Padres de Assis são demitidos sob acusação de abuso sexual contra seminarista
O Tribunal Interdiocesano de Botucatu, localizado em Assis, demitiu dois padres acusados de abusos sexuais, praticados contra um ex-seminarista. Os crimes teriam sido cometidos quando a vítima ainda era menor de idade.
No documento da demissão do estado clerical, consta que o processo penal administrativo contra os dois religiosos foi concluído e eles foram condenados pelo dicastério para Doutrina da Fé, o mais antigo dos 16 dicastérios da Cúria de Roma, um dos órgãos da Santa Sé.
Com isso, os processos são considerados concluídos e arquivados. Os padres já estavam afastados desde maio de 2022, quando houve a denúncia.
ENTENDA
O caso veio à tona em maio de 2022, mas os supostos crimes teriam ocorrido há 20 anos e foram denunciados em janeiro de 2021 ao Tribunal Interdiocesano de Botucatu, localizado em Assis. A vítima alegava que precisou passar por tratamento psicológico e psiquiátrico por causa do trauma.
O ex-seminarista encaminhou a documentação com a denúncia aos órgãos de imprensa de Assis e também a um blog de Marília. Na época, o Marília Notícia também teve acesso aos documentos.
Os padres apontados pela vítima continuavam atuando até os acontecimentos se tornarem públicos. Os fatos narrados na denúncia teriam ocorrido entre outubro de 2002 e o primeiro semestre de 2003.
O denunciante alega que tinha 16 anos na época, havia ingressado no seminário e acompanhava os padres em diversas celebrações.
“No outro dia ainda dormindo, acordei com o Pe. (…) ofegante forçando seu corpo sobre o meu (eu estava deitado de bruços), forçando minha cabeça contra o travesseiro com um dos braços, tapando minha boca com a mão e com a outra abaixando minha cueca e logo depois me penetrando com voracidade, como se ali não tivesse um ser humano de carne, com sentimentos e dignidade a ser ferido, apenas o objeto do seu desejo”, diz trecho do documento.
O ex-seminarista afirma que procurou um segundo padre para “direção espiritual”, já que estaria transtornado pelo ocorrido. Ele alega que o sacerdote o “ludibriou” e “disse que precisava de um mentor para estas descobertas, que o sexo era algo importante para a saúde do corpo e da mente, não era algo errado.”
O declarante conta que os dois passaram a sair juntos para “conversas e direções espirituais” e em certa noite tudo aconteceu.
“(…) ele foi me conduzindo com falas suaves, me dando um beijo e, quando me dei conta, estava na cama com ele em um quarto da casa paroquial da Catedral. Hoje sei que na verdade ele estava fazendo uso do que tinha dito nas direções espirituais para ir me conduzindo até que chegasse ao ato”, declarou.
A vítima também enviou carta ao bispo de Assis, Dom Argemiro de Azevedo. O ex-seminarista e diz que “foram anos de agonia, ideação suicida, medicamentos controlados e terapia. Tive que reformular constantemente a minha fé, pois questionava a todo tempo o Sagrado a quem eu servia com muito amor e entrega.”
No texto consta que um dos padres acusados teria ligado para a vítima após a denúncia e tentado o calar. “Na ligação, que durou 26 minutos, ele tentou me persuadir, me ofereceu uma ‘proposta concreta’ de sua parte, vulgo suborno, para que eu retirasse a queixa. Em nenhum momento negou as acusações que fiz, em nenhum momento me disse que eu estaria mentindo”, afirma.
O áudio e transcrição da ligação constam anexados ao processo de investigação.