. Ao conversar com os filhos mais velhos, percebe-se que o pai é mais que um progenitor. É mesmo um ídolo. “Espero ser como ele, e não decepcioná-lo jamais. Meu pai é generoso, amoroso e tem um coração dos grandes. Não existe homem como ele”, derrama-se Augusto César, de 18 anos.
Se Catra leva sua vida poligâmica de forma muito natural, o mesmo não se aplica aos namorados e pretendentes das filhas. “Ele é ciumento. Para namorar em casa tem que ter uma ficha inteira de bons antecedentes”, brinca Thamara. Catra diz que só zela pelo bem-estar das meninas: “Que pai quer ver um filho sofrer? Eu não quero e não aceito. Então, quero saber muito bem sobre quem se relaciona com eles”.
Agora, se a rigidez surpreende, o mesmo não acontece quando se vê Catra com os dois netinhos. “Ser avô é algo inexplicável, é mais bacana ainda que ser pai. É ver a sua continuidade, a perpetuação dos seus ensinamentos. Eles podem tudo. Minha família é fruto de muito amor”, diz ele, com olhos cheios d’àgua.
Fonte: Reprodução EGO