O surpreendente segredo revelado das plantas: e agora, veganos?
Lei implacável da natureza: tudo que tem vida, entre céus e subsolo, consome ou fornece energia. Come ou é comido.
Vírus, bactérias, parasitas e outros patógenos devoram corpos por dentro; criaturas das profundezas banqueteiam-se da sopa química que nasce das fendas oceânicas; animais vivem da energia armazenada em plantas e em outros animais.
Aliás, as plantas, em resumo, saboreiam a energia solar e os nutrientes sob a terra.
Tudo que chamamos de “alimento” é parte do corpo ou depósito de energia de algum outro organismo que obviamente preferiria manter para si mesmo.
As únicas exceções são os pólens das flores e as frutas.
A natureza é uma corrida armamentista: é a guerra da carne. Na verdade, da energia.
Vivemos tempos de declínio da violência pela crescente convicção de que animais não devem ser sujeitados injustificadamente à dor, ao sofrimento e à morte.
Inclusive, contamos com o ramo do direito dos animais nos dias de hoje.
Os veganos são exemplos desta nova postura, de que não se deve infligir sofrimento a um ser capaz de senti-lo: assumem o estilo de vida de acabar com toda e qualquer exploração ou crueldade contra os animais, seja para alimentação, vestuário ou qualquer outro propósito.
Diferentemente do que muitos pensam, não se preocupam somente em excluir os animais da suas dietas, mas também dos cosméticos que usam, das roupas que vestem, do uso para testes e para entretenimento.
Recebi do colaborador Roberto Forner Jr. a notícia de inusitada pesquisa publicada esta semana por cientistas da Universidade de Tel Aviv: plantas estressadas emitem sons semelhantes ao estouro de pipocas, em um volume semelhante ao da fala humana, mas em frequências além do alcance de audição humana e diferentes tanto em situações de normalidade quanto de esgotamento.
Intrigado, acessei a publicação, clique aqui. O áudio pode ser ouvido no meu perfil, clique aqui.
As plantas produziram menos de um clique no período de uma hora, em condições consideradas saudavelmente normais. Sob estresse, o número saltou entre 30 e 50 em um mesmo intervalo.
As informações foram analisadas e inseridas em modelos de inteligência artificial. Primeira conclusão: foi possível identificar as condições físicas (nível de desidratação e lesões) das plantas com base apenas nos sons emitidos.
Segunda: esses sons informativos também podem ser detectados por outros organismos.
Ou seja: plantas comunicam!
“Os resultados são potencialmente importantes porque outros organismos podem ter evoluído para ouvir esses sons e interpretá-los”, disse o professor Lilach Hadany, biólogo evolucionista e teórico da Universidade. “Agora estamos testando animais e plantas para ver se eles respondem.”
O trabalho abre caminho para a compreensão das plantas e terá forte impacto na indústria agrícola, além de alterar profundamente nossos comportamentos e nossas interações em relação ao meio ambiente.
Cientistas que as empregam como cobaias em testes de laboratório considerarão o fato de que elas interagem e se estressam. Fazendeiros se sensibilizarão quanto ao bem-estar dos vegetais. Nova classe de defensores e entusiastas debaterão repercussões éticas movidos pela empatia, pela razão e pela inspiração de outras revoluções por direitos difusos (como dos direitos civis, de gênero, da criança, do meio ambiente e do idoso).
Perguntas nascerão: como o mercado reagirá na tentativa de equilibrar tais direitos, mantendo-se mais eficiente, sem ser menos humano; o que fazer com a agricultura intensiva, se considerarmos que – a partir da prova de que as plantas se comunicam sob estresse – há tratamento cruel que remonta séculos do similar manejo de animais; como lidar com bilhões destas vidas – que agora sabemos infelizes – trazidas à existência para atender à demanda alimentar; como conduzir mudanças na economia e nos hábitos de consumo, encobertas até aqui pela reduzida curiosidade pela vida das plantas de produção?
Agora a você, caro vegano: como vai se comportar diante de sua restrição alimentar e de sua filosofia de vida?
#ficaadica: Shakespeare registrou que o orgulhoso homem vestido de uma autoridade momentânea, mais ignorante daquilo de que está mais certo – sua essência frágil como vidro -, usa tão fantásticos truques perante o céu que faz chorar os anjos.
Talvez a solução esteja mesmo no meio, no equilíbrio, não no radicalismo: continuemos rompendo os padrões da história – de que revoluções por direitos são feitas pela força, pelo confronto – e sigamos o debate saudável, plural e inclusivo típico dos urbanos e civilizados.
Sucesso. Sempre
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Ex-secretário do Meio Ambiente e Urbanista, Marcos Boldrin é coronel da reserva e ex-secretário da Administração