Nome de urna esbanja criatividade e até ‘Japonês Preto’ é candidato
Se você não mora em Guaimbê (40 quilômetros de Marília), possivelmente não conhece o “Japonês Preto”. Mas quem vive lá, já não estranha faz muito tempo. Com seu apelido, o pedreiro Pedro Salu, 54 anos, quer uma vaga na Câmara Municipal.
Em Oriente – 19 quilômetros de Marília – a auxiliar de cozinha e ativista cultural Rosângela também encontrou uma maneira de garantir que não haverá dúvida nos santinhos e nem na urna.
Na cidade onde ela mora, “Rosângela Preta do Véio” faz todo sentido. Só acha engraçado quem é de fora. A explicação é muito simples, a candidata espera contar com uma ajudinha da popularidade do marido, Wilson Silva, o popular Véio.
“Em cidade pequena, ou você é de alguma coisa, ou você é de alguém. Todo mundo me conhece como a Rosângela do Véio, então sentamos e decidimos em família”, resume a candidata.
Mas tanto em Oriente, quanto em Guaimbê, o papo é sério e os candidatos garantem que têm propostas. “Japonês Preto”, que ganhou o apelido de colegas de serviço – evidente, pela autodeclaração de cor e os olhos puxados – diz que sempre quis ser vereador, mas não tinha coragem.
Se eleito, diz que vai lutar por transporte, para quem mora em um bairro sem serviço de ônibus. Já Rosângela quer fortalecer e criar projetos culturais. Ela e o marido são engajados na cultura Hip Hop e acreditam na necessidade de promover opções saudáveis à juventude.
Meu nome, minhas regras
Ser reconhecido nas urnas, com um nome ou apelido de até 30 caracteres, é um direito do candidato. Portanto, a criatividade e a batalha pelos votos é que mandam.
Em Álvaro de Carvalho – 41 quilômetros de Marília – um servidor público municipal não se importou nenhum um pouco com interpretações maldosas, para buscar sua vaga na Câmara. Por lá, José Carlos Assis Soares é conhecido como “Calote”, sem nenhum cunho pejorativo.
Se o mandato coletivo é uma nova tendência, em Lins (75 quilômetros de Marília), a candidata Natália Miazzo Pereira não quis deixar dúvidas. O eleitor que votar nela (e mais algumas pessoas) verá na urna que trata-se de um coletivo formado por mulheres, ao ler “Mandata coletiva de Mãos Dadas”.
Confirmando o que disse Rosângela, a Nega do Véio de Oriente, a dona de casa Josefa de Lima, que mora em Júlio Mesquita (35 quilômetros de Marília) quer uma ajuda da família. Por isso na urna, ela vai aparecer como “Zefinha Irmã da Betina”.
Em Marília
Ao menos dessa vez, em Marília, não houve tantas opções inusitadas. Mesmo assim, entre os 321 candidatos ao cargo de vereador, levantamento feito pelo Marília Notícia mostra que 170 (52%) não estão usando somente os nomes de batismo.
Mais da metade tem algum apelido, profissão, bairro de origem, variação no diminutivo ou aumentativo, titulação (como doutor) ou algum outro penduricalho para refrescar a memória do eleitor.
Em Marília, 17 candidatos são professores e incluíram essa informação na frente do nome. Outros sete incorporaram “da Saúde” após o nome.
Uma extensa lista de 61 optaram por apelidos, entre diminutivos, aumentativos, lugar de onde veio e, certamente, muitos indecifráveis apelidos de infância – que, se já foram motivos de bullying, deixaram de ser há muito tempo.
Na lista da Justiça Eleitoral há ainda outros nove profissionais liberais que querem ser reconhecidos como “doutores” – independente de título acadêmico.
Na campanha de 2020, em Marília, tem até um escritor que apostou no feito para ser lembrado, além de três religiosos e um jornalista, que optou por ver a profissão à frente no nome, na urna eletrônica.