Opinião | Reação do governo Daniel à pandemia é ruim
O governo do prefeito Daniel Alonso em Marília mostrou ineficiência diante de problemas vividos pela cidade.
Como o Marília Notícia mostrou em reportagem recente, a Prefeitura demorou mais de duas semanas para firmar um convênio para que o Laboratório São Francisco, único credenciado na cidade, realizasse testes em pacientes suspeitos de terem contraído o novo coronavírus.
A decisão, se tomada antes, provavelmente iria resultar em dados e informações vitais para fundamentar uma decisão, neste momento, de reabrir ou não o comércio de Marília.
A pergunta que surge é: Por que em 18 dias a administração municipal não conseguiu se organizar para efetivar essa contratação? O que faltou?
O governo alega que todos os municípios estão com dificuldades para adquirir os testes rápidos. Mas veja bem, não estamos falando deste tipo de teste, e sim o mais completo, que já era feito pelo laboratório local semanas atrás. Nesta fase em que vivemos, cada dia conta, cada dia faz a diferença para trabalhadores e empresários desesperados.
Enquanto o prefeito corta seu salário durante a pandemia, para ‘dar o exemplo’, a cidade continua tendo na prática e não somente no discurso, uma lenta reação à pandemia.
Sem dados confiáveis e com um número baixo de resultados até agora, Marília não consegue medir o alcance real da Covid-19 na cidade e mesmo estimar quando é possível relaxar o isolamento social.
Os testes em massa são considerados essenciais para identificar o ritmo das contaminações e municiar as autoridades de informações para que a reação venha na dose mais correta possível.
Ou seja, não é possível adotar políticas públicas eficientes no enfrentamento da doença sem os testes. Para piorar, além da quantidade ínfima, os resultados não têm saído de forma constante. Marília passou dois terços do mês de abril dependendo do abarrotado Instituto Adolfo Lutz, laboratório referência do SUS para todo o Estado, que não consegue entregar sozinho os resultados à medida que a pandemia avança.
O abandono da Secretaria da Saúde por Ricardo Mustafá, preterido por Daniel para disputar uma cadeira no Legislativo nas eleições de outubro, é outro fator que atrapalhou, sem sombra de dúvidas, o planejamento de uma ação estratégica contra a doença. Deixou dúvidas e situações inacabadas para o novo secretário Cassinho, que apesar de ser um homem íntegro e responsável, obviamente precisou se inteirar dos planos para depois agir. Mais uma vez, dias que fazem diferença.
A predileção de Mustafá pela eleição, inclusive, vale um à parte. Você confiaria seu voto em quem não pensa no púbico de maneira óbvia? Se realmente tivesse esse espírito, de servir a população, o ex-secretário ficaria no comando da pasta. Não há dúvida quanto a isto.
Para não reabrir o comércio, o governo local se ampara em uma liminar concedida pela Justiça, e provocada pelo Ministério Público Estadual, que obriga a Prefeitura de Marília a seguir ordens do governador, sob pena de multa diária no valor de R$ 100 mil.
Vale ressaltar que há espaço para discussão sobre qual decreto vale mais. Inúmeros juristas entendem que decisão recente do Supremo Tribunal Federal dá poder legal para os prefeitos tomarem as medidas que julgam necessárias em cada município.
Mas como o prefeito Daniel irá tomar alguma medida se não tem base para análise? Sem esses dados, simplesmente não consegue tomar decisões e fazer enfrentamentos.
A cidade depende de outras entidades, que levantam suas próprias posições. Obviamente Daniel está com medo de fazer algum movimento e usa a liminar como muleta. Se estivesse embasado, acionaria a Justiça para a reabertura ou defenderia abertamente a manutenção da quarentena.
O chefe do Executivo informou que o município recebeu um total de R$ 7,8 milhões em investimento para o combate à pandemia, vindos de recursos do Governo Federal, Governo do Estado, Vara Criminal de Marília e Câmara de Marília. Eu, como cidadão, quero ter certeza para onde vai cada centavo desse montante.
Se o governo municipal viesse a público para se explicar nos mínimos detalhes, talvez entenderíamos e eu pudesse escrever um texto mais condescendente. Mas não é isso que acontece. Como vamos resolver essa questão sem tantos achismos? Faltam números e detalhes sobre o que está sendo e o que será feito em nossa cidade. Falta organização e eficiência. Espero que melhore.
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Gabriel Tedde é editor do Marília Notícia