Nove de julho, a rua, mudou de nome para homenagear revolução

Há exatos 93 anos, uma revolta popular deu início a um levante em território paulista contra o governo federal provisório de Getúlio Vargas (1930-1945). São Paulo abriu suas trincheiras contra o Brasil pela instalação de uma nova assembleia constituinte.
Naquele 9 de Julho, caíram os primeiros mártires da causa bandeirante – Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo – imortalizados pelo acrônimo MMDC. Depois, mais de mil outros paulistas, segundo as estimativas oficiais.
Entre os 713 que mereceram a honra perpétua do descanso sob o Obelisco de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, foram sepultadas as cinzas de dois moradores radicados em Marília: Vicente Ferreira e Nelson Spielmann.
Quando ambos se juntaram às tropas em 1932, Marília, que havia acabado de completar três anos de emancipação político-administrativa, ainda transitava em seus primeiros Fords, Chevrolets e charretes por suas vias de paralelepípedos.

Desenvolvida no entorno da estação ferroviária, a cidade tinha como principal caminho entre os lados “de baixo” e “de cima” da linha do trem a rua Minas Gerais, que “descia” ao lado da Santa Casa de Misericórdia de Marília, fundada em 1929.

De lá, vinham os pacientes que avançavam além da ferrovia e seguiam em frente pela rua Ceará até alcançar a avenida Sampaio Vidal e, se continuassem além, acessavam a rua Tamandaré até o Alto Cafezal.

A Revolução Constitucionalista não duraria mais do que dois meses, três semanas e dois dias, e seria encerrada em 2 de outubro de 1932, após a rendição das forças paulistas, assinada em Cruzeiro, no Vale do Paraíba.
Apesar do fracasso no combate contra o governo federal, São Paulo tomou para si a data de seu levante – Nove de Julho – como referência de identidade histórica de seu povo, tal qual a Revolta da Farroupilha para os gaúchos.

Além da capital, cidades do interior e do litoral do Estado passaram a denominar vias e espaços públicos com a data, cujo feriado, comemorado nesta quarta-feira, só seria oficializado em 1997, no governo de Mário Covas (1995-2001).
Em Marília não seria diferente. Em 1934, o prefeito João Neves de Camargo denominaria como Nove de Julho a principal via transversal da cidade, de leste a oeste e vice-versa, resumindo os três nomes vigentes na época em apenas um.
Os dois combatentes de Marília também seriam homenageados pelas mesmas vias políticas: Nelson Spielmann, em rua de acesso ao Centro, e Vicente Ferreira, como nome de avenida do primeiro hospital da cidade.

Os constitucionalistas, como foram chamados os paulistas em batalha, ainda seriam lembrados no monumento de um soldado com arma em punho, instalado na Praça Saturnino de Brito, outro combatente paulista perpetuado em frente ao Paço Municipal.
No curso das décadas que se sucederam a Revolução Constitucionalista de 1932, a Nove de julho consolidou-se como um dos principais corredores comerciais de Marília, interligando veículos e pedestres ao Centro da cidade.
Não por acaso, foi o endereço escolhido para instalação de uma das primeiras filiais no interior do Brasil da Mesbla, cuja loja de dois pavimentos atendeu sua clientela entre fevereiro de 1951 e dezembro de 1990. O prédio é ocupado pelo Shopping Atenas.

O Supermercado Pastorinho – onde hoje é o Torra-Torra – compartilhou sua calçada, onde fixava suas promoções do dia, com a parada principal, em fila, dos ônibus da extinta Empresa Circular de Marília que subiam a Nove de Julho.
Ainda hoje, a rua que homenageia todos os paulistas expõe algumas das mais antigas vitrines do comércio de Marília, como um dos principais caminhos para o mariliense que sai para batalha da vida do dia a dia.