‘O que me chama a atenção é a necessidade da Turma do Bem existir’, diz Ana Massaro
Celebrados na sexta-feira (25), o Dia do Dentista e o Dia da Saúde Bucal são lembrados por ser dedicado àqueles profissionais especializados em devolver o sorriso, a saúde e a dignidade da autoestima a todos que os procuram em seus consultórios espalhados pela cidade.
Entre as centenas que atendem em Marília, há dezenas de abnegados em servir ao próximo coordenados pela cirurgiã-dentista Ana Carolina Massaro, coordenadora local da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Turma do Bem (Oscip tdb).
Maior rede de voluntariado especializado do mundo, com mais de 18 mil dentistas distribuídos em 12 países, o tdb atende gratuitamente jovens de 11 a 17 anos e mulheres vítimas de violência de gênero que tiveram a dentição afetada.
Finalista do título de melhor dentista do mundo de 2022 concedido pela Turma do Bem, Ana Carolina Massaro falou ao Marília Notícia sobre atuação dos voluntários, os atendimentos e a realidade da especialidade na cidade.
“Somos referência em saúde bucal, mas ainda assim o ideal seria ampliar o número de atendimentos odontológicos na rede pública”, afirma a dentista. “O número absurdo de desdentados se deve à falta de condições da população de pagar pelo tratamento”, aponta.
Nascida em Marília e caçula de um técnico em máquinas eletrônicas e uma dona de casa, Ana Carolina Massaro é formada em Odontologia pela Universidade de Marília (Unimar) e especializada em implante e prótese sobre implante pela Uningá, de Maringá (PR).
Atualmente ela representa o Conselho Regional de Odontologia (CRO) e a Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD) regional de Marília no Conselho Municipal de Saúde (Comus). Divorciada, é mãe de uma filha e tem como hobbies ler e degustar um bom vinho.
Confira abaixo entrevista completa:
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MN – Como a senhora conheceu a Turma do Bem?
Ana Carolina Massaro – Conheci a Turma do Bem em um Congresso de Odontologia, em 2009. Eu me cadastrei para atender voluntariamente jovens carentes, mas para o projeto acontecer, é necessário um coordenador. Como não tínhamos nenhum cadastrado aqui em Marília, assumi a coordenação. Hoje temos 75 dentistas voluntários em nossa cidade.
MN – A senhora já havia desenvolvido outras atividades voluntárias antes?
Ana Carolina Massaro – Nunca tinha realizado trabalho voluntário até conhecer a Turma do Bem.
MN – Que problemas dentários mais recorrentes a senhora tem encontrado nas bocas de jovens e mulheres atendidos por esta iniciativa?
Ana Carolina Massaro – Não existe uma prevalência. Encontramos todos os tipos de problemas nos jovens atendidos pelo projeto. Desde cáries simples como as mais avançadas, até já necessitando de tratamento de canal. Alguns precisando ser extraídos, bastante má oclusão que requer tratamento ortodôntico. Já nas mulheres, além dos problemas já citados, encontramos muitos casos de dentes fraturados ou até mesmo deslocados durante o momento da agressão sofrida.
MN – Que casos mais te chamaram a atenção?
Ana Carolina Massaro – O que me chama a atenção não é um caso em específico, mas sim o motivo da necessidade da ONG Turma do Bem existir. Ou seja, a falta de acessibilidade ao tratamento odontológico pela população em condições de vulnerabilidade social e o alto índice de violência contra a mulher.
MN – A Turma do Bem oferece atendimento gratuito. O quanto a senhora entende que o custo dos tratamentos dentários afasta as pessoas deste cuidado essencial com a própria saúde?
Ana Carolina Massaro – O custo de um tratamento dentário pode sim ser um impeditivo, por consequência da enorme desigualdade social existente.
MN – Quais outros públicos poderiam ser alcançados pelas iniciativas odontológicas voluntárias?
Ana Carolina Massaro – Como a demanda é grande, a Turma do Bem teve como propósito focar num determinado público. Com o Projeto Dentista do Bem, atendemos os jovens entre 11 e 17 anos por estarem próximos a iniciar um primeiro emprego. Já com o Projeto Apolônias do Bem, priorizamos mulheres vítimas de violência para devolver, além de saúde, a autoestima, para que elas voltem a viver.
MN – Como os poderes públicos poderiam contribuir no alcance e eficiência do tratamento dentário da população em Marília?
Ana Carolina Massaro – Considerando que a saúde é direito de todo cidadão, o ideal seria existirem políticas públicas mais eficazes direcionadas a promoção da saúde, principalmente a essa população mais carente atendida pelos projetos da Turma do Bem. Aqui em nossa cidade podemos até considerar que somos referência em saúde bucal, mas ainda assim o ideal seria ampliar o número de atendimentos odontológicos na rede pública.
MN – Várias empresas têm apoiado a Turma do Bem. Como a iniciativa privada poderia ajudar nestas e em outras ações da Odontologia em prol do cliente/consumidor?
Ana Carolina Massaro – As empresas privadas são nosso meio de sobrevivência. Elas ajudam financeiramente na manutenção dos funcionários da organização. Nós dentistas realizamos esse trabalho voluntariamente, mas para que os beneficiários cheguem até os consultórios é necessário um time bem treinado para fazer a seleção dos jovens e mulheres que serão atendidos, desde o encaminhamento e acompanhamento até a finalização do tratamento e desligamento do projeto.
MN – O Brasil já ultrapassou a marca de 400 mil dentistas registrados no Conselho Federal de Odontologia (CFO). Na sua opinião, por que, apesar de tantos profissionais, há 34 milhões de desdentados no Brasil, segundo o IBGE?
Ana Carolina Massaro – Esse número absurdo de desdentados se deve à falta de condições da população de pagar pelo tratamento. E ainda, o descaso em algumas regiões mais, em outras menos, do poder público com a saúde bucal. Há também a falta de informação e, de um modo geral, a falta de políticas públicas voltada à saúde bucal.
MN – Com tantos dentistas no mercado, por que ainda haveria espaço para outros profissionais?
Ana Carolina Massaro – Todo profissional que trabalha com dedicação e amor pelo que faz encontra espaço no mercado de trabalho.
MN – Na sexta-feira foi comemorado o Dia do Dentista. Que desafios a profissão ainda precisa superar na sua opinião?
Ana Carolina Massaro – A Odontologia teve avanços enormes em tecnologias. No entanto, ainda assim, na minha opinião, o maior desafio da nossa profissão talvez seja olhar e tratar nosso paciente como um todo, um ser humano que precisa de um tratamento, e não só um sorriso bonito.
MN – E por quais conquistas os dentistas abrem um belo sorriso?
Ana Carolina Massaro – Essa só posso responder por mim (risos). A melhor conquista de um dentista é quando o paciente abre aquele “sorrisão” ao final do tratamento! Nenhuma conquista material supera a demonstração de gratidão que nosso paciente nos dá, seja ele particular ou beneficiário de um projeto social.