Nelson Xavier deixa legado importante no Brasil
Sua última grande participação no cinema havia sido como o Almirante, no belo filme de Marcelo Galvão, A Despedida. Almirante é esse velho alquebrado. Na abertura do filme, faz um esforço extraordinário para conseguir amarrar o sapato. Almirante parece nas últimas, mas tem essa mulher que é um deusa – Juliana Paes. Ela o recebe com amor. Ele retribui com uma potência inesperada. Brinca – “Enquanto tiver língua e dedo, não me rendo.” Nelson Xavier foi guerreiro na arte e na vida. Enfrentou um câncer, assumiu e venceu grandes desafios. Faz parte da história do audiovisual brasileiro. Grandes filmes desde o alvorecer do Cinema Novo. Papéis importantes na TV, no teatro.
Nelson Agostini Xavier, seu nome completo, morreu na madrugada de quarta-feira, 10, em Uberlândia, interior de Minas. Tinha 75 anos. Sua filha, Tereza Villela Xavier, usou a página no Facebook para anunciar a morte do pai. “Lamento informar a quem possa interessar que meu pai, Nelson Xavier, faleceu esta noite. Seu corpo será transferido, celebrado e cremado no Rio de Janeiro, em cemitério ainda não determinado. Agradeço desde já as mensagens de apoio. Ele virou um planeta! Estrela já era. Fez tudo o que quis, do jeito que quis e da sua melhor maneira possível, sempre”, escreveu.
No Festival de Gramado de 2014, Nelson Xavier contou que, em 2004, fizera tratamento contra o câncer de próstata e estava livre da doença. Justamente naquele ano, recebeu o Kikito de melhor ator pelo filme de Marcelo Galvão – houve outro prêmio, de melhor ator latino, por O Testamento do Senhor Nepomuceno, em 1997. Foi sua despedida em alto estilo, mas o público talvez prefira se lembrar dele como Chico Xavier, no filme de Daniel Filho, ou pelas novelas.
Nascido em São Paulo, em 30 de agosto de 1941 – era virginiano -, chegou a cursar Direito, mas preferiu ser ator. Nos anos 1950, entrou para a Escola de Artes Dramáticas da USP e foi parar no Teatro de Arena. Participou de espetáculos históricos que revolucionariam o teatro do Brasil – Eles Não Usam Black-Tie, Chapetuba Futebol Clube, Gente Como a Gente e Julgamento em Novo Sol, de autores como Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho, Roberto Freire e Augusto Boal.
Em 1967, há 50 anos, a TV entrou em sua vida por meio do personagem Zorba, na novela de Janete Clair, Sangue e Areia. Vieram depois – Pedra Sobre Pedra, Irmãos Coragem, Senhora do Destino, América, Belíssima, A Favorita, Babilônia, etc. Mas foi nos especiais e nas séries que ele realmente se destacou – Lampião e Maria Bonita, de Paulo Afonso Grisolli, de 1983, sobre os últimos seis meses de vida da dupla de cangaceiros, fez história na TV e seu ‘Bonitão’ na versão de O Pagador de Promessas, por Tizuka Yamasaki (1988), não deveu nada ao de Geraldo Del Rey no filme de Anselmo Duarte vencedor da Palma de Ouro. Você pode duvidar, mas Xavier gostava de dizer que sempre foi tímido. Ao site Memória Viva, da Globo, confessou que morria de medo das antigas câmeras, muito grandes.
Tudo isso é história, mas Nelson Xavier, como grande ator brasileiro, é principalmente um homem de cinema. Os Fuzis, Os Deuses e os Mortos e A Queda, de Ruy Guerra; A Rainha Diaba, de Antônio Carlos Fontoura; Vai Trabalhar Vagabundo, de Hugo Carvana; Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto; Narradores de Javé, de Eliane Caffé; o citado Chico Xavier, que considerava seu maior papel, etc. Perfeito na criação de tipos populares, foi um impecável ator de linhagem em A Floresta Que Se Move, de Vinicius Coimbra, criando um integrante da classe dominante. Mas se fosse para escolher um momento, um papel, seria o genial duelo de sinuca entre o Russo e Babalu, Paulo César Pereio e ele, na obra-prima de Hugo Carvana.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.